ACN

Sahel a preocupante situação da região

Publicado em: fevereiro 26th, 2021|Categorias: Notícias|Views: 619|

A situação na região do Sahel é preocupante. Na entrevista abaixo, Maria Lozano, da ACN, fala com o bispo Laurent B. Dabire, da diocese de Dori, no norte de Burkina Faso. Houve alguma melhora na situação de segurança, garante o bispo, mas o terrorismo ainda está longe de estar sob controle e ainda mais de ser derrotado. Mas continua a ter um impacto profundo na vida das pessoas e da Igreja. A situação é ainda mais complicada pela pandemia, que está se mostrando persistente e imprevisível. “Estamos presos entre duas frentes”, explica Dom Dabire, lembrando que “a nossa esperança não será frustrada” (cf Rm 5, 5)

Como está a situação no país em geral?

A situação geral do país é grave, dada a crise de segurança e a pandemia do coronavírus, que afetaram profundamente a população. Estamos presos entre duas frentes. Felizmente, a incidência do coronavírus tem permanecido geralmente mais baixa na África, embora o aumento de casos seja preocupante. A consequência direta de ambos fatores é uma crise humanitária, tanto para os que foram desenraizados quanto para as comunidades que os acolheram. Apesar da resiliência da população, a situação é muito difícil na região do Sahel para as pessoas comuns, que vivem da precariedade e perderam os seus meios normais de subsistência.

Como é a situação na diocese de Dori? As coisas se acalmaram lá? Ou houve incursões mais violentas?

Após alguns meses de paz, de abril a setembro de 2020, o território da diocese, que corresponde aproximadamente à região do Sahel de Burkina Faso, sofreu pelo menos dez atentados terroristas, desde 10 de setembro de 2020 até os dias atuais. As pessoas continuam a ser obrigadas a abandonar as suas aldeias, quer por causa dos ataques, quer por causa das ameaças de serem massacradas se não o fizerem. No entanto, esses ataques diminuíram em número e estão causando menos mortes. Portanto, pode-se dizer que a situação de segurança melhorou, embora ainda seja impossível viajar em certas áreas do Shael, que permanecem perigosas devido à presença ou operação de grupos terroristas.

É possível que a Igreja, os sacerdotes, as religiosas e os catequistas façam o seu trabalho na diocese?

As paróquias de Aribinda e Gorgadji permanecem completamente isoladas e não há nenhuma atividade pastoral ali. Afinal nessas duas áreas, as paróquias centrais foram esvaziadas de cristãos e as aldeias por elas servidas, onde ainda restam alguns cristãos, estão inacessíveis devido ao perigo de transitar pelas estradas. A atividade do Djibo funciona a um nível mínimo, graças à presença de um catequista. Nas restantes pastorais, ainda abertas – nomeadamente Dori, Sebba e Gorom-Gorom – as atividades pastorais se limitam aos centros paroquiais. Aqui todas as atividades decorrem de forma regular, com alterações pontuais de horários e com as medidas sanitárias adequadas contra o coronavírus.

Vocês já tiveram cinco anos de insegurança. Como as comunidades de crentes se adaptaram a esta situação?

A diocese de Dori continua a funcionar e a garantir uma presença católica no Sahel, ainda que numa área menor e com dificuldade. Nossos sacerdotes organizam as missas, a catequese, os sacramentos e as reuniões pastorais diariamente. As religiosas, com exceção de duas comunidades fechadas, cuidam das demais atividades diocesanas, como a escola primária de Dori, a escola feminina Dori, o centro de acolhimento missionário Bom Pastor.

Também em Dori e o centro “Les Dunes” em Gorom-Gorom, que inclui um orfanato, uma maternidade, um posto de saúde e farmácia e quartos. Além disso, as irmãs ajudam nas atividades pastorais como a catequese, a liturgia, o apoio aos movimentos da Ação Católica e aos grupos e associações espirituais. Os catequistas se agrupam nas cidades principais das paróquias ainda em funcionamento e se dedicam à catequese nas línguas locais, à liturgia e, sobretudo, à animação das comunidades cristãs de base a que pertencem. A diocese também mantém contato com as outras dioceses do país e participa dos encontros nacionais.

Como os católicos estão lidando com uma situação tão difícil?

Nossos fiéis têm um grande espírito de perseverança e resiliência. Afinal eles continuam a viver sua fé, custe o que custar. Desde 2015, não ouvimos falar de nenhum caso de deserção, abandono ou apostasia. Os fiéis fogem do terrorismo, ao qual são incapazes de resistir, mas mantêm a fé. Mesmo quando os terroristas ameaçaram as pessoas, tentando forçá-las a se converter, eles não tiveram sucesso. As pessoas simplesmente fugiram, trazendo sua fé com elas. Em Gorom-Gorom e Sebba tem havido algum esfriamento por parte de alguns fiéis que, por medo dos ataques, já não vêm à Missa dominical. Isso também é perceptível no nível de algumas das outras atividades pastorais. Portanto, nossos agentes pastorais precisam encontrar estratégias para encorajar e apoiar esses membros mais fracos da comunidade. “A nossa esperança não será frustrada” (cf Rom 5, 5).

Como o senhor conseguiu celebrar o Natal e a Epifania neste contexto?

Nas três paróquias em pleno funcionamento, e também no Djibo, as Missas de Natal foram celebradas com alegria e por uma grande multidão de fiéis. Aliás no Domingo do Batismo do Senhor – dado que a Epifania foi muito cedo este ano – celebramos o Natal das Crianças em todas as paróquias, com a frequência habitual também de um grande número de crianças muçulmanas. No Djibo, onde tivemos que cancelar a celebração devido à situação particular que existia, as crianças muçulmanas clamaram por isso e fui forçado a reintegrá-lo. Comemoramos no domingo passado, 24 de janeiro, e correu muito bem. Três vivas para as crianças!

A conferência episcopal, da qual o senhor é presidente desde 2019, também inclui o país vizinho, o Níger. Que notícias o senhor tem do Níger?

Tenho poucas notícias de lá. Só sei que os ataques continuaram lá também, muitas vezes com um grande número de mortes. Afinal aí a insegurança, combinada com a pandemia, causou um abrandamento das atividades pastorais. Por isso também os dois bispos do Níger não podem participar nas nossas assembleias episcopais desde fevereiro de 2020.

Eco do Amor

última edição

Artigos de interesse

Igreja pelo mundo

Deixe um comentário

Ir ao Topo