Laos

LIBERDADE RELIGIOSA NO MUNDO
RELATÓRIO 2023

POPULAÇÃO

7.164.822

ÁREA (km2)

236.800

PIB PER CAPITA

6.397 US$

ÍNDICE GINI

38.8

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Religiões

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Disposições legais em relação à liberdade religiosa e aplicação efetiva

A República Popular Democrática do Laos é um estado comunista de partido único. A liberdade religiosa e de crença está consagrada na Constituição1 e nas leis do Laos.

A Constituição de 1991, revista em 2015, descreve detalhadamente os direitos das pessoas, incluindo a liberdade religiosa (artigo 9.º).2 Na prática, contudo, o estatuto da liberdade religiosa no Laos é em muitos aspectos semelhante ao do seu país vizinho, o Vietname, sem dúvida por causa da proximidade entre os dois partidos comunistas no poder que moldou a história, cultura e instituições políticas em ambos os países.

O quadro legal pode ser descrito como pedido e concessão, em que as organizações religiosas procuram a permissão das autoridades estatais para realizarem certas atividades e as autoridades seculares por sua vez concedem ou recusam os seus pedidos. Por exemplo, o artigo 43.º da Constituição garante o “direito e a liberdade de acreditar ou não na religião, desde que não sejam contrários às leis”.3 Mas os artigos 8.º e 9.º contêm limitações vagas a este direito, tais como a proibição de “todos os atos que criem divisão e discriminação entre grupos étnicos” e “religiões e classes de pessoas”.4 Estas disposições “têm sido utilizadas para justificar a interferência do Estado nas atividades dos grupos religiosos”.5 No cerne do quadro legal laociano que rege a religião está o que se poderia chamar de “alcance governamental excessivo”, no qual os funcionários públicos gozam de uma autoridade literalmente ilimitada para regular questões religiosas.6 Ao mesmo tempo, porém, durante o período em análise, parece ter havido algumas melhorias mensuráveis, na medida em que a liberdade religiosa é agora mais respeitada na lei e na prática.

Para além da Constituição, a religião no Laos é regulada por certas leis. Em 2002, foi adotado o Decreto 92 sobre Gestão e Proteção das Atividades Religiosas. Este foi substituído a 16 de agosto de 2016 pelo Decreto 315.7 Assinado pelo primeiro-ministro Thongloun Sisoulith, o novo decreto constitui uma melhoria relativamente ao Decreto 92, pois confere a todas as religiões um estatuto de igualdade perante a lei, tornando assim os regulamentos governamentais mais coerentes e transparentes, e definindo mais claramente os procedimentos através dos quais os grupos religiosos podem assegurar o reconhecimento oficial.8

No entanto, ambos os decretos pressupõem que o Estado deve continuar a controlar os assuntos religiosos do país. Por exemplo, o Decreto 315 confere poderes abrangentes ao Ministério do Interior para regular todos os aspectos da vida religiosa. Oficialmente, o decreto exige que os grupos religiosos procurem a aprovação prévia do ministério para quase tudo o que desejem fazer, tal como estabelecer congregações em novos distritos, modificar estruturas existentes, construir novas instalações de culto e organizar encontros religiosos. Ainda mais invasiva é a exigência de que, pelo menos uma vez por ano, os grupos religiosos apresentem ao Ministério do Interior os seus planos para todas as atividades programadas. Além disso, devem submeter os nomes dos seus líderes aos escritórios centrais e locais do ministério para “estudo, consideração e aprovação”, bem como obter a aprovação do ministério para atuarem em múltiplas províncias. Além disso, o artigo 5.º (n.º 2) do Decreto 315 dá ao Governo poderes abrangentes para supervisionar a governação interna e a doutrina de uma organização religiosa, uma vez que cabe aos funcionários do ministério determinar se os grupos religiosos são “coerentes com o núcleo da religião, os seus preceitos religiosos e os seus ensinamentos religiosos”.9

Globalmente, o Decreto 315 dá ao Ministério do Interior autorização geral para “restringir as atividades religiosas que entendam estar em desacordo com os costumes locais, políticas nacionais, estabilidade nacional, ambiente ou unidade entre grupos religiosos e étnicos”.10

O Governo reconhece quatro grupos religiosos: Budistas, Cristãos, Muçulmanos e Bahá’ís.11 Entre os grupos cristãos, as autoridades concederam reconhecimento administrativo apenas à Igreja Católica, à Igreja Evangélica do Laos e à Igreja Adventista do Sétimo Dia.12

No Laos, a filiação religiosa tende a seguir os limites étnicos. Cerca de 55% da população é etnicamente Lao e a maioria destes seguem o Budismo Theravada.13 A influência cultural budista é tal que, na prática, os monges e os pagodes budistas não estão sujeitos às mesmas restrições que os membros de outras religiões e outros locais de culto. A nível nacional, o Sangkharat, o Supremo Patriarca do Budismo no Laos, mantém laços próximos com os líderes políticos do país.

A comunidade que enfrenta os mais duros desafios à liberdade religiosa parece ser a comunidade protestante. A perseguição em curso aos protestantes ocorre sobretudo em aldeias remotas. A conversão ao Cristianismo pode provocar reações hostis de outros laocianos, que muitas vezes veem os Cristãos como ” culpados de trair as tradições budistas-animistas da sua comunidade”.14 A Lista Mundial de Vigilância de 2022 da Open Doors constatou que a situação não mudou muito para os Cristãos, apesar de haver menos detenções. O relatório observa que um número crescente de convertidos é forçado a sair das suas casas.15 Muitos cristãos pertencem à minoria étnica Hmong, “que combateu as forças comunistas sob a direção dos EUA durante a Guerra do Vietname”.16

Tendo em conta a contínua vulnerabilidade dos protestantes à perseguição, uma contribuição recente encorajadora para o quadro legal do país é a promulgação da Lei da Igreja Evangélica pelo Governo central a 19 de dezembro de 2019. A lei dá formalmente aos Cristãos o direito de realizarem cultos, pregarem em todo o país e manterem relações e comunicações com outros cristãos fora do Laos.17 Apesar disso, um cristão local comentou que “a polícia está sempre do lado das autoridades da aldeia e também de outros aldeões, pelo que não temos mais nenhum sítio para onde recorrer para pedir ajuda”.18

Incidentes
e episódios relevantes

Durante o período em análise, houve inúmeros ataques locais a minorias religiosas, particularmente a cristãos. Sithon Thippavong, um pastor da província de Savannakhet, no centro sul do Laos, foi libertado em abril de 2021, depois de ter cumprido um ano de prisão, uma vez que concordou em abster-se de pregar. Foi preso por violação do Decreto 315 e das suas chamadas “ligações a potências estrangeiras”, uma alegação baseada em grande parte nas suas viagens ao estrangeiro.19

Um segundo incidente ocorreu na província de Savannakhet em dezembro de 2021. A população local bloqueou e atacou a procissão fúnebre de uma família cristã, indignada pela sua prática de uma “religião estrangeira”.20 A sua casa foi subsequentemente incendiada a 9 de fevereiro de 2022 por uma multidão da aldeia. Apesar da pressão das autoridades, a família recusou-se a retirar os posts das redes sociais que destacavam o incidente.21

As autoridades locais do sul do Laos, que inclui a província de Savannakhet, exigem frequentemente que os Cristãos renunciem à sua fé ou sofram uma variedade de sanções. Cinco famílias que se recusaram a renunciar à sua fé cristã foram expulsas das suas casas no início de 2021 e ainda estavam à espera de reinstalação em setembro de 2021. Isto aconteceu apesar das promessas do Governo de que receberiam novas casas. Um cristão local declarou que aqueles “que renunciarem à sua fé serão deixados em paz, mas aqueles que recusarem terão de abandonar as suas aldeias, e as suas casas serão destruídas”.22

Um plano para construir uma estátua de 100 metros de altura do Buda ao estilo mahayana foi recebido com a oposição de monges e cidadãos que se queixaram de que a estátua era desrespeitosa da herança e identidade do Laos. Embora fosse erigida na Zona Econômica Especial (ZEE) da capital, Vientiane, e assim concebida para ajudar a atrair investimento estrangeiro, os residentes sentiram fortemente que “a identidade do Laos deve ser preservada”. Um residente queixou-se de que “não é apropriado construir um Buda ao estilo chinês”. Não compreendo por que é que eles querem construir um Buda chinês”.23

No dia 21 de janeiro de 2022, uma nova igreja católica foi dedicada ao Beato Paul Thoj Xyooj em Ban Nam Gnam, uma aldeia no distrito de Thulakhom (província de Vientiane), o primeiro mártir da comunidade étnica Hmong. Morto em 1960 por guerrilheiros comunistas, foi proclamado mártir pelo Papa Francisco em 2015.24

Durante o período abrangido por este relatório, várias comunidades religiosas minoritárias não puderam registrar-se junto do Governo. Parece que não foram registrados novos grupos religiosos.25

Perspectivas para a
liberdade religiosa

O Decreto 315, a Lei sobre a Igreja Evangélica, e a aparente intenção do Governo de estabilizar e regularizar o tratamento das minorias religiosas, sugerem que a liberdade religiosa no Laos estaria em uma trajetória positiva. Contudo, conseguir que os funcionários locais de cada da aldeia se conformem com as novas medidas é um desafio assustador, o que significa que as minorias étnicas e religiosas em áreas remotas podem esperar enfrentar perseguições periódicas e talvez graves em um futuro previsível.

O Governo continua lento no reconhecimento de grupos religiosos não registrados; além disso, as melhorias que ocorreram assentam frequentemente nas relações pessoais que as comunidades religiosas individuais cultivaram com determinados funcionários governamentais e não em uma reforma estrutural sistemática.

As melhorias observadas até agora são limitadas, frágeis e incertas, pelo que requerem um acompanhamento atento, e um encorajamento consistente para que possam ser sustentadas e expandidas. Até novas provas positivas, as perspectivas de liberdade religiosa são negativas e devem permanecer sob observação.

Notas e
Fontes

1 Lao People’s Democratic Republic’s 1991 (Rev. 2015), Constitute Project, https://www.constituteproject.org/constitution/Laos_2015?lang=en (acessado em 15 de junho de 2022).
2 Ibid.
3 Ibid.
4 Ibid.
5 Greenwalt, Patrick, “Country Update: Laos”, Comissão Americana da Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), maio de 2020, p. 2, https://www.uscirf.gov/sites/default/files/2020%20Laos%20Country%20Update_May_0_0.pdf (acessado em 15 de junho de 2022).
6 Ibid, p. 1.
7 “General Briefing: Laos”, Christian Solidarity Worldwide, 22 de março de 2022, https://www.csw.org.uk/2022/03/22/report/5619/article.htm (acessado em 15 de junho de 2022).
8 Greenwalt, Patrick, “Factsheet: Laos’ Decree 315”, in Comissão Americana da Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), setembro de 2021, p. 2, https://www.uscirf.gov/sites/default/files/2021-09/2021%20Laos%20Factsheet.pdf (acessado em 15 de junho de 2022).
9 Ibid, p. 3.
10 Greenwalt, Patrick, “Country Update: Laos”, op. cit., p. 3.
11 Gabinete para a Liberdade Religiosa Internacional, 2021 Report on International Religious Freedom, “Laos”, Departamento de Estado Norte-Americano, https://www.state.gov/reports/2021-report-on-international-religious-freedom/laos/ (acessado em 15 de junho de 2022).
12 Greenwalt, Patrick, “Country Update: Laos”, op. cit., p. 3.
13 Gabinete para a Liberdade Religiosa Internacional, op. cit.
14 “Laos”, World Watch List 2022, Open Doors, https://www.opendoorsusa.org/christian-persecution/world-watch-list/laos/ (acessado em 15 de junho de 2022).
15 Ibid.
16 Wisconsin Watch, “A struggle to be seen: Why Wisconsin’s Hmong American community continues to face discrimination”, Milwaukee Independent, 19 de maio de 2022, https://www.milwaukeeindependent.com/syndicated/struggle-seen-wisconsins-hmong-american-community-continues-face-discrimination/ (acessado em 15 de junho de 2022).
17 “Christians driven from their home in Laos”, Barnabas Aid, 25 de fevereiro de 2022, https://www.barnabasfund.org/us/news/christians-driven-from-their-home-in-laos/ (acessado em 15 de junho de 2022).
18 Ibid.
19 “Laotian pastor forced to promise he will not resume preaching”, UCA News, 19 de maio de 2021, https://www.ucanews.com/news/laotian-pastor-forced-to-promise-he-will-not-resume-preaching/92515 (acessado em 15 de junho de 2022).
20 “Persecuted Christian family face renewed pressure in Laos”, UCA News, 28 de março de 2022, https://www.ucanews.com/news/persecuted-christian-family-face-renewed-pressure-in-laos/96673 (acessado em 15 de junho de 2022).
21 Ibid.
22 Avary, Max; Finney, Richard, “Lao Christians formerly evicted from their villages still wait for new homes”, Radio Free Asia, 20 de setembro de 2021, https://www.rfa.org/english/news/laos/homes-09202021141639.html (acessado em 15 de junho de 2022).
23 “Laotians oppose plan to build Chinese-style Buddha statue in SEZ”, Radio Free Asia, 14 de setembro de 2021, https://www.rfa.org/english/news/laos/chinese-buddha-09142021223131.html (acessado em 15 de junho de 2022).
24 “Laotian Catholics honor first lay martyr with new church”, UCA News, 21 de janeiro de 2022, https://www.ucanews.com/news/laotian-catholics-honor-first-lay-martyr-with-new-church/95808 (acessado em 15 de junho de 2022).
25 Gabinete para a Liberdade Religiosa Internacional, op. cit.

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