Após a tomada de Ramadi, no Iraque, a expectativa é de novos ataques no norte da Síria

As ofensivas do Estado Islâmico no Iraque no último domingo podem representar uma onda ainda maior de ataques do grupo extremista pelo Oriente Médio de forma definitiva. Pelo menos, esta é a mensagem que a organização internacional de caridade pastoral Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) recebeu da freira católica armênia, Irmã Annie Demerjian, num apelo enviado na última sexta-feira, dois dias antes dos militantes tomarem o controle total de Ramadi.

A religiosa, que há anos está em serviço em Alepo, na Síria, cidade contestada violentamente pelos rebeldes e pelo governo, afirmou que “as pessoas estão com medo de combates pesados e milhares de pessoas já deixaram a cidade, tanto cristãos, quanto muçulmanos. Estamos nos preparando para o pior, e muitos já estão procurando refúgio na região costeira, ou no chamado ‘Vale dos Cristãos’. Não se sabe quantas pessoas já fugiram, mas há milhares delas. Esta situação já é percebida nos bairros cristãos, que estão ficando completamente vazios”, diz a Irmã Annie Demerjian.

Nas últimas semanas, uma grande parte das igrejas cristãs de Alepo foram seriamente danificadas, inclusive a igreja armênia ortodoxa e a maronita. Na sexta-feira, 8 de maio, a catedral melquita da Dormição de Nossa Senhora foi muito atingida pelas bombas e não tem mais condições de ser usada para a liturgia. A AIS soube pelo Patriarcado Melquita de Damasco, que estes bombardeios são obra de grupos oposicionistas islâmicos radicais, inclusive do ISIL, o “estado islâmico” e da Frente Al-Nusra.

Na Sexta-Feira Santa para as Igrejas Orientais, 10 de abril, o bairro predominantemente cristão de Suleymaniya recebeu um bombardeio pesado por parte dos rebeldes. “Os cristãos de Alepo ainda estão em estado de choque até hoje, de tão forte que foi o ataque. O povo se assusta com qualquer barulho mais alto. Muitas pessoas estão vivendo em meio às ruínas. Uma mulher encontrou seus filhos desacordados sob os destroços de sua casa, mas felizmente eles sobreviveram. Porém, outros perderam suas vidas neste ataque. No Domingo de Páscoa, enterramos vários de nossos irmãos e irmãs. Tínhamos de correr de um funeral para outro. Uma família inteira foi dizimada, outra, perdeu sua mãe e dois filhos. A força da explosão foi tamanha que um dos filhos foi arremessado para longe da casa. Seu corpo inanimado foi encontrado pendurado nos fios elétricos, perto de um poste.  A mãe e o outro filho ficaram reduzidos a pedaços pela bomba. Para enterrá-los, os parentes ainda estão procurando partes dos corpos entre os destroços da casa. Vocês conseguem imaginar o sofrimento que essas famílias passam? Aqueles que sobreviveram ficaram com feridas interiores profundas na alma. Infelizmente, estamos nos acostumando com os bombardeios e com a morte”, relatou a religiosa.

A AIS tem estado especialmente ativa na ajuda aos cristãos do Oriente Médio nessa crise. Desde o final de 2011, a organização já doou cerca de 37 milhões de reais para ajudar os cristãos da Síria e do Iraque. E recentemente, a AIS enviou mais 6 milhões de reais para ajuda humanitária, que foi utilizada também para ajudar os cristãos de Alepo.

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