Falar da história recente do Sudão do Sul exige contenção de palavras. Não se pode dizer tudo. Não se pode explicar tudo em detalhe. É muita violência para se poder escrever. Ninguém está a salvo. Nem as igrejas ou mesquitas são locais seguros de abrigo. Há relatos, arrepiantes, de pessoas mortas quando procuravam refugiar-se em igrejas ou capelas. Há aldeias que foram pura e simplesmente dizimadas, com as mulheres e as jovens a serem estupradas, enquanto os homens eram levados, à força, para se converterem em soldados.

Nyakouth nunca mais vai esquecer o dia em que bandos armados entraram na sua aldeia e queimaram tudo. Ela escapou porque conseguiu se esconder. Hoje vive num campo de refugiados das Nações Unidas, em Bentiu. Recordar o que aconteceu é sempre um esforço que a deixa em lágrimas, derrotada, impotente. “Não pouparam ninguém, nem crianças nem os idosos. Ninguém.” O número de mulheres violentadas ou de rapazes recrutados à força por bandos armados tem uma dimensão catastrófica no Sudão do Sul.

Maria Lozano, vice-diretora de comunicação internacional da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), esteve no Sudão do Sul, no auge da guerra civil, acompanhando os trabalhos da Igreja local no socorro às populações mais necessitadas. Nos seus muitos contatos, ela apercebeu-se bem da real dimensão da tragédia em que está mergulhado o Sudão do Sul. A guerra, por ser tribal, ganhou uma violência inexplicável que está a deixar cicatrizes em todos os lados, em todos os rostos. Na vida de todos. “Esta situação, este conflito tribal, nos leva à palavra ‘genocídio’, porque realmente há uma situação de violação dos direitos humanos e de graves ataques à humanidade… ‘O único motivo para te matar ou te dar um tiro é porque pertences a uma etnia diferente da minha’” – explica Maria Lozano.

Maria Lozano, durante as semanas que esteve no Sudão do Sul, escutou os relatos de dezenas e dezenas de pessoas. Em todos, há uma palavra comum: medo. “Ouvi muitas histórias que violam os direitos humanos. As pessoas simplesmente têm medo, medo de serem assassinadas em qualquer ponto da floresta onde possam estar escondidas ou atravessando algum rio.”

Veja as outras matérias sobre este Especial Sudão do Sul
1 Um país sem paz
2 Estupro permitido
3 Ninguém está a salvo
4 “Não posso abandonar meu rebanho”
5 Com uma faca ao pescoço

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Um comentário

  1. Marta 16 de março de 2016 at 16:59 - Responder

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