Na segunda-feira de manhã (08 de maio), a Fundação Pontifícia ACN consagrou três locais de construção nas aldeias de Bartella, Karemlash e Baghdeda, em Qaraqosh, para a reconstrução das primeiras 105 casas pertencentes a famílias cristãs internamente deslocadas. Os proprietários das casas receberam cada um uma pequena oliveira para que estas possam crescer em seus jardins como um símbolo de paz e reconciliação.

Tão frágil como uma oliveira jovem, tão imperceptível quanto a semente de mostarda da parábola dos Evangelhos – começa assim a reconstrução das primeiras casas de 105 famílias cristãs nas aldeias de Bartella, Karemlash e Baghdeda, em Qaraqosh, na Planície de Nínive. O trabalho no primeiro canteiro de obras em Baghdeda já começou no dia 11 de maio.

A fonte dessa nova esperança são as igrejas localizadas nas aldeias que foram saqueadas e destruídas pelo grupo autodenominado Estado islâmico (EI). Os ataques perpetrados pelo EI na planície de Nínive em agosto de 2014 forçaram cerca de 130 mil cristãos a deixar suas casas e a encontrar refúgio no Curdistão. Dia 8de maio, pela manhã, Philipp Ozores, secretário geral da ACN, presenteou com oliveiras 35 famílias sírio-ortodoxas na pequena igreja de Mor Shmuni, em Bartella. A reconstrução de suas casas, que ocorrerá ao longo dos próximos dias, foi organizada pelo NRC (Comitê de Reconstrução de Nínive, traduzido da sigla em inglês). A comissão é composta por representantes das igrejas Ortodoxa Síria, Católica Síria e Caldeia, bem como três consultores nomeados pela ACN e tem o trabalho de planejar a reconstrução de quase 13.000 casas cristãs destruídas por EI nas Planícies de Nínive.

Em Bartella, 1.451 casas pertencentes a famílias ortodoxas sírias têm de ser reconstruídas. Setenta e cinco dessas casas foram completamente destruídas, 278 queimadas e 1.098 parcialmente danificadas. Os serviços de água e eletricidade só puderam ser restaurados há poucos dias.

Um recomeço

Em sua homilia durante a cerimônia de apresentação da oliveira, o Arcebispo Timothaeus Mosa Alshamany, da Igreja Ortodoxa Síria de Antioquia, que também é prior do mosteiro de São Mateus, não fez segredo das dificuldades dessa empreitada. “Há alguns meses, estávamos à espera da libertação das nossas cidades. Hoje, estamos à espera de reconstrução. Voltar para nossas cidades é ainda mais difícil do que as ter deixado.”

Após a cerimônia em Bartella, o pequeno “comboio de esperança” continuou até Karemlash. Ali, Philipp Ozores; Pe. Andrzej Halemba, responsável pelos projetos da ACN no Oriente Médio e presidente interino da NRC; Padre Salar Kajo, responsável pelos esforços de reconstrução nas aldeias caldeias de Tel Skuf, Bakofa, Badnaya, Tel Keppe e Karemlash; apresentaram oliveiras a mais 20 famílias. A cerimônia ocorreu na igreja caldeia de Mar Addaii, que também foi parcialmente queimada pelo EI.

“Olhamos a dor nos olhos”

Após a cerimônia, Habib Yuossif Mansuor, de 76 anos, lembrou o sofrimento de ter que deixar sua própria aldeia. “Nós olhamos a dor nos olhos. Fugimos depois da meia-noite, deixando nossas casas e todos os nossos bens. Eu tinha uma casa de dois andares aqui em Karemlash, ela foi bombardeada. Nós todos falamos a mesma língua, e assim nós gostaríamos de retornar a nossas cidades nas planícies de Nínive como irmãos, como se tivéssemos um só coração. Queremos viver e trabalhar juntos, como se fôssemos um só corpo. Agradecemos a Deus e à ACN”. Em Karemlash, 754 casas precisam ser reparadas. Dessas, 89 foram completamente destruídas, 241 foram queimadas, e 424 foram parcialmente danificadas. O abastecimento de água está em funcionamento novamente desde o dia 8 de maio: um pequeno, mas importante sinal de esperança.

A última das cerimônias da oliveira ocorreu em Baghdeda. Lá, 6.327 casas pertencentes a cristãos católicos sírios precisam ser reparadas. Dessas, 108 casas foram completamente destruídas. Há ainda 400 casas pertencentes a cristãos ortodoxos sírios (dessas, apenas 7 casas foram completamente destruídas). No entanto, não há falta de entusiasmo ou habilidades: 40 engenheiros “assinaram” para reconstruir a cidade e cerca de 2.000 trabalhadores estão prontos para começar a trabalhar. A eletricidade está lentamente sendo devolvida a toda a cidade.

Felizes por terem a ACN por perto

Na Catedral de Althajra, que é consagrada à Imaculada Conceição e foi incendiada por EI – para que a fumaça confundisse aeronaves militares americanas – Philipp Ozores e Arcebispo da Igreja Católica Síria de Mosul, Kirkuk e Curdistão, Yohanna Petros Mouche, presenteou 50 famílias com oliveiras. O arcebispo teve que esperar que os aplausos terminassem várias vezes antes de poder continuar com a homilia na catedral. Ele ressaltou que a unidade era o único meio de atingir o objetivo compartilhado. “Não queremos prestar atenção às vozes daqueles que nos desencorajariam porque Eles querem evitar a reconstrução. Estamos de acordo com nossa decisão de voltar, apesar detodos os desafios que nos esperam. Cristo é a nossa torre forte que nos dá esperança. Devemos perseverar, porque este é o nosso solo e nossa herança. Estou muito feliz por termos uma organização como a ACN ao nosso lado”. Azhaar Naissan Saqat também agradece à ACN. Originalmente de Baghdeda, o médico de 46 anos de idade viveu em Erbil por três anos como pessoa deslocada internamente, onde gerencia dois ambulatórios para pessoas deslocadas. “Quase perdemos toda a esperança, mas depois de uma longa espera, pudemos regressar à nossa cidade graças ao apoio da ACN e outras organizações que nos ajudaram a reconstruir as nossas casas – em primeiro lugar a ACN. Esta fundação tornou possível para nós a esperança de que poderíamos retornar a nossas casas e nossas igrejas e levar vidas normais outra vez.”

Philipp Ozores, secretário geral da ACN, disse,”hoje, nós gostaríamos de manter esse pequeno sinal de que estamos mais uma vez no ponto de partida – assim como na parábola da semente de mostarda dos Evangelhos. Mas com a ajuda de Deus e dos nossos benfeitores, esperamos que a Planície de Nínive possa receber de volta os cristãos que foram forçados a fugir. Esperamos que esta região possa em breve se tornar um lugar de vida e paz para todos mais uma vez.” No próximo fim de semana, a cerimônia de apresentação da oliveira também será realizada em Tel Skuf, uma aldeia caldeia com 1.268 casas que precisam ser reconstruídas. A maioria (1.123) das casas lá teve apenas danos leves, que significam que a esperança para um reassentamento rápido da vila é mais do que justificada. De fato, 500 famílias cristãs já voltaram para Tel Skuf.

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