Mali
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Disposições legais em relação à liberdade religiosa e aplicação efetiva

Em junho de 2023, o Mali realizou um referendo nacional no qual os eleitores aprovaram alterações constitucionais. A nova Constituição foi oficialmente promulgada no dia 22 de julho de 2023, introduzindo reformas institucionais e políticas substanciais à estrutura de governo do país.[1]

O preâmbulo da Constituição alterada reafirma, tal como no texto constitucional anterior, o caráter laico do Estado. Reconhece ainda o Mali como um país “rico em diversidade cultural, linguística e religiosa”.[2] Neste sentido, o artigo 32.º introduz um esclarecimento significativo, afirmando que a natureza laica do Estado não se opõe à religião ou às crenças individuais. O objetivo é promover e fortalecer uma vida comunitária baseada na tolerância, no diálogo e na compreensão mútua. O artigo prevê ainda que o Estado garante o respeito “por todas as religiões e crenças, bem como a liberdade de consciência e o livre exercício do culto religioso, nos termos da lei”.

O artigo 1.º da Constituição menciona que todos os malianos nascem e permanecem livres e iguais em direitos e deveres. Proíbe explicitamente “a discriminação com base na origem social, região, cor, língua, raça, etnia, sexo, religião ou opinião política”.

O artigo 14.º da Constituição garante a todos os indivíduos “o direito à liberdade de pensamento, consciência, religião, culto, opinião e expressão, nos termos da lei”. Além disso, o artigo 5.º prevê que qualquer pessoa perseguida em virtude das suas convicções políticas ou religiosas, ou da sua etnia, tem direito a asilo na República do Mali.

Em 2024, o Mali adotou também um novo Código Penal, introduzindo reformas significativas. O artigo 242.º, n.º 1, no entanto, reafirma a criminalização de qualquer expressão que possa prejudicar a liberdade de consciência e a liberdade de culto, colocando os cidadãos uns contra os outros. Tais crimes são puníveis com cinco anos de prisão e dez anos de banimento.[3] O artigo 312.º, n.º 1, do Código Penal alterado reafirma ainda que, tal como no código anterior, a perseguição deliberada e sistemática de qualquer grupo ou comunidade identificável por motivos religiosos, entre outros, é entendida como um crime contra a humanidade.

Em relação à educação, o artigo 11.º da Constituição estabelece que “a educação pública é obrigatória, gratuita e laica”.[4] As escolas públicas não podem disponibilizar ensino religioso, mas as escolas privadas podem. As escolas religiosas islâmicas (madraças) financiadas por instituições privadas ensinam o Islamismo, mas são obrigadas a seguir o currículo padrão do Governo. Os alunos não muçulmanos não são obrigados a frequentar aulas de religião islâmica. Regras equivalentes aplicam-se às escolas católicas.[5]

Todas as organizações religiosas são obrigadas a registrar-se no Ministério da Administração Territorial e das Autoridades Locais. Isto não se aplica aos grupos que praticam crenças religiosas autóctones. O registro não confere quaisquer privilégios fiscais ou outros benefícios legais e não existe qualquer sanção em caso de falta de registro.[6]

Os muçulmanos representam cerca de 95% da população do Mali. Quase todos os muçulmanos são sunitas e a maioria segue o Sufismo. Cerca de 5% da população pertence a outras religiões. Os cristãos constituem pouco mais de 2%, sendo dois terços católicos e um terço protestantes. O Mali alberga também religiões tradicionais africanas (cerca de 3% da população); alguns muçulmanos e cristãos incorporam igualmente as tradições africanas nos seus rituais.[7]

Os feriados nacionais obrigatórios incluem as festividades cristãs do Natal e da Páscoa, e as festas muçulmanas do Mawlid (Nascimento do Profeta) e do Eid al-Fitr (fim do Ramadã).[8]

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Incidentes e episódios relevantes

Tal como em grande parte do Sahel, o Mali tem registrado um aumento acentuado do extremismo islamita. De acordo com o Índice Global de Terrorismo de 2025, os maiores aumentos de atividade terrorista desde 2007 ocorreram no Paquistão, na Síria e no Mali, ocupando o Mali agora o quarto lugar global em termos de impacto terrorista. As zonas fronteiriças com o Níger e o Burkina Faso continuam a ser as mais afetadas, representando quase 75% de todos os ataques e mortes.[9]

A infiltração de grupos extremistas no norte do Mali reacendeu a rebelião tuaregue em 2012, um conflito que tinha ressurgido em 1963, 1990 e 2006. Representando cerca de 10% da população, os tuaregues — através do Movimento Nacional para a Libertação de Azawad (MNLA) — procuravam a autonomia do norte. Para tal, aliaram-se a grupos islamistas como a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), o Movimento pela Unidade e Jihad na África Ocidental (MUJAO) e o Ansar Dine para expulsar as forças governamentais da região.[10]

A saída da missão de paz da ONU, ordenada pela junta militar do Mali em junho de 2023, aumentou as preocupações de que o acordo de paz de 2015 pudesse falhar. A MINUSMA já tinha apaziguado os separatistas tuaregues e monitorizado as violações.

Um relatório de 2024 destacou o papel do Mali no tráfico de drogas na África Ocidental e documentou violência sexual relacionada com o conflito, incluindo abusos envolvendo o Grupo Wagner russo.[11]

Em julho de 2023, a Human Rights Watch tinha denunciado que o exército do Mali e supostos mercenários do Grupo Wagner tinham cometido dezenas de execuções sumárias e desaparecimentos forçados no centro do Mali desde dezembro de 2022. Testemunhas descreveram os combatentes estrangeiros que não falavam francês como "brancos" ou "russos". A maioria das vítimas eram civis fulani. O Governo do Mali negou ter conhecimento dos fatos, mas comprometeu-se a investigar.[12]

Desde 2021, o Mali sofreu dois golpes militares que resultaram na transferência de poder para uma junta militar de transição. Após a retirada das forças ocidentais, a junta convidou o Grupo Wagner da Rússia no final de 2021 para ajudar a combater os insurgentes islamistas. A presença do Grupo Wagner tem sido muito controversa, enfrentando alegações de violações generalizadas dos direitos humanos, incluindo massacres, tortura e ataques a civis. O seu envolvimento tem sido associado a uma maior deterioração da situação humanitária e de segurança no Sahel.[13]

Em agosto de 2023, especialistas da ONU relataram que os militantes do autoproclamado Estado Islâmico no Mali quase duplicaram o seu controle territorial num ano, enquanto os grupos ligados à Al-Qaeda exploram a presença de segurança enfraquecida do Governo. O acordo de paz paralisado de 2015, particularmente a falha em desarmar e reintegrar os combatentes, permitiu à Jama‘a Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin (JNIM), formada pela fusão do Ansar Dine, al-Mourabitoun e Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), posicionar-se como protetora contra o autoproclamado Estado Islâmico no Grande Saara. O grupo controla agora grandes áreas rurais nas regiões de Menaka e Ansongo, no leste do país. Entretanto, a liderança militar do Mali tem observado o conflito à distância, com alguns a acreditarem que as lutas internas extremistas podem beneficiar o Governo, enquanto outros alertam que isso fortalece os grupos terroristas.[14]

Em setembro de 2023, o Mali, o Burkina Faso e o Níger estabeleceram a Aliança dos Estados do Sahel (AES),[15] um pacto de defesa mútua concebido para reforçar a cooperação em matéria de segurança entre os três governos liderados por militares que tomaram o poder através de golpes de Estado entre 2020 e 2023. A aliança foi apresentada como uma resposta à crescente insegurança, à deterioração das relações com a CEDEAO e às deficiências verificadas no apoio internacional. Em julho de 2024, a AES transformou-se numa confederação,[16] formalizando a integração política e militar. No entanto, a instabilidade regional tem persistido, marcada pela propagação da violência jihadista no centro do Mali e na histórica região de Liptako-Gourma, que abrange atualmente parte do Burkina Faso oriental, o sudoeste do Níger e o sudeste do Mali central. Entretanto, têm aumentado as preocupações com as violações dos direitos humanos associadas à presença de grupos filiados na Rússia, como o Grupo Wagner e o Africa Corps.[17]

Os líderes católicos e muçulmanos condenaram publicamente o aumento da violência jihadista no Mali, com os líderes muçulmanos a rejeitarem especificamente as interpretações extremistas da lei da sharia. Grupos como o JNIM têm realizado ataques na região de Mopti, visando indiscriminadamente cristãos, muçulmanos e fiéis de religiões tradicionais. Os missionários cristãos e os representantes da Cáritas manifestaram preocupação com a crescente influência de grupos extremistas violentos nas zonas remotas em redor de Mopti, onde as fações armadas impõem regulamentos rigorosos e impõem o uso obrigatório do véu às mulheres de todas as religiões.[18]

O que se segue, devido ao número de incidentes, é apenas uma seleção representativa de incidentes que ilustram a situação.

Em agosto de 2023, homens armados mataram pelo menos 23 pessoas e feriram 12 em um ataque à aldeia de Yarou, na região central de Bandiagara, no Mali. Os agressores incendiaram ainda várias casas. O ataque coincidiu com um relatório do exército maliano sobre um ataque com morteiros por parte de extremistas contra Timbuktu.[19]

Em setembro de 2023, homens armados tomaram dois acampamentos militares em Lere, no norte do Mali, após intensos confrontos, segundo as autoridades locais. O exército maliano confirmou o ataque, mas afirmou que estavam em curso esforços para retomar o controle. Almou Ag Mohamed, porta-voz da Coordenação dos Movimentos Azawad, liderada pelos tuaregues, assumiu a responsabilidade, afirmando que o grupo tinha abatido um avião do exército maliano. No início do mês, os separatistas atacaram posições militares em Bourem, com ambos os lados reportando grande baixas. Entretanto, os jihadistas ligados à Al-Qaeda da Jama‘a Nasrat ul-Islam wa al-Muslimin (JNIM) intensificaram os ataques na região de Timbuktu, declarando "guerra" em agosto.[20]

Em outubro de 2023, os rebeldes tuaregues tomaram uma base militar em Bamba, a quarta desde agosto, intensificando a sua ofensiva contra o exército do Mali. A junta militar não confirmou a captura, mas reconheceu a existência de combates intensos. O recrudescimento do conflito assinala o colapso do acordo de paz de 2015, enquanto os ataques jihadistas de grupos ligados à Al-Qaeda e ao autoproclamado Estado Islâmico contribuem para a instabilidade. Apesar do recurso a mercenários do Grupo Wagner, a junta esforça-se por conter a violência, que aumentou desde que as forças de manutenção da paz da ONU começaram a retirar-se em agosto.[21] Nesse mesmo mês, os rebeldes tuaregues também se apoderaram de uma base da ONU desocupada em Kidal, uma cidade estratégica do norte, imediatamente após a retirada das forças de manutenção da paz. Esta tomada de controle marca uma mudança importante na luta territorial em curso.[22]

Em novembro de 2023, supostos extremistas islamistas sequestraram cerca de 30 homens da etnia Dogon depois de emboscarem um ônibus de transporte público no centro do Mali. Os extremistas sequestraram inicialmente cerca de 40 passageiros que viajavam entre Koro e Bankass, mas mais tarde libertaram as mulheres. Embora nenhum grupo tenha reivindicado a responsabilidade, os extremistas ativos na região são conhecidos por atacar os transportes públicos, alimentando as tensões étnicas.[23]

No dia 26 de novembro de 2023, o Padre Hans-Joachim Lohre, um sacerdote missionário alemão sequestrado em Bamako, no Mali, a 20 de novembro de 2022, foi libertado após um ano de cativeiro. A sua libertação ocorreu após negociações promovidas pelo Governo alemão, tendo o sacerdote sido levado para a Alemanha num voo especial. O Padre Lohre, membro dos Missionários da África (Padres Brancos), foi sequestrado quando se preparava para celebrar a missa em Bamako. O seu carro foi encontrado abandonado com a sua cruz por perto. Conhecido pelo seu trabalho no diálogo inter-religioso, o Padre Lohre passou quase três décadas a promover a coesão religiosa no Mali.[24]

No dia 11 de dezembro de 2023, as Nações Unidas concluíram oficialmente a sua missão de paz de 10 anos no Mali, na sequência de um pedido do Governo, alegando a incapacidade da missão para lidar com a crescente violência extremista. Apesar dos sucessos iniciais da ONU na expulsão dos rebeldes com o apoio militar francês, os extremistas reagruparam-se e retomaram os ataques, visando tanto o exército maliano como a missão da ONU. Em junho, a junta militar solicitou a saída da força da ONU, alegando que esta já não satisfazia as necessidades de segurança do país, após a retirada francesa no ano anterior.[25]

No início de 2024, o grupo extremista JNIM, ligado à Al-Qaeda, levou a cabo massacres no centro do Mali, resultando em pelo menos 32 mortes e na deslocação de milhares de pessoas. O grupo atacou as aldeias de Ogota e Ouémbé no dia 27 de janeiro, incendiando mais de 350 casas no que os residentes descreveram como um ataque com motivações étnicas. Um incidente distinto, no dia 6 de janeiro, envolveu uma milícia étnica que matou 13 pessoas e sequestrou 24 civis. A Human Rights Watch condenou os ataques e instou as autoridades a combater a escalada de violência.[26] Os observadores sugerem que os grupos jihadistas também incitam conflitos intertribais para os seus próprios fins. Os militantes fulani foram acusados ​​de apoiar fações extremistas e foram alvos das milícias dogon e bambara, embora as dogon neguem a responsabilidade pelos piores assassinatos. Mahmoud Dicko, um líder fulani, comentou: "Estou convencido de que existem outras forças invisíveis e obscuras que planejam desestabilizar toda a sub-região. E para ter sucesso nesta desestabilização, é necessário criar uma guerra entre os diferentes grupos étnicos."[27]

Em janeiro de 2024, a junta do Mali anunciou a rescisão do acordo de paz de 2015 feito por um Governo anterior com os rebeldes tuaregues, um acordo que manteve a paz frágil no Norte até a junta militar chegar ao poder em 2021. O Governo citou o incumprimento do acordo por parte dos rebeldes e "atos de hostilidade" da Argélia, o principal mediador, como razões para terminar o acordo. A Argélia lamentou a decisão, alertando que poderia levar a mais desestabilização, guerra civil e insegurança regional. O acordo de paz, que visava reduzir as hostilidades após a tentativa fracassada dos rebeldes tuaregues de um Estado independente de Azawad, não tem dado certo há anos, com ambos os lados acusando-se mutuamente de não cumprimento. Os analistas alertam que o colapso do acordo pode fortalecer os grupos extremistas na região e minar a capacidade da junta para gerir a situação.[28]

No dia 10 de abril de 2024, a junta do Mali, liderada pelo Coronel Assimi Goïta, suspendeu todas as atividades políticas, alegando preocupações com a "ordem pública". Isto aconteceu após uma declaração conjunta de mais de 80 partidos e grupos civis a apelar a eleições presidenciais e ao fim do regime militar. A junta classificou como "estéril" uma tentativa de diálogo no início do ano e proibiu uma nova coligação de oposição em março. Desde que assumiu o poder, em 2020 e 2021, a junta adiou eleições, rompeu laços com a França e a União Europeia e reforçou as relações com a Rússia. A ONU reportou a dissolução de pelo menos quatro organizações desde dezembro de 2023, incluindo as focadas no governo, eleições e oposição.[29]

Em meados de maio de 2024, milhares de malianos reuniram-se em Djenné para a renovação anual da Grande Mesquita, um ritual vital para preservar a estrutura classificada pela UNESCO. A mesquita, símbolo do patrimônio islâmico, tem sido ameaçada por conflitos e está na lista do Patrimônio Mundial em Perigo desde 2016. Todos os anos, a mesquita necessita de uma nova camada de lama antes da estação das chuvas para evitar a sua degradação. Embora o turismo em Djenné tenha desaparecido em grande parte devido ao conflito em curso, o evento continua a ser um fator de união da comunidade. As mulheres vão buscar água ao rio, enquanto os homens e os rapazes aplicam a lama, garantindo que a tradição perdura por gerações. O esforço comunitário é um símbolo de paz.[30]

Em junho de 2024, a junta do Mali transferiu 11 políticos da oposição, detidos no início do mês, para prisões de todo o país, o que gerou a condenação por parte de grupos de defesa dos direitos humanos. Os detidos enfrentam acusações de conspiração e oposição à autoridade. Isto acontece depois de a junta militar ter suspendido todas as atividades políticas no início deste ano. A Amnistia Internacional criticou a repressão, alertando que a dissidência política é cada vez mais perigosa. Muitos jornalistas e ativistas desapareceram, enquanto os órgãos de comunicação social fogem devido às restrições. Os especialistas alertam que as ações da junta estão a aprofundar o impasse político no Mali.[31]

Além disso, grupos da sociedade civil e residentes do norte do Mali acusaram o exército e os mercenários russos de matar dezenas de civis em Abeibara durante uma operação militar na região de Kidal, de 20 a 29 de junho. Hamadine Driss Ag Mohamed, filho do chefe da aldeia de Abeibara, disse que 46 civis foram executados e saqueados por soldados malianos e mercenários do Grupo Wagner. Os militares malianos negaram as alegações, mas confirmaram as operações em curso na zona. A violência ocorreu após a decisão da junta de atacar o bastião dos rebeldes tuaregues em Kidal, em 2023, aumentando as tensões numa região anteriormente controlada pelos insurgentes. As organizações de defesa dos direitos humanos também acusaram as forças de limpeza étnica, citando valas comuns.[32]

Em agosto de 2024, o Governo do Mali rompeu relações diplomáticas com a Ucrânia, citando alegações de que Kiev tinha assistido a grupos rebeldes armados num ataque mortal no norte do Mali no mês anterior. O ataque resultou em perdas significativas para os soldados malianos e mercenários russos. O porta-voz do Governo do Mali, Tenente-Coronel Abdoulaye Maïga, destacou os comentários do oficial dos serviços de informação militar ucraniano Andriy Yusov, que sugeriu que os grupos armados no Mali receberam informações cruciais de Kiev para o ataque. A Ucrânia negou as alegações, com o seu Ministério dos Negócios Estrangeiros a afirmar que a decisão do Mali foi tomada sem investigação ou provas adequadas. O ataque de julho, que envolveu jihadistas e rebeldes, representou uma das maiores perdas para o grupo Wagner da Rússia em anos.[33]

Em setembro de 2024, militantes do grupo JNIM, ligado à Al-Qaeda, atacaram um campo de treino militar e o aeroporto de Bamako, matando vários soldados. O ataque à escola da polícia militar de Faladie foi um ataque raro na capital do Mali, que acabou por ser dominado pelas forças governamentais. Pelo menos 15 suspeitos foram detidos. Os militantes também atacaram o aeroporto, com o JNIM a reivindicar a responsabilidade e a publicar vídeos que mostram um avião incendiado. O grupo afirmou ter causado baixas e danos materiais significativos. Este ataque marca uma mudança na estratégia do JNIM, sinalizando a sua capacidade de realizar operações de grande escala no sul do Mali, onde os ataques são menos frequentes. Apesar do aumento da violência, os ataques em Bamako eram até então raros.[34]

Em outubro de 2024, o Ministro dos Assuntos Religiosos, do Culto e dos Costumes, Dr. Mamadou Koné, organizou em Bamako um seminário destinado aos líderes religiosos e aos representantes dos meios de comunicação social para promover a liberdade religiosa. Lembrou aos participantes a necessidade de compreensão mútua, tolerância e cortesia, qualidades que têm sido historicamente uma marca da religião no Mali.[35]

Em novembro de 2024, os cristãos das aldeias de Dougouténé e Douna-Pen, na região de Mopti, relataram que um grupo extremista (muito provavelmente o JNIM)[36] tinha exigido que todas as pessoas com mais de 18 anos pagassem um imposto jizya de 25.000 CFA (cerca de 35 euros). "Dizem que vivemos em um Estado laico", comentou um dos cristãos, "mas, infelizmente, esta é a nossa nova realidade. Aqui, as pessoas são assassinadas como ratos".[37]

Em novembro de 2024, o chefe militar do Mali, Coronel Assimi Goïta, demitiu o Primeiro-Ministro Choguel Kokalla Maïga, depois de este ter criticado a falta de transparência da junta e o adiamento indefinido das eleições. As declarações do primeiro-ministro levaram a apelos à sua demissão, tendo sido substituído pelo Tenente-Coronel Abdoulaye Maïga, que é leal ao governo. Esta medida põe em evidência as tensões existentes no seio da junta e suscita preocupações quanto ao aumento do controle militar, num contexto de crescente frustração pública face ao atraso na transição para a democracia.[38] Em dezembro de 2024, os 11 políticos da oposição que tinham sido detidos em junho foram libertados, no que foi visto como uma tentativa de acalmar os ânimos após a controversa nomeação de Abdoulaye Maïga.[39]

Durante o mesmo mês, pelo menos seis mercenários russos foram mortos quando um grupo ligado à Al-Qaeda, o JNIM, emboscou um comboio de combatentes do Grupo Wagner na região de Mopti, no centro do Mali. Os extremistas reivindicaram a responsabilidade pelo ataque, que envolveu a destruição de veículos e a morte de vários mercenários. Um responsável da segurança do Mali confirmou o ataque, que ocorreu num posto de controle, mas não revelou mais pormenores.[40]

Após as pesadas perdas, o Grupo Wagner anunciou, em junho de 2025, que se retirava do Mali, depois de "ter concluído a sua missão".[41] O Africa Corps anunciou que a saída dos seus companheiros russos não iria afetar a sua presença no país.[42]

Em dezembro de 2024, ataques com drones levados a cabo pelo exército do Mali mataram oito líderes rebeldes tuaregues em Tinzaouatine, perto da fronteira com a Argélia, enquanto facções tuaregues negociavam uma estrutura militar e política unificada. O ataque, descrito como uma "operação especial", teve como alvo os líderes do Quadro Estratégico para a Defesa do Povo de Azawad (CSP-DPA), um grupo tuaregue que luta por um Estado independente no norte do Mali. O exército maliano confirmou o ataque, rotulando as vítimas de "terroristas".[43]

Perspectivas para a liberdade religiosa

Dado o contexto atual, as perspectivas para a liberdade religiosa — e, de forma mais ampla, para a proteção dos direitos fundamentais — no Mali permanecem negativas. O país enfrenta uma combinação de fatores que continuam corroendo a estabilidade, incluindo a expansão implacável dos grupos jihadistas e a violência persistente ligada às aspirações tuaregues de independência. A junta militar, que chegou ao poder através de sucessivos golpes, tem se isolado cada vez mais no panorama internacional e aprofundado os seus laços com mercenários estrangeiros, cuja presença tem sido associada a graves violações dos direitos humanos. Neste ambiente, o espaço para a coexistência religiosa pacífica continua diminuindo, o que torna as perspectivas para a liberdade religiosa profundamente preocupantes.

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Notas e Fontes

[1] “Mali’s New Constitution Adopted After Court Validation”, Radio France Internationale (RFI), 22 de julho de 2023, https://www.rfi.fr/en/africa/20230722-mali-s-new-constitution-adopted-after-court-validation (acessado em 15 de junho de 2025).

[2] Governo do Mali, “Décret n°2023-0401/PT-RM du 22 juillet 2023 portant promulgation de la Constitution”, Journal Officiel de la République du Mali, 22 de junho de 2023, https://wipolex-resources-eu-central-1-358922420655.s3.amazonaws.com/edocs/lexdocs/laws/fr/ml/ml018fr_1.pdf (acessado em 15 de junho de 2025).

[3] Governo do Mali, "Décret n°2024‑027 du 13 décembre 2024 portant code pénal", Journal Officiel de la République du Mali, https://sgg-mali.ml/JO/2024/mali-jo-2024-21-sp.pdf (acessado em 15 de junho de 2025).

[4] “Décret n°2023-0401/PT-RM du 22 juillet 2023 portant promulgation de la Constitution”, op. cit.

[5] “Mali”, 2023 Report on International Religious Freedom, Departamento de Estado Norte-Americano,  https://www.state.gov/reports/2023-report-on-international-religious-freedom/mali/ (acessado em 15 de junho de 2025).

[6] “Mali”, 2023 Report on International Religious Freedom, op. cit.

[7] “Mali”, 2023 Report on International Religious Freedom, op. cit.

[8] "Mali Public Holidays", World Travel Guide, https://www.worldtravelguide.net/guides/africa/mali/public-holidays/ (acessado em 8 de julho de 2022).

[9] Institute for Economics & Peace, Global Terrorism Index 2025, março de 2025, https://www.visionofhumanity.org/wp-content/uploads/2025/03/Global-Terrorism-Index-2025.pdf (acessado em 15 de junho de 2025).

[10] Center for Preventive Action, “Violent Extremism in the Sahel”, Global Conflict Tracker, 23 de outubro de 2024, https://www.cfr.org/global-conflict-tracker/conflict/violent-extremism-sahel (acessado em 28 de junho de 2025).

[11] Ibid.

[12] "Mali’s army and suspected Russia-linked mercenaries committed ‘new atrocities,’ rights group says”, Associated Press, https://apnews.com/article/mali-human-rights-abuses-wagner-military-fulani-19a045521448453dd9ecb5b464941955 (acessado em 15 de março de 2025).

[13] “Western countries pile pressure on Mali over Wagner Group role”, Reuters, 2 de maio de 2023, https://www.reuters.com/world/western-countries-pile-pressure-mali-over-wagner-group-role-2023-05-02/ (acessado em 28 de junho de 2025).

[14] "UN experts say Islamic State group almost doubled the territory they control in Mali in under a year”, Associated Press, 26 de agosto de 2023,file:///C:/Users/fxp/AppData/Local/Microsoft/Windows/INetCache/Content.Outlook/Q092H12K/ http://apnews.com/article/mali-islamic-state-alqaida-violence-un-e841e4d5835c7fa01605e8fd1ea03fcf (acessado em 18 de março de 2025).

[15] “Mali, Niger and Burkina Faso sign Sahel security pact”, Reuters, 16 de setembro de 2023, https://www.reuters.com/world/africa/mali-niger-burkina-faso-sign-sahel-security-pact-2023-09-16/ (acessado em 28 de junho de 2025).

[16] Eleonora L. Cammarano, “The Birth of the Confederated Alliance of the Sahel States”, Katoikos, 12 de agosto de 2024, https://katoikos.world/analysis/the-birth-of-the-confederated-alliance-of-the-sahel-states.html (acessado em 28 de junho de  2025).

[17] Sawsan Ismail Al‑Assaf, “The Sahel’s Shifting Sands: How Security Landscape is Redrawing Regional Alliances”, Al Jazeera Centre for Studies, 27 de março de 2025, https://studies.aljazeera.net/en/analyses/sahels-shifting-sands-how-security-landscape-redrawing-regional-alliances (acessado em 28 de junho de  2025).

[18] “Mali”, 2023 Report on International Religious Freedom, op. cit.

[19] "Gunmen Kill At Least 23 in an Attack on a Village in Central Mali”, International Center for Transitional Justice, https://www.ictj.org/latest-news/gunmen-kill-least-23-attack-village-central-mali (acessado em 20 de março de 2025).

[20] "Armed Men Seize 2 Army Camps in Northern Mali”, Voice of America, https://www.voanews.com/a/armed-men-seize-2-army-camps-in-northern-mali-officials/7272595.html (acessado em 22 de março de 2025).

[21] "Rebels in Mali Say They’ve Captured Another Military Base in the North as Violence Intensifies”, Associated Press, https://apnews.com/article/mali-rebel-attack-united-nations-1ee92b5b60aecb4e7b45ec6c8a658a6e (acessado em 23 de março de 2025).

[22] "Mali Rebels Claim Takeover of Vacated UN Base Near Strategic Town of Kidal”, France 24, https://www.france24.com/en/africa/20231031-mali-rebels-claim-takeover-of-vacated-un-base-near-strategic-town-of-kidal (acessado em 28 de março de 2025).

[23] "Suspected Islamic Extremists Holding About 30 Ethnic Dogon Men Hostage After Bus Raid, Leader Says”, Associated Press, https://apnews.com/article/mali-dogon-jihadis-hostages-extremism-39ed0d640df9e189d45a0d65b23f0f3f (acessado em 30 de março de 2025).

[24] "German Missionary Priest Released a Year After Being Abducted in Mali”, Catholic News Agency, https://www.catholicnewsagency.com/news/256111/german-missionary-priest-released-a-year-after-being-abducted-in-mali (acessado em 27 de março de 2025).

[25] "The UN Peacekeeping Mission in Mali Ends After 10 Years, Following the Junta’s Pressure to Go”, Associated Press, https://apnews.com/article/mali-un-peacekeeping-extremism-ffd9c0ebe51e8db820ddc41a101c8d98 (acessado em 28 de março de 2025).

[26] “An extremist group and ethnic militias committed atrocities in Mali, Human Rights Watch says”, Associated Press, https://apnews.com/article/mali-qaeda-atrocities-rights-be3b860150412c0ab5f1e5f3c7b930ff (acessado em 15 de março de 2025).

[27] “Mali in crisis: the fight between the Dogon and the Fulani”, Al Jazeera, 24 de agosto de 2019, https://www.aljazeera.com/video/in-the-field/2019/8/24/mali-in-crisis-the-fight-between-the-dogon-and-fulani (acessado em 5 de julho de 2025).

[28] "Mali Ends Crucial Peace Deal with Rebels, Raising Concerns About a Possible Escalation in Violence”, Associated Press, https://apnews.com/article/mali-tuareg-rebel-peace-agreement-ac674f2b3afe41b4ec52aa6790347fdb (acessado em 29 de março de 2025).

[29] "Mali's Junta 'Suspends' Political Party Activities for 'Reasons of Public Order'“, Le Monde, https://www.lemonde.fr/en/le-monde-africa/article/2024/04/11/mali-junta-suspends-political-party-activities-for-subversion_6668049_124.html (acessado em 1 de março de 2025).

[30] “Thousands Replaster Mali’s Great Mosque of Djenne, Which Is Threatened by Conflict”, AP News, https://apnews.com/article/mali-mosque-insecurity-ritual-djenne-heritage-danger-991059d6df7b671ce9c9f92a2f247d05 (acessado em 8 de março de 2025).

[31] "Opposition Activists Arrested in a Crackdown in Mali Were Moved to Prisons, Families Say”, AP News, https://apnews.com/article/mali-opposition-crackdown-sahel-junta-559a9df7b7295fb691ed05bfe8dde326 (acessado em 25 de março de 2025).

[32] "Mali's Army, Russian Mercenaries Accused of Killing Dozens of Civilians”, VOA News, https://www.voanews.com/a/mali-s-army-russian-mercenaries-accused-of-killing-dozens-of-civilians-/7686806.html (acessado em 28 de março de 2025).

[33] "Mali Cuts Diplomatic Ties with Ukraine, Accusing It of Aiding a Rebel Attack in the African Country”, AP News, https://apnews.com/article/mali-ukraine-wagner-junta-embassy-rebel-russia-senegal-a471c7332369d154af57ad0816fb3504 (acessado em 29 de março de 2025).

[34] "Mali Troops Put Down a Deadly Militant Attack in the Capital”, AP News, https://apnews.com/article/mali-explosions-training-camp-attack-472f06bd7d2d9d2913252e9787f276f9 (acessado em 13 de março de 2025).

[35] Abdrahamane Sissoko, “La direction nationale des Affaires religieuses et du culte outille les leaders religieux et les hommes de médias sur la liberté religieuse”, Maliweb, 4 de novembro de 2024, https://www.maliweb.net/formation-professionnelle/la-direction-nationale-des-affaires-religieuses-et-du-culte-outille-les-leaders-religieux-et-les-hommes-de-medias-sur-la-liberte-religieuse-3082971.html (acessado em 5 de julho de 2025).

[36] Simon, “Support us or flee: Islamic extremists issue ultimatum to Mali Christians”, https://www.opendoorsuk.org/news/latest-news/mali-christians-ultimatum/ (acessado em 5 de julho de 2025).

[37] “Mali: Jihadist group intensifies religious persecution and charges Christians jizya tax”, Ajuda à Igreja que Sofre nos EUA, 2 de novembro de 2024, https://www.churchinneed.org/mali-jihadist-group-intensifies-religious-persecution-and-charges-christians-jizya-tax/ (acessado em 5 de julho de 2025).

[38] "Mali Junta Chief Fires Prime Minister in Row Over Return to Civilian Rule”, BBC News, https://www.bbc.com/news/articles/cn8lp80eqj0o (acessado em 31 de março de 2025).

[39] “Mali: 11 opposition leaders released after 6 months of detention”, Africanews, 6 de dezembro de 2024, https://www.africanews.com/2024/12/06/mali-11-opposition-leaders-released-after-6-months-of-detention// (acessado em 5 de julho de 2025).

[40] “At Least 6 Mercenaries with Russia’s Wagner Group Killed in an Extremist Attack in Mali”, AP News, http://apnews.com/article/mali-wagner-jnim-attack-00da84119bb3ae0d2ade46894a2fc56c (acessado em 5 de março de 2025).

[41] Nkechi Ogbonna, “Wagner to withdraw from Mali after ‘completing mission’”, BBC, 6 de junho de 2025, https://www.bbc.co.uk/news/articles/ce3ve0e7ndzo (acessado em 4 de julho de 2025).

[42] Mark Banchereau, “Wagner group leaving Mali after heavy losses but Russia’s Africa Corps to remain”, AP, 6 de junho de 2025, https://apnews.com/article/mali-wagner-russia-withdraws-b29349be737cbc14dfc435b3536711eb (acessado em 4 de julho de 2025).

[43] “Mali: Military Drone Strikes Kill Eight Senior Tuareg Leaders in Country’s North”, North Africa Post, https://northafricapost.com/82300-mali-military-drone-strikes-kill-eight-senior-tuareg-leaders-in-countrys-north.html (acessado em 7 de março de 2025).

ACN (BRASIL). Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo. 17° ed. [s. l.]: ACN, 2025. Disponível em: https://www.acn.org.br/relatorio-liberdade-religiosa.