Burkina Faso
(religiões no país)

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Disposições legais em relação à liberdade religiosa e aplicação efetiva

A Constituição do Burkina Faso, adotada originalmente em 1991 e alterada em 2015, foi alvo de uma nova revisão em outubro de 2022 com a adoção de uma Carta de Transição apresentada pelo recém-nomeado Presidente de transição, Ibrahim Traoré.[1] Traoré anunciou ainda uma “modificação parcial” da Constituição, que criticou por representar “as opiniões de um punhado de indivíduos esclarecidos” em vez das “massas populares”. Foram aprovadas alterações adicionais em dezembro de 2023[2] e uma vez mais em maio[3] e outubro de 2024.[4]

Estas revisões diziam sobretudo respeito à estrutura institucional do país e não afetavam as disposições constitucionais sobre a liberdade religiosa. A Constituição continua a definir o Burkina Faso como uma República laica que não concede privilégios especiais a nenhuma denominação religiosa e garante a plena liberdade religiosa aos seus cidadãos.

O artigo 1.º proíbe a discriminação com base na religião, afirmando: "São proibidas todas as formas de discriminação, sobretudo as baseadas na raça, etnia, região, cor, sexo, língua, religião, casta, opiniões políticas, riqueza e nascimento."[5]

O artigo 7.º garante a liberdade religiosa, declarando: “A liberdade de crença, de descrença, de consciência, de opinião religiosa, [de] filosofia, de exercício da crença, a liberdade de reunião, a livre prática dos costumes, bem como a liberdade de procissão e de manifestação, são garantidas por esta Constituição, sob reserva do respeito pela lei, pela ordem pública, pelos bons costumes e pela pessoa humana.”[6]

O artigo 23.º define a família como a “unidade básica da sociedade” e proíbe a discriminação por motivos religiosos “em matéria de casamento”, que deve basear-se “no livre consentimento” de ambos os cônjuges e deve ser livre de discriminação “com base na raça, cor, religião, etnia, casta, origem social, [e] fortuna”.[7]

As comunidades religiosas podem registrar-se junto das autoridades através do Ministério da Administração Territorial e Descentralização, que supervisiona os assuntos religiosos, mas não são obrigadas a fazê-lo. O registro está sujeito aos mesmos requisitos legais aplicáveis ​​a outras organizações registradas.[8]

O ensino religioso não é permitido nas escolas públicas, mas existem escolas privadas de ensino básico e secundário, muçulmanas, católicas e protestantes, bem como algumas instituições de ensino superior. As instituições de ensino têm total liberdade em matéria de pessoal, embora a nomeação dos diretores deva ser comunicada às autoridades. O Estado analisa os currículos das escolas patrocinadas por comunidades religiosas, observando a sua orientação religiosa e a sua conformidade com o currículo acadêmico padrão. No caso das escolas corânicas, o controle estatal não é particularmente eficaz, dado que a maioria delas não está registrada.[9]

Em 2023, o Governo atribuiu 108.000 euros a cada comunidade muçulmana, católica, protestante e animista, mas nenhuma recebeu o financiamento até ao final do ano.[10] O apoio deveria demonstrar o tratamento equitativo dos diferentes grupos religiosos.

No dia 11 de outubro de 2024, em Ouagadougou, a Santa Sé e o Burkina Faso assinaram o Segundo Protocolo Adicional ao acordo de 2019 sobre o estatuto jurídico da Igreja Católica. Com entrada em vigor imediata, o protocolo facilita o reconhecimento de pessoas coletivas canônicas públicas ao abrigo da lei burquinabê, permitindo a emissão de certificados de personalidade jurídica. A medida visa fortalecer a missão da Igreja e o seu contributo para o bem comum.[11] O acordo original — assinado no Vaticano a 12 de julho de 2019 e em vigor desde a sua ratificação a 7 de setembro de 2020 — reconheceu a Igreja Católica e as suas instituições como sujeitas ao direito público e delineou o quadro para a cooperação entre a Igreja e o Estado.[12]

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Incidentes e episódios relevantes

Outrora considerado um modelo de harmonia inter-religiosa na África Ocidental, o Burkina Faso enfrenta uma forte deterioração da segurança desde o final de 2015, emergindo como um dos principais epicentros da violência jihadista no Sahel. Inicialmente infiltrados no norte do país a partir do vizinho Mali, os grupos extremistas estão progressivamente ampliando a sua presença às regiões ocidental, central e oriental.[13]

Entre os grupos ativos na região estão o Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP) e a Jama‘at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), esta última filiada na Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI). Em 2023, o Burkina Faso foi classificado como o país mais afetado pelo terrorismo em todo o mundo, de acordo com o Índice Global de Terrorismo, posição que manteve em 2024.[14]

Várias facções jihadistas operam atualmente em todo o país, sendo o JNIM de longe o mais dominante, seguido pelo ISWAP e pelo Ansarul Islam. Embora mantenham ligações com redes jihadistas transnacionais, estes grupos envolvem-se em formas híbridas de violência que combinam o extremismo ideológico com a insurgência localizada e o crime organizado. O conflito intensificou-se ainda mais devido aos confrontos entre estes grupos armados e as forças estatais, incluindo o exército e a milícia pró-governamental conhecida como Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP).[15]

Em 2024, o Burkina Faso foi responsável por um quinto das mortes globais relacionadas com o terrorismo, com a maioria dos ataques concentrados nas regiões norte e leste, perto da fronteira com o Níger. Das 1.532 mortes no país, 682 ocorreram nas regiões centro-norte e leste, sendo que a região centro-norte registrou o maior número de mortes. O ataque mais mortífero, levado a cabo pelo JNIM, ocorreu na aldeia de Barsalogho, a cerca de 80 km da capital. O ataque teve como alvo civis que, na sequência de alertas do exército,[16] foram atacados enquanto cavavam trincheiras sem proteção. Os jihadistas mataram cerca de 600 pessoas[17] alegando mais tarde falsamente que as suas vítimas eram combatentes.[18]

Em muitas zonas rurais, os grupos jihadistas continuam a controlar vastos territórios e a pressionar cada vez mais os centros urbanos, anteriormente menos afetados.

A situação é ainda agravada pela persistente instabilidade política, que começou após a deposição do Presidente Blaise Compaoré em 2014 e se agravou após dois golpes de Estado em 2022, o segundo dos quais levou o presidente interino, Capitão Ibrahim Traoré, ao poder. Enquanto estudante, pertencia a uma associação marxista e, após assumir o controle do país, tornou-se um defensor eloquente do panafricanismo e da ideologia "anti-imperialista".[19]

O Burkina Faso realinhou as suas parcerias internacionais, distanciando-se dos aliados ocidentais tradicionais em favor de laços mais estreitos com países como a China e a Rússia. Esta mudança geopolítica acentuou-se quando os governos militares do Burkina Faso, Mali e Níger se retiraram conjuntamente da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tinha suspendido o Burkina Faso em janeiro de 2022 após o golpe liderado pelo Tenente-Coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba.[20] Em julho de 2024, os três países formalizaram a sua aliança com o estabelecimento da Confederação dos Estados do Sahel, com o objetivo de promover a integração regional através da criação de um banco de investimento e de mecanismos de livre circulação de pessoas, bens e serviços. Isto ocorreu após a formação da Aliança dos Estados do Sahel (AES), em setembro de 2023, um pacto de defesa conjunto destinado a coordenar os esforços de combate ao terrorismo em toda a região.[21] Em dezembro de 2024, o Burkina Faso, o Mali e o Níger anunciaram um período de transição de seis meses para a sua saída da CEDEAO, fixando a data efetiva como 29 de julho de 2025, apesar de manterem o dia 29 de janeiro como data oficial de saída. Independentemente das tentativas da CEDEAO para reverter a decisão durante uma reunião em Abuja, os três governos liderados por militares reafirmaram a sua decisão de saída, assinalando uma mudança geopolítica significativa no Sahel e uma aproximação à Rússia.[22]

Numerosos ataques durante o período abrangido por este relatório tiveram como alvo populações militares e civis, incluindo comunidades religiosas. A violência envolveu também o sequestro e o assassinato de líderes religiosos. Os exemplos que se seguem ilustram, embora não esgotem, a gravidade e o alcance destes incidentes.

No dia 2 de janeiro de 2023, o Padre Jacques Yaro Zerbo, um sacerdote de 66 anos da diocese de Dédougou, foi emboscado e morto por homens armados não identificados, quando viajava pela estrada Dédougou-Gassan. Segundo o Bispo Prosper Bonaventure Ky, o ataque ocorreu numa das regiões mais afetadas pela violência no Burkina Faso e foi perpetrado por terroristas. Os agressores roubaram-lhe também o veículo. As autoridades locais mencionaram que foi pelo menos o quarto sacerdote morto na zona.[23]

No dia 11 de janeiro de 2023, militantes jihadistas atacaram a mesquita ahmadi em Goulgountou, região do Sahel, Burkina Faso. Chegados de mota durante as orações noturnas, os agressores forçaram a entrada, separaram nove fiéis idosos, incluindo o Imã Alhaj Boureima Bidiga, de 67 anos, e executaram-nos por se recusarem a renunciar à sua fé. Segundo os sobreviventes, as últimas palavras do imã foram: "Se quiserem cortar-me a cabeça, podem, mas não me é possível denunciar o Islã ahmadi". Os agressores alertaram então os restantes fiéis que a reabertura da mesquita resultaria em morte.[24]

Em outubro de 2023, os terroristas forçaram a população cristã de Débé, uma aldeia no noroeste do Burkina Faso, a fugir depois de emitirem um ultimato de 72 horas. A ordem surgiu depois de dois jovens, pertencentes aos escoteiros, terem sido mortos dentro da igreja da aldeia por fazerem parte de um grupo banido pelos jihadistas e por ignorarem uma ordem de se manterem fora de uma área controlada pelos jihadistas. O Bispo Prosper B. Ky, de Dédougou, descreveu o acontecimento como sem precedentes: "Até agora, toda a aldeia foi expulsa, não apenas os membros de uma religião específica."[25]

No dia 25 de fevereiro de 2024, dezenas de pessoas foram mortas em um ataque a uma mesquita na cidade de Natiaboani, na região leste do Burkina Faso, onde atuam vários grupos armados. O ataque ocorreu durante as orações da manhã, e as autoridades confirmaram que as vítimas eram, na sua maioria, homens muçulmanos. Combatentes islâmicos teriam cercado a mesquita e alvejado soldados locais e uma milícia de autodefesa. Os meios de comunicação locais descreveram um ataque massivo de insurgentes em motocicletas portando metralhadoras. Entre os baleados, estava "um importante líder religioso".[26]  Militares e membros dos Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP), uma milícia de apoio ao exército, também foram alvos "destas hordas que chegaram em grande número". A fonte descreveu o ataque como "em grande escala" devido ao grande número de agressores, que também causaram danos significativos.[27]

No mesmo dia do ataque à mesquita, pelo menos 15 civis foram mortos e outros dois ficaram feridos num ataque a uma igreja católica durante a missa dominical em Essakane, na diocese de Diori, situada na zona das "três fronteiras", perto do Burkina Faso, Mali e Níger. O Padre Jean-Pierre Sawadogo, vigário da diocese de Dori, confirmou o ataque como um "ataque terrorista" durante as orações. Várias unidades militares foram igualmente visadas no leste e norte do Burkina Faso. Fontes de segurança relataram que centenas de insurgentes foram neutralizados em resposta. Mesquitas e imãs foram já alvos de jihadistas, com mais de 20 mil mortos e mais de dois milhões de deslocados devido à violência.[28]

O Bispo Justin Kientega, de Ouahigouya, descreveu um ataque brutal durante a celebração da Palavra, realizada na manhã de domingo, durante o qual foram mortas 12 pessoas, incluindo duas crianças de quatro e catorze anos. Kientega relatou como os extremistas armados costumam chegar de mota, impor regras rígidas, como a proibição de escolas e a aplicação de códigos de vestuário islâmicos, e por vezes realizam execuções públicas para disseminar o medo. Em muitas zonas, os residentes são obrigados a abandonar as suas casas definitivamente. Os cristãos, já em minoria, enfrentam restrições particularmente severas: em algumas aldeias, podem rezar, mas estão proibidos de dar catequese; noutras, o culto é totalmente proibido. Como consequência, muitos fugiram. Na diocese do Bispo Kientega, duas paróquias fecharam devido à insegurança e outras duas continuam completamente inacessíveis.[29]

A violência terrorista perturbou gravemente a vida da Igreja no Burkina Faso, levando à suspensão de inúmeras atividades pastorais. Em fevereiro de 2024, a Conferência Episcopal do Burkina Faso e do Níger informou que pelo menos 30 paróquias tinham sido fechadas, especialmente nas regiões norte e leste.[30] Com grupos armados a controlar 40% a 50% do país, as atividades diocesanas estão confinadas principalmente às capitais de província. Na diocese de Dori, por exemplo, três das seis paróquias foram fechadas. Segundo o Bispo Laurent Dabiré, os paroquianos costumam pedir aos sacerdotes que se retirem quando uma zona se torna demasiado perigosa.[31]

Em abril de 2024, o catequista Edouard Zoetyenga Yougbare foi sequestrado e morto perto de Saatenga, na diocese de Fada N'Gourma, no leste do Burkina Faso. Segundo fontes locais, o assassinato esteve ligado a uma disputa de terras com um grupo de pastores fulani, e não a motivos religiosos. Vários outros foram também sequestrados pelo grupo armado, incluindo outro catequista, Jean Marie Yougbare, que foi brevemente detido e posteriormente libertado depois de os agressores se terem apercebido de que os tinha acolhido em sua casa durante uma tempestade.[32]

No final de agosto de 2024, pelo menos 100 residentes e soldados foram mortos no centro do Burkina Faso quando combatentes do JNIM atacaram a cidade de Barsalogho, a cerca de 80 km da capital. O ataque, um dos mais mortíferos do ano, teve como alvo os habitantes locais que foram obrigados a cavar trincheiras para as forças de segurança. A Al-Qaeda assumiu a responsabilidade, afirmando ter obtido "controle total sobre uma posição da milícia" em Kaya, uma cidade estratégica para os esforços de contrainsurgência. Vídeos analisados ​​por um especialista em segurança mostraram corpos empilhados perto das trincheiras.[33]

Apenas um dia depois do massacre de Barsalogho, os jihadistas mataram 26 pessoas numa igreja na aldeia de Sanaba, na diocese de Nouna, no oeste do Burkina Faso. A 25 de agosto de 2024, os insurgentes cercaram a aldeia, reuniram a população e separaram todos os homens com mais de 12 anos que fossem cristãos (católicos e protestantes), praticantes de religiões tradicionais ou considerados hostis à ideologia jihadista. Estes 26 homens foram levados para uma igreja protestante próxima e executados por corte de garganta. Nos dias seguintes, os jihadistas atacaram também três paróquias católicas próximas, provocando a fuga de cerca de 5.000 mulheres e crianças para Nouna. Entre maio e agosto de 2024, aproximadamente 100 cristãos foram mortos na região pastoril de Zekuy-Doumbala, tendo outros sido sequestrados.[34]

Um relatório da Human Rights Watch de setembro de 2024 destacou a escalada da violência islamista no Burkina Faso, com grupos armados ligados ao autoproclamado Estado Islâmico e à Al-Qaeda “massacrando residentes, deslocados e fiéis cristãos”.[35]

Entretanto, a Human Rights Watch registrou massacres em grande escala de civis por parte do exército. Em fevereiro de 2024, 223 civis, incluindo pelo menos 56 crianças, foram mortos nas aldeias de Soro e Nondin.[36] Um sobrevivente disse que o exército acusou os residentes de não os informar sobre os movimentos jihadistas. Em maio de 2025, pelo menos mais 130 pessoas morreram num massacre levado a cabo pelas forças especiais burquinabês perto da cidade de Solezno, no oeste do país.[37]

Como o JNIM recrutou muitos fulanis para as suas fileiras, os Voluntários para a Defesa da Pátria, apoiados pela junta, atacaram e mataram civis fulanis na capital Ouagadougou e na segunda maior cidade, Bobo-Dioulasso, além de massacrar 31 membros de famílias fulanis na cidade de Nouna, no noroeste.[38]

É provável que novas atrocidades tenham sido cometidas pelo exército e pelas suas milícias aliadas, dada a forma como a junta tentou impor um bloqueio de notícias, expulsando jornalistas e bloqueando agências de notícias, especialmente aquelas que noticiaram a execução de civis pelo exército. Em março de 2023, o Governo suspendeu as emissões da France 24 "até novo aviso", tendo já suspendido as da Rádio França Internacional em dezembro de 2022. As medidas foram denunciadas pelos Repórteres Sem Fronteiras como "um novo ataque à liberdade de informar".[39]

Em abril de 2023, o Governo deu a duas jornalistas – Sophie Douce, do Le Monde, e Agnes Faivre, do Libération – 24 horas para abandonarem o país. O Libération estava a investigar um vídeo que mostrava crianças e adolescentes a serem executados num quartel militar, com pelo menos um soldado evidentemente insatisfeito com o que estava a acontecer.[40] A Al Jazeera publicou um comentário dos Repórteres Sem Fronteiras dizendo que o Governo estava a visar a comunicação social para "camuflar os seus abusos".[41]

Em abril de 2024, após os massacres do exército em Soko e Nondin, a junta militar suspendeu o acesso às cadeias noticiosas que cobriam a história, incluindo Deutsche Welle, Le Monde, The Guardian, TV5 Monde, BBC e Voice of America.[42]

No domingo, 6 de outubro de 2024, os jihadistas atacaram a cidade de Manni, na região leste do Burkina Faso, tendo como alvo um mercado onde muitos cristãos se reuniam após a missa. A violência prolongou-se por três dias, incluindo agressões a funcionários do hospital e um massacre de homens que permaneceram na cidade. Fontes locais estimam que mais de 150 civis, entre cristãos e muçulmanos, tenham sido mortos. O Bispo Pierre Claver Malgo, de Fada N'Gourma, condenou a atrocidade como "bárbara", lamentando o atentado à dignidade humana e exortando os fiéis a permanecerem unidos e esperançosos.[43]

No dia 25 de janeiro de 2025, quatro catequistas da paróquia de Ouakara, na diocese de Dédougou, foram emboscados perto de Bondokuy, quando regressavam de uma formação sobre o ministério catequético. O grupo seguia em duas motos quando dois homens armados atacaram. Os catequistas da primeira moto conseguiram fugir para a floresta, enquanto os outros dois foram encontrados brutalmente assassinados. O comissário da polícia de Bondokuy informou que este foi o quarto assassinato deste tipo na zona, atribuindo a violência a bandidos armados que tentavam fazer-se passar por terroristas para justificar os seus ataques e espalhar o medo entre a população.[44]

Apesar da violência extremista em curso, registraram-se alguns momentos de união.

Em abril de 2023, vários jovens muçulmanos e cristãos burquinenses reuniram-se na praça pública de Ouagadougou ao pôr-do-sol para quebrarem o jejum em conjunto. O evento, realizado durante o Ramadã e a Quaresma, teve como objetivo promover a tolerância religiosa face à insurgência em curso no Burkina Faso. Organizado por um grupo local de jovens inter-religiosos, o evento contou com a partilha de alimentos e orações como um ato simbólico de unidade contra as forças militantes que tentam explorar as divisões étnicas e religiosas.[45]

No dia 17 de junho de 2023, o Burkina Faso e a Santa Sé celebraram 50 anos de relações diplomáticas. Em uma cerimônia em Roma, Jean Marie Karamoko Traoré, Ministro Delegado do Burkina Faso para a Cooperação Regional, descreveu a Igreja Católica como "inseparável" do desenvolvimento do país, elogiando o seu papel na educação, na catequese e no empoderamento dos jovens e das mulheres. Expressou ainda gratidão pela solidariedade da Igreja durante a atual crise de segurança, mencionando: "Desde o início dos ataques terroristas, temos experimentado a solidariedade, a compaixão e o testemunho de amor da Igreja".[46]

No dia 3 de outubro de 2024, o Presidente interino Ibrahim Traoré despediu-se do núncio apostólico, Dom Michael Francis Crotty, no final da sua missão. Dom Crotty expressou gratidão pela calorosa hospitalidade recebida durante os seus quatro anos no país, destacando a sua satisfação pela sua missão religiosa como representante do Papa. Transmitiu as saudações e o apoio espiritual do Papa Francisco ao povo do Burkina Faso, especialmente aos afetados pelo terrorismo. Reafirmou ainda o compromisso da Igreja Católica em apoiar o desenvolvimento do país, sobretudo nas áreas da educação e da saúde.[47]

Perspectivas para a liberdade religiosa

As perspectivas para a liberdade religiosa no Burkina Faso continuam profundamente preocupantes. O país enfrenta uma das mais graves crises humanitárias do mundo, impulsionada pela insegurança enraizada, pela pobreza generalizada e pela fragilidade institucional. Mais de dois milhões de pessoas foram deslocadas internamente,[48] muitas como consequência direta da violência de natureza religiosa. Tanto as comunidades cristãs como as muçulmanas têm sofrido ataques jihadistas devastadores, sendo os locais de culto cada vez mais visados ​​durante as celebrações. Os líderes religiosos são frequentemente sequestrados ou mortos, muitas vezes impunemente. Apesar de as narrativas oficiais sugerirem progressos, o Governo não conseguiu até agora restaurar a segurança básica nem proteger o direito ao culto, o que levanta sérias preocupações para os próximos dois anos.

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Notas e Fontes

[1]  “Charte de la transition”, Sidwaya, 14 de outubro de 2022, https://www.sidwaya.info/wp-content/uploads/2022/10/CHARTE-ET-ACTE-1.pdf (acessado em 10 de julho de 2025).

[2] “Burkinabe Parliament Approves Revision of Constitution”, Sputnik Africa, 31 de dezembro de 2023, https://en.sputniknews.africa/20231231/burkinabe-parliament-approves-revision-of-constitution-1064401170.html (acessado em 10 de julho de 2025).

[3] Governo do Burkina Faso (Serviço de Informação do Governo), “Charte de la Transition modifiée”, SIG Burkina Faso, 25 de maio de 2024, https://www.sig.gov.bf/details?cHash=afb8ddaea2be62f10e92420ec40b5b4b&tx_news_pi1%5Baction%5D=detail&tx_news_pi1%5Bcontroller%5D=News&tx_news_pi1%5Bnews%5D=1832 (acessado em 10 de julho de 2025).

[4] Governo do Burkina Faso, “Décret N° 2024‑1430”, Sidwaya, 29 de outubro de 2024, https://www.sidwaya.info/wp-content/uploads/2024/11/DECRET-N-2024-1430-1.pdf (acessado em 10 de julho de 2025).

[5] “Burkina Faso’s Constitution 1991”, Constitute Project, https://www.constituteproject.org/constitution/Burkina_Faso_2015.pdf?lang=en (accessed 20th February 2025).

[6] “Burkina Faso’s Constitution 1991”, Constitute Project, op. cit.

[7] “Burkina Faso’s Constitution 1991”, Constitute Project, op. cit.

[8] “Burkina Faso”, 2023 International Religious Freedom Report, Departamento de Estado Norte-Americano, https://www.state.gov/reports/2023-report-on-international-religious-freedom/burkina-faso/ (acessado em 10 de julho de 2025).

[9] “Burkina Faso”, 2023 International Religious Freedom Report, op. cit.

[10] “Burkina Faso”, 2023 International Religious Freedom Report, op. cit.

[11] “Santa Sede–Burkina Faso, accordo sullo statuto giuridico della Chiesa cattolica”, Vatican News, 11 de outubro de 2024, https://www.vaticannews.va/it/vaticano/news/2024-10/accordo-santa-sede-burkina-faso-stato-giuridico-chiesa-cattolica.html (acessado em 10 de julho de 2025).

[12] “Agreement between Holy See and Burkina Faso comes into effect”,  Vatican News, 7 de setembro de 2020, https://www.vaticannews.va/en/vatican-city/news/2020-09/agreement-between-holy-see-and-burkina-faso-goes-into-effect.html (acessado em 10 de julho de 2025).

[13] “Timeline: Burkina Faso from popular uprising to soldier mutinies”, Al Jazeera, 23 de janeiro de 2022, https://www.aljazeera.com/news/2022/1/23/timeline-burkina-faso-unrest (acessado em 10 de julho de 2025).

[14] “Global Terrorism Index 2025: Measuring the Impact of Terrorism”, Institute for Economics & Peace, março de, https://www.visionofhumanity.org/wp-content/uploads/2025/03/Global-Terrorism-Index-2025.pdf (acessado em 10 de julho de 2025).

[15] Giovanni Carbone e Camillo Casola (eds.), “Sahel: 10 Years of Instability – Local, Regional and International Dynamics”, ISPI, 10 de outubro de 2022, https://www.ispionline.it/sites/default/files/10_years_instability_sahel_report.ispi_.2022_0.pdf (acessado em 10 de julho de 2025).

[16]  Morgane Le Cam, “Burkina Faso civilians pay ruling junta’s anti-jihadist strategy with their lives”, Le Monde, 28 de agosto de 2024, https://www.lemonde.fr/en/le-monde-africa/article/2024/08/28/burkina-faso-civilians-pay-ruling-junta-s-anti-jihadist-strategy-with-their-lives_6722795_124.html (acessado em 21 de julho de 2025).

[17] “Global Terrorism Index 2025: Measuring the Impact of Terrorism”, op. cit.

[18] Saskya Vandome et al., “Massacre in Burkina Faso left 600 dead, double previous estimates, according to French security assessment”, CNN, 4 de outubro de 2024, https://edition.cnn.com/2024/10/04/africa/burkina-faso-massacre-600-dead-french-intel-intl (acessado em 21 de julho de 2025).

[19] “Burkinabe President Troaré initiates Africa’s anti-colonial revolt”, Alsasfa, 6 de junho de 2025, https://www.alsafanews.com/article/19281-burkinabe-president-traore-initiates-africas-anticolonial-revolt (acessado em 22 de julho de 2025).

[20] “ECOWAS suspends Burkina Faso after military coup”, Al Jazeera, 28 de janeiro de 2022, https://www.aljazeera.com/news/2022/1/28/ecowas-suspends-burkina-faso-after-coup (acessado em 21 de julho de 2025).

[21] “Defining a new approach to the Sahel’s military-led states”, International Crisis Group, 22 May 2025, https://www.crisisgroup.org/africa/sahel/burkina-faso-mali-niger/defining-new-approach-sahels-military-led-states (acessado em 10 de julho de 2025).

[22] “Burkina Faso, Mali and Niger Agree to Grace Period in ECOWAS Withdrawal”, Al Jazeera, 15 de dezembro de 2024, https://www.aljazeera.com/news/2024/12/15/burkina-faso-mali-and-niger-agree-to-grace-period-in-ecowas-withdrawal (acessado em 21 de março de 2025).

[23] Jude Atemanke, “Malian‑born Catholic Priest Murdered in Burkina Faso, Bishop Confirms with ‘deep sorrow’”, ACI Africa, 4 de janeiro de 2023, https://www.aciafrica.org/news/7366/malian-born-catholic-priest-murdered-in-burkina-faso-bishop-confirms-with-deep-sorrow (acessado em 10 de julho de 2025).

[24] Gabinete de Imprensa e Media da Comunidade Muçulmana Ahmadi, “Nine Ahmadi Muslims Murdered in Brutal Terrorist Attack on Mosque in Burkina Faso”, Press Ahmadiyya, 12 de janeiro de 2023, https://www.pressahmadiyya.com/press-releases/2023/01/terrorists-attack-mosque-and-execute-nine-ahmadi-muslims-in-burkina-faso/ (acessado em 10 de julho de 2025)

[25] “Burkina Faso: New chapter of suffering for Christians”, AIS Internacional,  21 de novembro de 2023, https://acninternational.org/burkina-faso-new-chapter-of-suffering-for-christians/  (acessado em 10 de julho de 2025).

[26] “Burkina Faso Mosque Attack: Dozens Killed During Prayers”, BBC News, https://www.bbc.com/news/world-africa-68408405 (acessado em 16 de março de 2025).

[27] “Burkina Faso Mosque, Church Attacks Kill Dozens”, VOA Africa, https://www.voaafrica.com/a/burkina-faso-mosque-church-attacks-kills-dozens-/7502635.html (acessado em 14 de março de 2025).

[28] Ibid.

[29] “Burkina Faso: Living with terror in the land of ‘people of integrity’”, AIS Internacional, 13 de março de 2024, https://acninternational.org/burkina-faso-living-with-terror-in-the-land-of-people-of-integrity/ (acessado em 10 de julho de 2025).

[30] Conferência Episcopal Burkina‑Níger, “Burkina / Église catholique : Une trentaine de paroisses fermées ou inaccessibles à cause de l’insécurité”, LeFaso.net, 19 de fevereiro de 2024, https://lefaso.net/spip.php?article128099 (acessado em 10 de julho de 2025).

[31] “Terrorism increases in Burkina Faso”, AIS Internacional, 10 de janeiro de 2024, https://acninternational.org/terrorism-increases-in-burkina-faso/ (acessado em 10 de julho de 2025).

[32] “Catechist murdered in the east of the Country”, Agenzia Fides, 26 de abril de 2024, https://www.fides.org/en/news/74938-AFRICA_BURKINA_FASO_Catechist_murdered_in_the_east_of_the_Country (acessado em 10 de julho de 2025).

[33] Sina Hartet, “Over 150 killed in one of the deadliest attacks in the history of Burkina Faso”, AIS Internacional, 5 de junho de 2024, https://acninternational.org/over-150-killed-in-one-of-the-deadliest-attacks-in-the-history-of-burkina-faso/ (acessado em 10 de julho de 2025).

[34] Sina Hartet e Maria Lozano, “ACN denounces new Islamist massacres in Burkina Faso”, AIS Internacional, 30 de agosto de 2024, https://acninternational.org/acn-denounces-new-islamist-massacres-in-burkina-faso/ (acessado em 10 de julho de 2025).

[35] “Burkina Faso: Islamist Armed Groups Terrorize Civilians”, Human Rights Watch, 18 de setembro de 2024, https://www.hrw.org/news/2024/09/18/burkina-faso-islamist-armed-groups-terrorize-civilians (acessado em 10 de julho de 2025).

[36] Mark Townsend, “Burkina Faso soldiers massacred 223 civilians in one day”, The Guardian, 25 de abril de 2024, https://www.theguardian.com/global-development/2024/apr/25/220-civilians-burkina-faso-human-rights-watch-killings-two-villages (acessado em 22 de julho de 2025).

[37] Basillioh Rukanga, “Burkina Faso military accused of killing over 100 civilians in massacre”, BBC, 12 de maio de 2025, https://www.bbc.co.uk/news/articles/cgj871wej3lo (acessado em 22 de julho de 2025).

[38] “They even murder children: Burkinabes caught in conflict crossfire”, Radio France International, 5 de outubro de 2024, https://www.rfi.fr/en/africa/20241005-they-even-murder-children-burkinabes-caught-in-conflict-crossfire (acessado em 22 de julho de 2025).

[39] “RSF condemns France 24’s suspension by Burkina Faso junta”, Reporters Without Borders, https://rsf.org/en/rsf-condemns-france-24-s-suspension-burkina-faso-s-junta (acessado em 22 de julho de 2025).

[40] “Burkina Faso expels reporters from French newspapers ‘Le Monde’, ‘Liberation’”, France 24, 2 de abril de 2023, https://www.france24.com/en/africa/20230402-burkina-faso-expels-reporters-from-french-newspapers-le-monde-liberation (acessado em 22 de julho de 2025).

[41] “Burkina Faso expels two journalists working for French newspapers”, Al Jazeera, 2 de abril de 2023, https://www.aljazeera.com/news/2023/4/2/burkina-faso-expels-two-journalists-working-for-french-newspapers (acessado em 22 de julho de 2025).

[42] “Burkina Faso suspends more international news media”, Le Monde, 28 de agosto de 2024, https://www.lemonde.fr/en/le-monde-africa/article/2024/04/28/burkina-faso-suspends-more-international-news-media-including-le-monde_6669810_124.html (acessado em 22 de julho de 2025).

[43] “Burkina Faso: Terrorists carry out brutal massacre over three days”, AIS Internacional, 16 de outubro de 2024, https://acninternational.org/burkina-faso-terrorists-carry-out-brutal-massacre-over-three-days/ (acessado em 10 de julho de 2025).

[44] Sina Hartert e Maria Lozano, “Burkina Faso: Two catechists brutally killed in a road attack”, AIS Internacional, 11 de fevereiro de 2025, https://acninternational.org/burkina-faso-two-catechists-brutally-killed-in-a-road-attack/ (acessado em 10 de julho de 2025).

[45] “Burkina Faso Muslims and Christians Back Unity Amid Insurgency”, Reuters, https://www.reuters.com/article/world/burkina-faso-muslims-and-christians-back-unity-amid-insurgency-idUSKCN2VY259/ (acessado em 21 de março de 2025).

[46] Françoise Niamien e Paul Samasumo, “Burkina Faso – Saint‑Siège : ‘ 50 ans de relations diplomatiques inspirées par l’amour ’", Vatican News, 21 de junho de 2023, https://www.vaticannews.va/fr/afrique/news/2023-06/burkina-faso-saint-siege-50-ans-de-relations-diplomatiques.html (acessado em 10 de julho de 2025).

[47] "Coopération : Le Nonce apostolique en fin de mission fait ses adieux au Chef de l’État", Burkina 24, https://burkina24.com/2024/10/03/cooperation-le-nonce-apostolique-en-fin-de-mission-fait-ses-adieux-au-chef-de-letat (acessado em 20 de março de 2025).

[48] Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), “Burkina Faso, Mali and Western Niger — Humanitarian Snapshot (As of 10 June 2025)”, OCHA, 10 de junho de 2025, https://www.unocha.org/publications/report/burkina-faso/burkina-faso-mali-and-western-niger-humanitarian-snapshot-10-june-2025 (acessado em 10 de julho de 2025).

ACN (BRASIL). Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo. 17° ed. [s. l.]: ACN, 2025. Disponível em: https://www.acn.org.br/relatorio-liberdade-religiosa.