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O ódio vencido pelo amor: 70 anos do Milagre de Vinkt

Publicado em: maio 26th, 2020|Categorias: Notícias|Views: 530|

No dia 27 de maio de 1940, o vilarejo de Vinkt, perto da cidade de Gantes, Bélgica, foi palco de um dos maiores crimes cometidos na frente ocidental na Segunda Guerra Mundial. Oitenta e seis civis foram executados num massacre perpetrado pelas tropas alemãs. O padre holandês Werenfried Van Straaten, fundador da ACN, reconheceu os perigos de uma Europa dividida pelo ódio e dedicou sua vida a restaurar o amor. Aliás foi também em Vinkt, dez anos após os terríveis acontecimentos, que algo aconteceu. Vale a pena lembrar.

Era o fim da Segunda Guerra Mundial. Como ficou decidido pelas potências vitoriosas na Conferência de Yalta e no acordo de Potsdam, quatorze milhões de alemães foram expulsos das províncias orientais no início de 1945. Na Alemanha Ocidental, a maioria das pessoas deslocadas, entre as quais seis milhões de católicos, viviam em condições desumanas em bunkers ou campos. O sofrimento de milhões de pessoas deslocadas lembrou ao Padre Werenfied van Straaten o primeiro Natal, quando não havia lugar na hospedaria para a Sagrada Família, porque “seu povo” não tinha amor…

Sem lugar na hospedaria

O jovem padre apelou para a consciência cristã de seus compatriotas, os convocando a amar seus inimigos e vizinhos. Conforme o artigo “Sem lugar na hospedaria”, escrito em 1947 para a edição de Natal da revista de Abadia de Tongerlo, na Bélgica, ele apelava aos seus concidadãos, que ainda pranteavam seus parentes mortos pelos alemães, para fazerem um gesto de reconciliação.

E o inacreditável aconteceu: a resposta ao artigo foi avassaladora, levantando uma onda de doação entre o povo belga. Enquanto três mil padres católicos que estavam entre os deslocados, chamavam a si a tarefa de distribuir ajuda entre os necessitados, a nova organização de caridade nascente recebeu o nome de Ostpriesterhilfe (Ajuda aos Padres do Leste).

‘’Que Deus nos preserve do ódio”

O nome “Werenfried” significa “guerreiro da paz”. Este nome se tornou no seu programa de vida. Em 1948, o Padre Werenfried recolhia doações de toucinho dos fazendeiros belgas, uma iniciativa que teve grande sucesso e que lhe rendeu o apelido de “Padre Toucinho”. Então, em 1950, exatos 10 anos depois do massacre descrito acima, ele viajou a Vinkt para pregar. Em suas memórias, o Padre Werenfied escreve que estava apreensivo em relação ao sermão. “Eu não era uma pessoa medrosa, mas naquele momento tive medo”. Com razão, considerando que o ressentimento e o ódio nos corações das pessoas ainda tinham que ser vencidos. A vítima mais idosa do massacre tinha 89 anos e, a mais nova, 13. Quase todas as famílias tinham sofrido uma perda. Até mesmo o pároco local advertiu o Padre Werenfried sobre o risco da empreitada.

“Você irá falar para cadeiras vazias”

“Dirigi até Vinkt, cheguei um dia antes para sentir o ambiente. Contudo, cheguei na casa paroquial ao anoitecer do sábado. Apreensivo, o padre ergueu suas mãos e exclamou: ‘Não vai dar, padre, as pessoas não querem. Estão dizendo: O quê?! Esse padre está vindo aqui pedir ajuda para os alemães? Aquelas pessoas desprezíveis que mataram nossos homens e rapazes? Nunca! Nem mesmo uma única alma vai ouvir sua pregação. Você irá falar para cadeiras vazias, se quiser. E deve se considerar muito sortudo por ser um padre. Caso contrário, você levaria uma surra’”.

“O que eu podia fazer? Depois de conversar com o padre, resolvi me preparar para o discurso daquela noite fazendo o sermão de todas as celebrações do domingo. E assim, para surpresa de todos, era eu que estava no púlpito na manhã seguinte, durante quinze minutos inteiros, falando de amor. Foi o sermão mais difícil que fiz em toda a minha vida. Mas funcionou!” Lembrou mais tarde Werenfried van Staaten.

O milagre: “Os seres humanos são melhores do que pensamos”

“E, depois da bênção, ao final da Missa, quando a igreja já estava completamente vazia – porque as pessoas têm vergonha de mostrar o quanto são boas! – uma mulher veio timidamente para a frente. Não disse nada, mas me entregou mil francos e partiu, antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa. Por sorte, o padre acabava de sair da sacristia e a viu partir. Me disse que ela era a esposa de um fazendeiro comum e que seu marido, seu filho e seu irmão haviam sido mortos pelos alemães em 1940. Ela foi a primeira”, continuou ele.

“Naquela noite, a sala estava cheia. Durante duas horas, falei da situação desesperadora dos fiéis atendidos pelos padres de mochila. Não pedi a eles toucinho, dinheiro ou roupas. Apenas pedi amor e, no final, perguntei se poderiam se unir a mim em oração pelos irmãos sofredores da Alemanha. Eles rezaram com lágrimas nos olhos. Naquela noite, por volta das onze horas, quando estava escuro e ninguém os poderia reconhecer, eles vieram. Um depois do outro, até a casa paroquial, entregar seus envelopes com cem francos, com quinhentos francos, com uma carta acompanhando… E bem cedo, na manhã seguinte, antes que eu partisse, eles vieram novamente até a casa paroquial (…). Recebi dezessete envelopes com dinheiro. Transferiram também dinheiro para minha conta bancária. Arrecadaram toucinho. Adotaram um padre alemão. Isso é Vinkt! O ser humano é melhor do que pensamos”

O Navio Europa: só uma vida cristã pode nos salvar

Padre Werenfried van Straatem percebeu que a paz e a reconciliação jamais voltariam enquanto o ódio permanecesse no coração das pessoas. “Todos estamos a bordo de um navio e esse navio se chama Europa (…) Quando esse navio tem um buraco, todo o resto se torna irrelevante. E o Navio-Europa, com seus países, tem um buraco. Então, agora temos todos que arregaçar as mangas e começar a bombear, caso contrário todos iremos naufragar, não importa em que lado estejamos”. Ele continuou: “Nem a bomba atômica nem o plano Marshall nos salvarão, mas somente uma verdadeira vida cristã. Somente pelo amor, a marca do cristão, a ordem pode ser restabelecida”.

O Navio Mundo

Quando o Padre Werenfried visitou o Brasil pela última vez, em 1997, ele usou a metáfora do navio novamente. Porém, naquela época, ele ampliou sua reflexão e se referiu ao navio como o nosso mundo. Ele lembrou que precisávamos ter a consciência de que estamos todos no mesmo barco e que o amor sem medidas é a solução para a humanidade, para consertar os buracos no casco deste navio.

A ACN é assim, uma obra de amor ao próximo, impulsionada sempre pela ação e testemunho de caridade dos seus benfeitores que, como a mulher da cidade de Vinkt, ainda hoje praticam a caridade sem olhar as diferenças ou inimizades, mas a necessidade do próximo. É essa obra que você também é chamado a fazer parte. Clique aqui e faça a sua doação.

Assista também o próprio Padre Werendried contando a história do milagre de Vinkt no canal da ACN no Youtube. Clique aqui para assistir.

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Um comentário

  1. Maria Lúcia e João Pedro 28 de maio de 2020 at 06:50 - Responder

    Amo padre werenfrid porque p me toca minha alma quando peço alguma coisa. também retribuo no que posso, me encanta suas ações. Conheci mais um pedacinho da sua história.maria

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