Melhorar a condição de vida não é somente uma questão econômica. A evangelização no Peru, em especial nos subúrbios, tem prioridade, é o que afirma Marco Mencaglia, chefe do departamentos de projetos para o Peru da Fundação Pontifícia ACN em entrevista feita por Amélie Berthein – de La Rougue.

Amélie Berthein: Como você descreveria a situação da Igreja no Peru hoje?

Marco Mencaglia: Para descrever a situação da Igreja no Peru, deve-se levar em consideração a grande diversidade geográfica do país; composto de regiões urbanas, montanhosas e florestais. Alcançar a unidade é provavelmente o desafio de maior prioridade. A Igreja peruana ainda está em desenvolvimento. Assim, o clero local tem que assumir total responsabilidade pelo cuidado pastoral em várias dioceses. A parcela de 47% dos bispos são de países estrangeiros e 57% deles são membros de uma ordem religiosa.

O único outro país da América do Sul com uma situação semelhante é a Bolívia. Experiências de evangelização no Peru feitas em ambientes difíceis tem sido verdadeiramente positivas. Destaca-se a beleza de um povo com espírito religioso muito ativo. Entretanto, dois desafios cruciais permanecem para a Igreja no Peru: o fortalecimento do cuidado pastoral e o desenvolvimento de uma fé madura.

Em que áreas a Igreja está mais ativa no momento?

A prioridade reside na evangelização dos subúrbios das cidades grandes. Milhões estão deixando as montanhas e se estabelecendo nas metrópoles de Lima e Arequipa. Esta tendência pode ser vista em todas as capitais regionais, embora em escala menor. Desse modo, a Igreja não pode focar somente no extremo das condições sociais, mas também formar uma comunidade com famílias que vem de diferentes partes do país e que frequentemente não tem tempo para se conhecerem por causa do trabalho.

Em outras regiões periféricas do país, nas mais remotas vilas, a 4.000 m acima do nível do mar, ou na região amazônica por exemplo, o serviço da Igreja continua a ser de extrema importância para alcançar milhares de comunidades pequenas. Uma única paróquia frequentemente presta serviços pastorais para mais de cinquenta comunidades. Nesse caso, uma visita de um padre ou de uma freira é um acontecimento de grande magnitude.

Em 2016 o Peru foi consagrado ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração da Virgem Maria. Qual foi a razão para esta consagração? Foi o desejo do presidente? Foi um momento significante para o país? Para a Igreja?

Esta consagração foi resultado da iniciativa do presidente durante o encontro anual dos políticos cristãos, para discutir assuntos cristãos. Este “National Prayer Breakfast” (café da manhã nacional de oração) é uma tradição que foi importada dos EUA. Nos EUA este é um evento que todo presidente, desde Eisenhower, comparece. O presidente Kuczynski, que trabalhou muitos anos como economista nos EUA, decidiu iniciar este evento no Peru. Por esta razão, a consagração neste contexto é para ser vista como declaração individual, que fazia parte do discurso político; não aconteceu durante celebração ou na presença de representantes da Igreja Católica.

Além disso, o partido político do presidente não exibe ponto de vista cristão em assuntos como aborto ou casamento homossexual.

Igreja e seitas: os evangélicos tem papel importante na vida religiosa do Peru? Isto é uma “ameaça” à Igreja?

Durante minhas viagens à América Latina, a minha impressão é que há um forte sentimento de filiação à Igreja Católica; frequentemente baseada na veneração popular aos santos e aos dias festivos tradicionais.

É interessante observar que em várias regiões, das mais remotas, estas tradições foram capazes de sobreviver por séculos; apesar da fraca presença oficial da Igreja. Entretanto, ao mesmo tempo, as seitas evangélicas estão fazendo progresso, especialmente naquelas áreas onde a Igreja não consegue mais manter presença. Este é aparentemente o caso dos subúrbios já mencionados. Ali, o crescimento desordenado da população torna impossível que a Igreja Católica mantenha presença constante.

De fato, o crescimento populacional é um fator que deve ser sempre levado em consideração na América Latina. Na Europa, o objetivo é manter o atual número de clérigos e ajudantes pastorai; isto, entretanto, não é o suficiente para a América Latina. Cerca de 32 milhões de pessoas vivem atualmente no Peru. A população cresceu 160% nos últimos cinquenta anos. Na França, no mesmo período, houve um crescimento populacional em torno de trinta por cento.

Portanto, o maior desafio da Igreja Católica é restabelecer contato com as comunidades; a fim de se reunir com as famílias e pessoas em lugares onde sua presença desapareceu com o passar do tempo.

Nos últimos anos a economia do Peru cresceu, você vê uma melhora correspondente nas condições de vida dos peruanos?

O crescimento econômico não está acontecendo igualmente nas várias regiões do país, devido à vasta diversidade geográfica. Por essa razão, há a migração interna constante e contínua para os subúrbios das cidades grandes. As áreas rurais são difíceis de serem alcançadas, com a  população partindo em busca de melhores oportunidades nas cidades mais importantes. A melhora nas condições de vida, por outro lado, não caminha com a melhora no desenvolvimento do povo em si.

Isso é evidente no contínuo crescimento gigantesco dos subúrbios de Lima, Arequipa e de outras cidades grandes no país. Assim, em muitas famílias, os pais deixam seus filhos sozinhos em casa o dia todo, para irem ao trabalho que fica longe de suas casas. Essa triste realidade leva ao crescimento descontrolado no número de gangues, tráfico de drogas e crimes. Como foi o caso em outros países da América Latina, melhorar a condição de vida dos habitantes do Peru é mais que um problema de caráter econômico. A esse respeito, é claro, a Igreja pode fazer uma contribuição importante.


A Fundação Pontifícia ACN concedeu apoio financeiro para 650 candidatos ao sacerdócio em vinte seminários no Peru. Ademais, a ACN ajuda no projeto de construção de um convento para as irmãs da Santíssima Trindade; além da ajuda emergencial para as famílias vitimas das enchentes de janeiro de 2017, entre outros projetos.

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