“O caso Timoshenko representa um fenômeno ameaçador. O sistema judicial da Ucrânia é corrupto”. Com estas palavras, Borys Gudziak, Reitor da Universidade Católica Ucraniana (UCU) de Lviv, criticou a justiça do seu país em uma entrevista a colaboradores da associação católica internacional Ajuda à Igreja Que Sofre (AIS), na qual reforçou a necessidade de solidarizar-se com os injustiçados.


O Padre Gudziak explicou à AIS que “as atividades criminais das pessoas no poder são frequentemente toleradas, enquanto pessoas relativamente inocentes se convertem em vítimas daqueles que manipulam o sistema criminal judicial. Por isso, é importante que se manifeste a solidariedade internacional com aqueles que sofrem a injustiça.”

Gudziak se refere ao caso da ex-primeira-ministra ucraniana Yulia Timoshenko, condenada em outubro de 2011 a sete anos de prisão por abuso de poder quando intermediava a negociação de gás natural entre seu país e a Rússia em 2009. O caso vem gerando tensão entre a capital Kiev e o ocidente inteiro, e, de maneira mais pronunciada, entre os países vizinhos membros da União Europeia que consideram a prisão da ex-ministra um sentença “seletivamente aplicada sob motivação política.”

Vale recordar que a Ucrânia pertenceu ao bloco da União Soviética comunista até a queda do regime de Moscou na década de 90. Durante a era do comunismo soviético a Igreja Católica foi impedida de realizar sua missão sendo perseguida por parte das autoridades que levaram à prisão bispos e sacerdotes católicos, alguns dos quais foram assassinados ou deportados.

Borys Gudziak, nascido nos Estados Unidos, é sacerdote da Igreja Greco-Católica da Ucrânia e, desde 2002, é Reitor da Universidade Católica Ucraniana (UCU) de Lviv. Entre outras instituições, estudou na Universidade de Harvard e no Instituto Pontifício Oriental de Roma.

Ao ser perguntado sobre o possível boicote gerado pelo caso Timoshenko à Eurocopa de futebol que este ano tem como sedes a Polônia e a Ucrânia, o Reitor afirmou: “O Governo ucraniano gerou uma indignação internacional. Mas, não menos indignação deveria mostrar-se frente ao que está acontecendo na Rússia, onde o regime exerce pressão sobre jornalistas e os líderes que defendem os direitos civis: ali está sendo lesada de modo mais grave que na Ucrânia a livre expressão política e inclusive religiosa. Entretanto, não ouvimos que haverá um boicote aos acontecimentos previstos na Rússia como os futuros Jogos Olímpicos de inverno em Sochi”.

Falando da situação em seu país o sacerdote e acadêmico Greco-Católico afirmou que o atual cenário político na Ucrânia é “tenso e imprevisível”.

“Existe o temor de que Ucrânia não só caminhe em direção a um estado autoritário ao estilo russo, mas para uma ditadura segundo o modelo bielorrusso. Não está claro se a oposição conseguirá unir-se e oferecer uma alternativa convincente às forças dominantes. Para compreender completamente a situação política é preciso entender a situação humana: no século XX, os ucranianos perderam 17 milhões de compatriotas devido ao totalitarismo e às guerras; por isso é um povo traumatizado”.

Diante da difícil situação, Borys Gudziak afirmou que “as confissões cristãs na Ucrânia e a Igreja Greco-Católica são chamadas a dizer a verdade, a atestar autênticos valores humanos para expressar assim a esperança de que a justiça e a dignidade humana podem prevalecer e prevalecerão”. “As igrejas deveriam conduzir seus fiéis para uma responsabilidade pessoal e social amadurecida”, concluiu.

A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) apoia mais de 40 projetos em cidades ucranianas, incluindo Lviv. A Associação é financiada exclusivamente com doações particulares e apoia a Igreja bem como seus membros que estão à serviço dos mais necessitados. Anualmente a AIS financia milhares de projetos ao redor do mundo, sobretudo de caráter pastoral, com particular atenção para os lugares onde a Igreja passa por necessidades materiais, espirituais e perseguição.

A AIS tem como prioridade o compromisso com a liberdade religiosa e a reconciliação. Desde sua fundação em 1947, a Associação tem sido a voz dos cristãos oprimidos e perseguidos. A cada dois anos, a entidade publica um relatório sobre a liberdade religiosa no mundo e um outro com foco na perseguição dos cristãos em escala internacional.

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