Um ano após a violência descrita como o pior surto de perseguição anticristã no Paquistão, líderes da Igreja expressam profunda preocupação. O medo de novos ataques aterroriza a comunidade, enquanto a falta de justiça gera indignação. Líderes religiosos da Diocese de Faisalabad relatam que as autoridades de segurança aconselharam os cristãos de Jaranwala a evitar eventos ao ar livre nesta sexta-feira, 16 de agosto. Afinal este dia marca o primeiro aniversário das atrocidades.
Em um único dia, milhares de pessoas incendiaram e saquearam mais de 25 igrejas e pelo menos 85 casas cristãs. Então os bispos do Paquistão chamaram o incidente de “o pior contra cristãos” nos 77 anos de história do país.
O Bispo Indrias Rehmat, de Faisalabad, falou para a ACN. “As pessoas estão com medo e se sentem desesperançosas, pois a justiça ainda não foi feita. Alguns estão com raiva e querem protestar. Eles exigem que lutemos por justiça, mas o que podemos fazer? Já que a justiça só pode vir do governo. A maioria dos culpados está em liberdade sob fiança, o que perturba a comunidade.” Ele acrescentou: “Os grupos extremistas querem vingança. Eles acreditam que, após o ocorrido em Jaranwala, perderam sua reputação como bons cidadãos e sua credibilidade.”
Pároco de Jaranwala avisa que missas serão rezadas hoje
O Padre Yaqub Yousif, pároco de Jaranwala, afirmou que, no aniversário de hoje, missas serão realizadas nas igrejas. Mas, segundo ele, as autoridades de segurança alertaram contra a aglomeração de pessoas do lado de fora.
O Padre Yousif e o Padre Boniface Mendes, sacerdote sênior da Diocese de Faisalabad, compartilham a frustração do Bispo Rehmat pela falta de justiça com os envolvidos na violência. O Padre Yousif disse: “As pessoas estão perturbadas pela ausência de justiça e se sentem muito inseguras. Se as instituições responsáveis por fornecer justiça não podem ajudar, o que podem fazer as minorias frágeis? Elas estão com medo.”
Segundo a Comissão Nacional de Justiça e Paz (NCJP), apenas cinco das 305 pessoas presas após os ataques 2023 permanecem detidas. A única pessoa condenada é um cristão, Ehsan Shan. Aliás ele cumpre prisão perpétua por blasfêmia após ser acusado de compartilhar uma imagem do Alcorão profanado nas redes sociais. O fato desencadeou a violência. O Padre Yousif ressaltou: “Gostaria de esclarecer que os cristãos nunca têm a intenção de desrespeitar o Alcorão ou o profeta. Afinal eles não veem absolutamente nenhum valor em atos de profanação.”
Fiéis estão com medo e são ameaçados
Dos 25 Primeiros Registros de Informação relacionados à atrocidade de Jaranwala, 17 foram registrados por cristãos. No entanto, o Padre Yousif afirmou que muitos fiéis retiraram as acusações devido a ameaças violentas.
Durante uma visita aos escritórios da ACN no Reino Unido, em Sutton, Surrey, o Padre Mendes comentou: “A justiça não foi feita nos últimos 12 meses. As pessoas certas deveriam ter sido condenadas, mas isso não aconteceu. O governo tem sido muito fraco e tem medo de agir. Sentimos que o governo está impotente. Isso faz com que a comunidade cristã se torne cada vez mais introspectiva e deseje deixar o país.”
Naeem Youssif Gill, diretor executivo da NCJP, afirmou: “A justiça deve ser aplicada com espírito de igualdade e conforme a lei. Medidas como interromper provocações por alto-falantes, banir organizações extremistas e apreender literatura que incita ódio devem ser intensificadas e avaliadas para garantir seu sucesso.”
Povo de Jaranwala espera por justiça
Embora o governo paquistanês tenha agido rapidamente para compensar as pessoas afetadas pelos ataques, a NCJP relata que apenas 26 das 86 casas danificadas foram renovadas. O Bispo Rehmat afirmou que interrompeu os reparos das igrejas patrocinados pelo governo desde o início, pois os empreiteiros estavam fazendo um péssimo trabalho, deixando os prédios inseguros.
Das 26 igrejas alvo dos ataques, 19 foram reparadas, com a NCJP relatando que a maior parte das reformas foi realizada pelas próprias comunidades cristãs. O Bispo Rehmat elogiou a ACN por fornecer apoio emergencial às famílias afetadas, incluindo itens básicos para cozinhas e banheiros, móveis, autorriquixás e outros meios de transporte para motoristas de táxi que precisavam reiniciar seus negócios.
Ele concluiu: “Em nome da comunidade de Jaranwala e de toda a diocese, gostaria de agradecer à ACN e aos generosos benfeitores que responderam às nossas necessidades. Eles compartilham de nossa missão. Do fundo do meu coração, agradeço a cada membro da ACN. Que possam continuar ajudando mais pessoas necessitadas.”
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