Todas as tardes André anda pelos longos corredores engradeados para distribuir uma pilha de revistas religiosas. As páginas marcadas e capas desgastadas mostram que aquele material já passou por diversas mãos e, como “a Palavra de Deus não volta sem ter cumprido seu efeito” (Is 55,11), muitos corações são tocados pelos textos e testemunhos escritos nos periódicos.

Essa história, de início, parece ser de um missionário itinerante ou do catequista de alguma comunidade. Mas na verdade André faz parte da “Igreja Cativa”, ele é um dos tantos presidiários católicos que cumprem pena nas penitenciárias do país e encontraram na fé a motivação para mudar o rumo de suas vidas se ressocializando por meio da reconciliação com Deus.

Semear a esperança e promover a conversão é uma tarefa difícil dentro das cadeias, pois as condições dessa realidade rebaixam a dignidade humana em um nível inacreditável. Segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), o Brasil é o quarto país no ranking de maior população carcerária no mundo. Os 622 mil detentos dividem as minúsculas celas planejadas para comportar no máximo 340 mil pessoas. A superlotação acaba gerando em grande parte das penitenciárias brasileiras uma série de problemas, como grande proliferação de doenças, mínimas condições de higiene, escassez de alimentos e fornecimento de água de má qualidade.

Toda essa situação caótica acaba gerando corações mais revoltados e endurecidos para a Palavra de Deus. Mas André, que tem o nome do apóstolo que apresentou Pedro a Jesus, não desanima de continuar promovendo esse encontro que transforma vidas. Na unidade em que cumpre sua pena ele abraçou a responsabilidade de anunciar o Evangelho por meio da distribuição das revistas “Mundo e Missão”, pois percebeu que suas histórias sensibilizam o coração dos condenados e geram abertura para uma mudança de comportamento. Um deles compartilhou sua experiência: “Eu agradeço a Deus toda vez que chega a revista. Rezo a cada página”. Assim, mesmo preso, André espalha a Boa Nova pelas grades, afinal, como diz Paulo quando também esteve encarcerado: “a palavra de Deus não se deixa acorrentar” (2Tm 2,9).

As revistas que chegam às mãos de André são distribuídas em outros presídios gratuitamente, graças ao apoio da ACN aos projetos do Pontifício Instituto das Missões Exteriores (PIME) e da Editora Cidade Nova (Focolares) que publicam, respectivamente, a revista “Mundo e Missão” e “Cidade Nova”. A Ajuda à Igreja que Sofre custeia assinaturas mensais de cada revista, que se tornam um rico material de catequese, informação e evangelização, distribuídas pela Pastoral Carcerária dentro dos presídios.

A gratidão é tanta que frequentemente os presidiários escrevem cartas agradecendo o envio e solicitando mais materiais para que outros condenados também possam ter acesso a essa “obra providencial”, como descrevem em uma das cartas. Eles também testemunham suas histórias e mostram comunhão dizendo que de suas catedrais de ferro também rezam pela Igreja do mundo inteiro.

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