“A Frei Antonio, meu bispo, Frei Francisco [deseja] saúde. Agrada-me que ensines sagrada teologia aos frades, contanto que nesse estudo não extingas o espírito de oração e devoção, como está contido na regra.”
O texto acima é uma pequena carta, praticamente um bilhete, de São Francisco de Assis a Santo Antonio de Pádua. Dois grandes santos contemporâneos do século XIII que deixaram grande legado para toda Santa Igreja. Embora pequena, vamos meditar dois pontos sobre esta carta.
Episcopo meo
Francisco tinha uma grande admiração por Antonio que, embora não tenha sido bispo, o chamava “episcopo meo” (meu bispo), pois o considerava um verdadeiro teólogo e pregador – ofício próprio dos bispos na Idade Média.
Francisco se preocupa que Antonio valorize mais o ensino do Sagrado e se esqueça de efetivamente viver o Sagrado. Uma preocupação legitima para aquele contexto de época – e atualíssima para os dias de hoje –, porém Antonio sabia o que estava fazendo e como estava fazendo. Dizia ele que “o pregador tem que haurir primeiro na oração, feita em segredo, aquilo que depois vai derramar em palavras sagradas. Tem que se afervorar primeiro por dentro, para não proferir palavras frias.”
A letra mata
Sobre “ensinar teologia” (apresentar Deus às pessoas), Francisco talvez aponte para duas maneiras de o fazer: um “modo vocação” e um “modo profissão”. Em outras palavras, sem a oração, sem proximidade com Deus, a Letra que foi feita para dar vida, pode levar a morte. Poderemos ser bons de oratória, mas vazios da mensagem que levamos – e isso é incoerência.
Para contribuir com o entendimento, recordo que Jesus pede para irmos além da justiça do mundo (Mt 5,20). Se a Lei nos orienta que é proibido e pecado matar, Jesus diz que já matamos quando ferimos o outro com nosso silêncio, desprezo, maledicência…
Essa é a preocupação de São Francisco a Antonio: cuidado com o rigorismo da Letra, cuidado para não fazer do Sagrado uma profissão sem vocação.
Numa carta tão pequena nós encontramos mais do que palavras escritas, encontramos o próprio Senhor. Rezemos para que o Senhor arranque as nossas vaidades e faça novos todos os homens, coerentes com a justiça que pedimos e misericordiosos pela mesma misericórdia que desejamos. Amém!
Diácono Bruno Redígolo
Colaborador ACN
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