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Capuchinho entre as geleiras: um bispo na frente norte da Igreja

Publicado em: setembro 5th, 2025|Categorias: Notícias|Views: 34|

Dom David Tencer é missionário na Islândia, onde o Atlântico encontra o Ártico, há mais de duas décadas. Desde 2015, o capuchinho eslovaco, conhecido pelo sorriso aberto, é responsável pela diocese mais ao norte da Europa. Durante uma visita à sede da ACN, mostrou que seu senso de humor está à altura dos desafios de sua missão.

A Diocese de Reykjavik foi criada em 1968 para atender a apenas 1.000 católicos em um território do tamanho da Coreia do Sul. Hoje esse número já alcança 15.500, de acordo com os dados oficiais. No entanto, o bispo acredita que a comunidade real pode chegar a 50.000 fiéis.

Esse crescimento reflete a força da Igreja Católica na Islândia e também revela a complexidade de sua missão pastoral. Afinal, trata-se de um território extenso, com clima rigoroso e uma população marcada pela imigração.

Uma Igreja formada por migrantes

Grande parte dos católicos na Islândia vem da Polônia, Lituânia, Filipinas e América Latina. Aprender o islandês, uma língua difícil e antiquíssima, é apenas um dos obstáculos para integrar a comunidade. Isso porque a missa é celebrada em cinco idiomas diferentes em qualquer domingo: islandês, polonês, inglês, espanhol e lituano.

"Nossa língua comum é a fé. Acreditamos na mesma coisa. A Igreja é nossa mãe", afirma Dom David Tencer. Para ele, o desafio é claro: "Muitas pessoas vêm para cá trabalhar, porque é possível ganhar bem, mas e a fé delas? É aí que precisamos estar especialmente atentos. A liturgia varia muito de país para país, mas a fé é a mesma. É isso que nos une."

O bispo se orgulha da vitalidade da Igreja local. "Em 2023, tivemos 150 batismos, 200 crismas e apenas 14 funerais. Isso mostra que nossa Igreja é a mais dinâmica da Europa", explica, ressaltando: "Nada disso é mérito nosso, Deus é quem envia essas pessoas para nós."

Capuchinho em meio ao clima rigoroso

O trabalho pastoral enfrenta enormes dificuldades. Com apenas 18 padres e algumas religiosas, a diocese precisa atender um país onde as estradas podem ficar intransitáveis durante meses devido ao inverno severo. Para enfrentar essa realidade, a ACN apoia a diocese fornecendo veículos seguros e robustos, essenciais para alcançar comunidades distantes.

No entanto, servir na Islândia exige mais do que conhecimento teológico. É necessário dirigir em meio a tempestades, planejar viagens a centenas de quilômetros e saber quando não sair de casa, por causa dos ventos fortes do Ártico e das chuvas intensas. "Você só descobre se está preparado para ser missionário aqui depois de sobreviver a dois ou três invernos", destaca o bispo.

Com humor, o capuchinho conta como se adaptou à vida no país. "Troquei o violão por um ukulele. Ele ocupa menos espaço, não preciso carregá-lo nas costas e cabe no bolso, o que facilita durante as viagens pela neve." Para ele, a música e o riso são ferramentas indispensáveis na missão.

Cultura, isolamento e identidade capuchinha

Outro fator que surpreende os recém-chegados é a relação com a luz. No inverno, há apenas algumas horas de sol por dia; no verão, quase não existe escuridão. Essa variação influencia diretamente o ânimo das pessoas.

Dom Tencer compara as culturas que conheceu em missão. "Os sicilianos te abraçam só porque você está usando o hábito capuchinho. Aqui me perguntam se sou monge budista ou muçulmano. Aprendi três músicas nas minhas primeiras três horas na Albânia. Aqui, nos meus três primeiros anos, não aprendi nenhuma."

O isolamento e o clima rigoroso moldaram o modo de ser islandês, tornando-o mais reservado e autônomo. Para o bispo, essa característica não deve ser julgada. "Não é melhor nem pior, é apenas diferente. E é necessário para sobreviver", afirma.

Entre turistas e ovelhas

A Islândia recebe cerca de três milhões de turistas todos os anos, quase oito vezes a sua população residente. Isso cria dificuldades para os moradores locais, já que os mercados muitas vezes ficam sem produtos. Além disso, também gera desafios para a Igreja, já que uma capela feita para 50 pessoas pode, de repente, ser ocupada por mais de 2.000 passageiros de um navio de cruzeiro.

Apesar disso, Dom Tencer deixa claro quais são suas prioridades. "É claro que atendemos os turistas, mas minha prioridade são os que partilham desta vida. Meu rebanho é o meu povo, aqueles que vivem aqui." Assim, sua missão segue firme entre geleiras e vulcões, guiada pelo lema: "Amando nossa terra glacial."

Por fim, a forte secularização da Islândia também exige uma presença missionária ativa. Para o bispo, apenas estar presente não basta: é preciso anunciar e explicar a fé. "Precisamos ser capazes de explicar a nossa fé", ressalta. Com isso em mente, a Catedral de Reykjavik se prepara para celebrar seu centenário em 2029, com apoio da ACN na organização das festividades.

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