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Cardeal Bechara Raï: cristãos fazem a diferença no Oriente Médio

Publicado em: junho 11th, 2025|Categorias: Notícias|Views: 246|

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“Os Estados precisam mudar sua perspectiva. Não se trata de focar no número de cristãos no Oriente Médio, mas no valor que a presença cristã agrega.” Essa é a mensagem do Patriarca da Igreja Maronita, Cardeal Bechara Raï, que faz um apelo por medidas concretas para evitar que os cristãos abandonem a região.

O cardeal alerta que os cristãos exercem um papel essencial como fator de moderação entre os países de maioria muçulmana. “Muitos tiveram que deixar a Síria porque ninguém consegue viver em meio à guerra, sob bombardeios”, afirmou à ACN.

“Essa migração está reduzindo o número de cristãos, que no Oriente Médio contribuíram para a formação de um Islã moderado. Se o Oriente Médio for esvaziado de cristãos, os muçulmanos perderão sua moderação.” A declaração foi feita durante uma entrevista em Bkerke, sede episcopal do Patriarcado Maronita Católico de Antioquia, no Líbano.

Cardeal Bechara Raï fala da importância da convivência no Líbano

O Patriarca Bechara Raï lamenta que, mesmo no Líbano, “muitos cristãos e muçulmanos também tenham tido que emigrar, porque a falta de paz e segurança, além da situação econômica e financeira, afeta a todos.”

O cardeal completa que “o lado positivo é que eles podem recomeçar suas vidas, levando sua fé pelo mundo. Mas o lado negativo é que o Líbano está sendo esvaziado de cristãos.”

Ele reforça que “os Estados precisam mudar sua perspectiva. Não é uma questão de números, mas do valor que a presença dos cristãos agrega.”

Líbano é visto como fonte de esperança para os cristãos

Segundo o cardeal, países como “Iraque, Síria e Jordânia, que são estados muçulmanos, toleram os cristãos, mas os consideram apenas cidadãos de segunda classe.”

Por outro lado, no Líbano, embora haja separação entre Igreja e Estado, “existe respeito por Deus e não se aprovam leis que contradigam a doutrina cristã ou muçulmana. Por isso os cristãos do Oriente Médio olham para o Líbano como uma fonte de esperança.”

O Líbano é o único país da região em que os cristãos não são minoria, e isso garante uma convivência religiosa equilibrada. “A constituição libanesa garante a presença cristã. Se um governo agir contra essa convivência, estará fora da lei”, diz Cardeal Bechara Raï.

Modelo libanês de coexistência é exemplo para a região

“O modelo libanês inclui os valores cristãos e muçulmanos, e é por isso que podem coexistir neste país. Queremos que continue assim, e que todos os muçulmanos e cristãos libaneses possam permanecer no Líbano.”

“O mesmo vale para a Síria e para o Iraque. Queremos que cristãos e muçulmanos permaneçam, porque essa vida em comum leva a um Islã moderado.” O cardeal alerta para o perigo da emigração: “E então, quem controlará a Síria? Quem controlará o Iraque? Quem controlará o Egito? Ninguém sabe.”

Raï cita como exemplo positivo o setor educacional, que em 2024 contou com apoio da ACN para mais de 160 escolas. “No sul, em nossas escolas católicas, todos os alunos são muçulmanos. E elas não fecham, para preservar o valor da vida em comum, o valor da moderação.”

Escolas católicas promovem convivência e estabilidade

Essas escolas fazem de tudo para permanecer abertas, especialmente nas montanhas, pelo bem dos cidadãos. A iniciativa reforça o papel das instituições católicas na promoção da paz e do diálogo inter-religioso no Líbano.

O Líbano conta com uma população de 5.364.482 habitantes, segundo dados oficiais de 2024. Em 2011, o país estava na 79ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, mas caiu para a 102ª posição em 2025.

Além disso, o Banco Mundial alertou que a pobreza no país aumentou de 12% da população em 2012 para 44% em 2022, agravando ainda mais a crise socioeconômica.

Cristãos libaneses enfrentam pobreza e emigração

A explosão no Porto de Beirute, em 4 de agosto de 2020, agravou ainda mais a crise econômica. Estima-se que cerca de 77 mil pessoas deixaram o país em 2021, especialmente profissionais entre 25 e 40 anos, caracterizando uma fuga de cérebros.

O cardeal afirma: “Todos os libaneses, cristãos e muçulmanos, sofrem as consequências da crise econômica e financeira do país. Os muçulmanos recebem ajuda de outros países muçulmanos, mas os cristãos no Líbano só podem contar com a Igreja. É por isso que estão miseráveis. Os cristãos estão pobres, e isso afeta questões como acesso à alimentação, medicamentos e atendimento hospitalar.”

Cardeal pede fé, oração e resistência cristã no Oriente Médio

Apesar das dificuldades, Raï se mostra esperançoso: “Nosso povo é um povo de oração, um povo temente a Deus. Nossas igrejas estão cheias de jovens, de pessoas que rezam, e graças a essa oração, o Líbano pode se reerguer.”

“Os cristãos do Oriente Médio têm uma missão no Oriente Médio: testemunhar o Cristianismo no Oriente Médio, junto com os muçulmanos, por este Oriente Médio martirizado. É aqui que está nossa missão, e é aqui que vamos permanecer.”

O Patriarca lembra: “Os cristãos do Oriente Médio são os guardiões das raízes do Cristianismo na Terra Santa, da Fé Cristã que está presente na Síria, no Iraque, no Líbano, na Jordânia e na Terra Santa desde o primeiro século.”

Cardeal Raï reconhece apoio da ACN

“As primeiras comunidades que seguiram a Fé estão aqui, e devemos ajudá-las a permanecer, e não a partir.” O Cardeal Bechara Boutros Pierre Raï, de 85 anos, foi eleito Patriarca de Antioquia e de todo o Oriente da Igreja Maronita em 25 de março de 2011.

De acordo com estatísticas oficiais da Igreja, ao final de 2022 a Igreja Maronita contava com 3,5 milhões de fiéis, atendidos por cerca de 1.400 padres e 42 bispos.

“Conheço bem a ACN, pois ela tem apoiado muitos projetos no Líbano e continua a fazê-lo. Saúdo-os com deferência e gratidão por tudo o que estão fazendo tanto pelos cristãos do Oriente e do Líbano quanto pelos cristãos em todo o mundo.”

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