ACN

Segundo golpe traz incerteza em Burkina Faso

Publicado em: novembro 17th, 2022|Categorias: Notícias|Views: 735|

Apenas oito meses após o tenente-coronel Damiba tomar o poder do ex-presidente Kaboré, outro oficial militar, o capitão Ibrahim Traoré, deu um segundo golpe em 30 de setembro e assumiu o controle do país. Enquanto o primeiro golpe de Estado deu origem a sentimentos de esperança entre a população de Burkina Faso, este segundo golpe levantou muitas questões. Uma delas é se os militares realmente pretendem assumir a liderança do país e se tomarão medidas para erradicar de uma vez por todas o terrorismo que envenena o país desde 2015.

Em entrevista à ACN, o padre Alain Tougma, superior para a África dos Frères Missionnaires des Campagnes, ou Irmãos Missionários do Campo, explicou que “neste momento, é difícil dizer o que o Capitão Traoré está planejando. Enquanto isso, o terrorismo está ganhando cada vez mais terreno”.

Alguns meses atrás, a congregação foi expulsa da cidade de Pama. Em março passado, os terroristas isolaram a cidade, situada no leste do país, na diocese de Fada N’Gourma. “Eles deram um ultimato de 10 dias durante os quais pudemos deixar a cidade”, relatou o padre Tougma durante sua visita à sede da ACN na Alemanha. Ele acrescentou: “porque os terroristas estão de olho principalmente nos padres e religiosos irmãs, nosso bispo ordenou que partíssemos”.

Após segundo golpe, padres vivem em Ouagadougou

Desde então, o padre Tougma está com seus irmãos em Ouagadougou, onde eles administram um centro de treinamento. Ele espera que o dramático aumento do terrorismo seja interrompido o mais rápido possível. “Não sabemos se devemos chamá-los de terroristas ou jihadistas”, diz o padre Pierre Rouamba, prior geral da congregação religiosa, que acompanhou o padre Tougma durante sua visita à ACN, acrescentando que “nem sabemos quem está realmente por trás tudo isso.”

Às vezes é bastante evidente que o objetivo é converter as pessoas ao Islã. Nos arredores da cidade de Pama, os jihadistas obrigaram os homens a ir à mesquita para assistir a sermões e aplicaram os regulamentos de vestuário em questões como lenços na cabeça e comprimento das pernas das calças. Em várias aldeias, eles permitiram serviços católicos, mas exigiram que mulheres e homens se sentassem em bancos separados.

Os jihadistas estão espalhando o terror. Eles mataram um fazendeiro em sua própria terra e cortaram a garganta de outro em um campo adjacente. Muitas pessoas estão fugindo, deixando seus campos e colheitas para trás desprotegidos, deixando cada vez mais território para ser tomado pelos militantes.

País está na mão dos terroristas

Segundo estatísticas oficiais, no final de junho 40% do país estava nas mãos dos terroristas. “Hoje, provavelmente é ainda mais”, diz o padre Rouamba. Ele então relata que sua comunidade religiosa, que tinha outra casa em Ouahigouya, uma cidade na fronteira com o Mali, foi atacada em fevereiro passado. “Eles destruíram e queimaram tudo. Não podemos voltar lá. Eles também incendiaram o seminário”. Ele notou que os ataques estão cada vez mais sendo dirigidos contra os cristãos. Em alguns casos, eles não apenas queimam o prédio da igreja, mas também destroem as cruzes como demonstração de sua intenção de acabar com a fé cristã.

O padre Rouamba diz que o país tem, atualmente, mais de 1,7 milhão de deslocados internos. Ele relata que Burkina Faso caiu no caos. “Normalmente, nossas escolas recomeçam em outubro após as férias, mas este ano muitas permaneceram fechadas.” Os deslocados internos não têm mais acesso às escolas ou não têm mais meios financeiros para pagar a frequência de seus filhos. “Muitos de nossos paroquianos estão nos chamando, dizendo: ‘venha nos ajudar, nos dê algo para comer’, mas não podemos atender a todos os seus pedidos”, explica ele, com pesar.

Rádios são uma forma de comunicação

As rádios são um meio crítico de comunicação com os deslocados internos e membros das paróquias, particularmente com os poucos que permaneceram na cidade de Pama. O rádio lhes permite ouvir a Santa Missa e rezar junto com os demais membros da comunidade eclesial. “Usamos o rádio para dar coragem às pessoas. Elas contam conosco para apoiá-las”, explica o irmão, expressando sua profunda gratidão à ACN pelas doações recebidas para continuar executando o programa de rádio.

Na esperança de um futuro melhor, o padre Rouamba e o padre Tougma permanecem firmemente ancorados em sua fé em Deus. Eles extraem força da presença de Deus e declaram: “quando você está no meio de uma tempestade, Deus nunca está ocioso”.

Eco do Amor

última edição

Artigos de interesse

Igreja pelo mundo

Deixe um comentário

Ir ao Topo