Será que a vida consagrada ainda responde aos nossos tempos? Qual será a sua utilidade? Não seria feita apenas para pessoas que não conseguem lidar com o mundo, que fogem de si mesmas e se isolam dos outros? Há muita gente que reage com incompreensão quando alguém “entra em um convento”, renunciando à carreira profissional, à independência e até mesmo ao casamento e à família. Entretanto, o verdadeiro significado da vida consagrada não consiste primeiramente na renúncia, mas na resposta ao chamado silencioso do Deus de amor.
Os consagrados recordam ao mundo a presença de Deus e a existência do Céu. Eles lembram que o homem encontra sua felicidade mais profunda e maior não nos bens materiais, na “autossuficiência”, nem mesmo em relações humanas, mas unicamente em Deus. “Pois Tu nos fizeste para Ti, ó Deus, e nosso coração está inquieto enquanto não encontra repouso em Ti”, reconhece Santo Agostinho em suas “Confissões”, movido pelo chamado de Deus.
Eu vos escolhi
A vocação à total entrega se baseia no mistério do amor de Deus, em seu insondável desígnio e plano de redenção. “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). Jesus chama alguns a deixar tudo em favor do Reino de Deus: pai e mãe, casa e campos, bens e pátria. Esta escolha de seguir Cristo “mais de perto” e de colocar-se a serviço das pessoas de modo abnegado e gratuito só pode ser tomada em virtude da potência do Espírito Santo. A primeira santa colombiana, Madre Laura Montoya, falou sobre essa poderosa ação de Deus quando respondeu ao seu primo, que não aceitava uma ideia dessas: “Sim, como você diz, as Irmãs são realmente loucas! Mas elas têm uma loucura que você não conhece e que ninguém que não tenha experimentado o amor de Deus conhece. E elas tampouco vão se recuperar dessa loucura. Mas é esta [loucura] que as torna felizes.”
Caros amigos, a vida consagrada é um dom especial e um presente não merecido do Espírito Santo para a Igreja e o mundo. No entanto, todos nós somos chamados a nos entregarmos inteiramente a Deus, qualquer que seja o estado em que vivemos. Também crianças, jovens, noivos, casados, pais, pessoas solteiras, viúvas e viúvos, avós e avôs são chamados a se tornarem inteiramente “um” com o Divino Coração do Salvador e com a Vontade do Pai. Esta unidade encontra sua mais alta expressão na Sagrada Eucaristia.
Através do dom pascal da Eucaristia somos todos escolhidos para viver “consagrados a Deus”, como disse o jovem beato italiano Carlo Acutis: “É maravilhoso, porque todos os homens são chamados a se tornarem, como João, discípulos prediletos. Basta tornar-se uma alma eucarística, permitindo que Deus realize em nós aquelas maravilhas que só Ele é capaz de realizar! Entretanto, isso requer a livre adesão da nossa vontade. Deus não gosta de forçar ninguém. Ele quer nosso amor dado livremente”.
Uma abençoada Páscoa para todos!
Eco do Amor
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