Em uma década, Burkina Faso se tornou um epicentro da violência terrorista, com mais de 40% do território fora do controle do governo. Mas a Igreja Católica é uma das instituições que oferece apoio material e espiritual em meio à crise. Dois padres burquinenses, de uma das dioceses mais afetadas pelos extremistas, compartilharam suas experiências terríveis e testemunhos diretos da violência com a ACN.
“A situação é crítica“, afirmaram o padre Bertin Namboho e o padre Jean-Pierre Keita, respectivamente ecônomo da Diocese de Nouna e pároco da vila de Tansila, na fronteira com o Mali. Durante uma conferência de imprensa organizada pela ACN, os padres, então, descreveram a realidade enfrentada pela comunidade. “Vivemos em constante terror, e todos conhecem alguém que foi sequestrado ou assassinado”, disse o padre Bertin. Ele relatou afinal que já foi parado três vezes por terroristas e que seu tio foi assassinado no ano passado.
Perigos constantes enfrentados por padres e fiéis
Em dezembro de 2022, quando o padre Jean-Pierre foi nomeado pároco de Tansila, ele então foi avisado sobre o risco que corria. “Minha maior preocupação era como realizar minha missão pastoral adequadamente”, afirmou. Em maio de 2023, um mês após o assassinato de seu irmão, ele foi sequestrado por terroristas. Durante o cativeiro, os extremistas encontraram objetos religiosos em sua bolsa, mas o libertaram após algumas horas.
Nos últimos cinco meses, a paróquia do padre Jean-Pierre sofreu oito ataques. Em 15 de abril de 2024, terroristas ordenaram que a comunidade de Tansila deixasse a cidade às 19h. Eles saquearam a paróquia, a igreja e todos os símbolos religiosos, além de equipamentos e bens financeiros.
Ataques terroristas e sofrimento da comunidade
O padre Jean-Pierre relatou um momento doloroso: “Os terroristas invadiram a clínica e removeram os tubos intravenosos dos pacientes, incluindo de um bebê que eu estava prestes a batizar. Ele morreu. Como pastor, isso faz o coração sangrar.” Dois dias após o ataque, o exército garantiu a segurança da área, mas os terroristas continuam atacando outras comunidades.
O sofrimento continuou. Na véspera de Natal de 2023, seis vilas foram atacadas e seus habitantes forçados a fugir. “Foi um Natal muito sombrio. Eles saquearam tudo e queimaram o que não precisavam”, contou o padre Jean-Pierre.
Bloqueios e dificuldades na educação, relatam os padres
Entre 2022 e 2024, Nouna esteve sob bloqueio de extremistas, sem eletricidade e com suprimentos limitados. O padre Bertin relatou que teve de deixar a cidade diversas vezes para resolver questões bancárias, enfrentando o risco de ser parado pelos terroristas. Ele destacou os ataques ocorridos em 25 de dezembro, nos quais igrejas foram vandalizadas e as campanas silenciadas. “A população civil sempre sofre com ataques terroristas”, disse ele.
As escolas da região estão fechadas há mais de dois anos. O padre Jean-Pierre é pessimista sobre o reinício das aulas em Tansila devido à destruição das escolas e à falta de recursos. Além disso, muitas crianças não conseguem pagar pelas poucas escolas que ainda funcionam devido à pobreza causada pelo terrorismo.
Esperança em meio à violência em Burkina Faso
Mas, apesar de ver o futuro sombrio, os padres acreditam que o povo burquinense permanece próximo de Deus. “Mesmo sendo perigoso, as pessoas continuam se reunindo para rezar”, afirmou o padre Bertin, ressaltando que dois novos padres foram ordenados em julho. Afinal o padre Jean-Pierre acrescentou: “Temos esperança em um futuro melhor e acreditamos no Príncipe da Paz.”
Os padres expressaram sua gratidão à ACN e a todos que ajudam, tanto com bens materiais quanto com orações. “É importante saber que não estamos sozinhos”, concluiu o padre Jean-Pierre, apelando, por fim, a todas as pessoas de boa vontade para que trabalhem pela paz em Burkina Faso.
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