“A esperança está voltando para a Planície de Nínive”, relata o especialista em Oriente Médio de uma instituição de caridade católica após retornar de uma missão de averiguação em aldeias cristãs iraquianas libertadas em novembro do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI). O padre Andrzej Halemba, diretor de projetos do Oriente Médio da ACN (Ajuda à Igreja que Sofre), afirmou que “apesar das muitas questões urgentes que precisam ser esclarecidas, as pessoas estão dispostas a voltar para suas aldeias”. Quando perguntado sobre a natureza dessas “questões urgentes”, o Pe. Halemba refere-se à apropriação ilegal das casas abandonadas, à investigação do suposto uso de armas químicas na destruição de casas cristãs e, para as famílias cristãs que desejam ir para casa, ao medo da violência por parte dos militantes e fundamentalistas que não desejam que os cristãos retornem.

Para ter um entendimento em primeira mão da destruição, padre Halemba visitou todas as aldeias cristãs reconquistadas do EI. Ele constatou que “a maioria das casas foi visitada pelo menos uma vez pelos seus donos porque estes querem ver o que está acontecendo com as suas propriedades”. Ele reconhece uma significativa mudança no pensamento dos deslocados desde novembro de 2016: “Nós fizemos um primeiro levantamento em novembro para saber se eles queriam voltar para suas aldeias. Vimos que estavam com muito medo em razão do contínuo conflito em Mossul e da possibilidade de ainda haver terroristas escondidos na área, além da preocupação com a educação das crianças. As conclusões desse primeiro levantamento da ACN apontou que não mais que 1% dos deslocados queriam retornar. Agora, durante minha visita à Alqosh, fui informado que mais da metade dos deslocados têm o desejo de voltar às suas casas na Planície de Nínive. E esse número continua crescendo”.

Ao falar do plano de ajuda da ACN para os próximos 6 meses, Padre Halemba detalhou os atuais desafios que a instituição pastoral de caridade está enfrentando para dar suporte às famílias cristãs deslocadas em Erbil até sua repatriação: “Nós temos que ajudar esses refugiados, em especial agora durante o inverno rigoroso, a sobreviver dia após dia. Isso significa continuar nosso auxílio de cesta básica para mais de 12 mil famílias como também o auxílio para aluguel. Recebemos o pedido para aumentar nosso auxílio para moradia. Ajudávamos previamente com recursos destinados ao aluguel de 641 casas, abrigando ao todo 1800 famílias. Atualmente, o pedido cresceu em mais 5 mil famílias, que somariam mais 3 mil casas. Esse é um grande desafio”.

Com esperança no futuro, Padre Halemba olha para o passado e convida a comunidade internacional “para um novo Plano Marshall”. Se referindo ao programa de recuperação da Europa iniciado em 1948 pelos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial para ajudar a Europa Ocidental a se restabelecer economicamente, padre Halemba afirma: “Para um entendimento apropriado, um dos primeiros passos mais importantes é a avaliação da destruição. A ACN tem ajudado grupos cristãos a fazerem uma análise profissional do terreno. Milhares de fotografias agregadas às descrições da destruição estão sendo reunidas com uma estimativa dos custos de reconstrução. Com ajuda de imagens de satélites, a equipe identifica cada casa em cada aldeia da Planície de Nínive retomada do EI. Essas casas de que falamos pertencem a católicos sírios, ortodoxos sírios, caldeus e a algumas aldeias mistas. Estamos falando de uma soma de 10 aldeias aproximadamente”.

O próximo passo do plano é a atualização do levantamento de novembro de 2016 acerca da intenção de retorno de pelo menos 1200 famílias cristãs deslocadas abrigadas em Ankawa. Com base nesses dois documentos (a avaliação da destruição e o levantamento da intenção de retorno) a fundação pontifícia incentiva a criação de um comitê especial para supervisionar um abrangente “Plano Marshall” para facilitar o retorno das famílias.

O que esse “Plano Marshall para Nínive” incluiria? Padre Halemba aponta alguns tópicos: “Ele tem que incluir um consistente relato acerca da destruição, a criação de um comitê local e um programa de angariação de fundos para a reconstrução das aldeias. A ACN contribuirá com a reconstrução, todavia, temos que trabalhar em conjunto a outras instituições de caridade e humanitárias, sozinho é impossível lidar com isso. As questões legais também têm de ser consideradas. Isso inclui, por exemplo, o direito de ampla cidadania aos cristãos no Iraque e envolvimento do governo iraquiano na reconstrução. O governo deve ser responsável por projetos e estruturas de trabalho e pela garantia da segurança dos cristãos nas suas aldeias. Isso é vital em vista das experiências de terror pelas quais eles passaram recentemente. A conscientização e programas de ajuda para esse “Plano Marshall para Nínive” também devem ser criados em nível internacional. Finalmente, é muito importante coletar a documentação apropriada da destruição e dos atos de violência e perseguição para que, de algum modo, o senso de justiça e paz possa retornar e assegurar que isso nunca aconteça novamente”.

Para padre Halemba, o tempo tem se tornado curto, estimando que as primeiras semanas de fevereiro são cruciais para o planejamento do projeto de caridade: “Estamos esperando que as famílias retornem em junho e a ACN tem que estar pronta para ajudá-las nesse retorno. Mas as últimas informações indicam que algumas famílias decidiram voltar já durante o inverno, apesar das duras condições climáticas e de uma infraestrutura destruída ou em péssimas condições. Temos que avaliar se é possível remanejar parte dos recursos destinados aos refugiados em Erbil para o reerguimento de Nínive. Essas pessoas também contam com a Igreja, que para elas é sinal de segurança e estabilidade. Assim, a ACN tem que ajudar os padres e religiosas a retornarem para lá com suas congregações. A ACN precisa ajudar essas pessoas nesse momento decisivo da história para os cristãos no Iraque”.

A ACN tem ajudado os cristãos no Iraque desde 2014, com auxílio de emergência, educação, alimentação e itens de subsistência para as pessoas deslocadas.

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