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Justiça falha no Paquistão após dois anos de ataques a cristãos

Publicado em: agosto 20th, 2025|Categorias: Notícias|Views: 289|

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Exatamente dois anos após uma atrocidade descrita como o pior surto de violência contra cristãos na história de 78 anos do Paquistão, o bispo local afirmou que nenhum dos milhares de suspeitos foi levado à justiça. Indignado, ele declarou que tanto ele quanto o povo estão furiosos.

O bispo Indrias Rehmat, líder da Diocese de Faisalabad, disse que os cristãos do distrito de Jaranwala, em Punjab, querem “gritar e clamar” em protesto contra a falha em se fazer justiça. Isso porque a violência de 16 de agosto de 2023 causou estragos em 26 igrejas, 80 casas cristãs, salões paroquiais, residências de padres e até em túmulos cristãos.

Além disso, os comentários do bispo ocorreram apenas dois meses após o Tribunal Antiterrorismo de Faisalabad ter absolvido as 10 pessoas acusadas de incendiar uma das igrejas. Do total de 5.213 acusados, mais de 380 foram presos; muitos, porém, conseguiram liberdade mediante fiança, e até o momento nenhuma condenação foi registrada.

“A justiça não foi feita”

Em entrevista concedida em 14 de agosto à ACN, que apoia cristãos perseguidos, o bispo Rehmat afirmou: “A justiça não foi feita. A polícia não cumpriu seu dever. Ninguém foi punido e ninguém foi tratado de forma adequada. Neste momento, não vemos nenhuma esperança de que algum culpado seja punido.”

Segundo ele, os fiéis receberam ameaças físicas e sofreram intimidação de extremistas locais apenas por exigirem justiça. No entanto, a revolta cresceu tanto que agora estão determinados a se manifestar. O bispo destacou: “O que mudou nos últimos dois anos desde os ataques é que o povo agora está disposto a lutar por seus direitos. Eles dizem que devemos gritar e clamar.”

Outro motivo de indignação é que os únicos condenados em conexão com a atrocidade foram cristãos. Entre eles, os irmãos Rocky e Raja Masih – acusados e depois absolvidos de blasfêmia, suposta profanação do Alcorão que teria desencadeado a violência – e Ehsan Masih (sem parentesco), condenado por divulgar a imagem do texto danificado nas redes sociais.

Condenações polêmicas e ameaças contínuas

Em abril, outro cristão, Pervaiz Masih (sem parentesco), recebeu a pena de morte, acusado de blasfêmia e de ter envolvido Raja por vingança. Questionando essas decisões, o padre Khalid Rashid Asi, diretor da Comissão Nacional Católica de Justiça e Paz (NCJP) da Diocese de Faisalabad, declarou à ACN: “Há pessoas na região dizendo ao nosso povo para não comparecer aos tribunais, e nossa comunidade tem medo porque os terroristas e fundamentalistas muçulmanos são muito fortes. As ameaças existem. Mas nosso povo está muito indignado. Depois de dois anos, ainda esperam por justiça. Os muçulmanos acusados não foram condenados. O resto está solto sob fiança.”

O padre Rashid também criticou o pacote de compensação do governo às vítimas. Ele destacou que, embora a maioria dos prédios danificados tenha sido reconstruída, muitos reparos feitos pelas autoridades ficaram abaixo do padrão esperado, aumentando ainda mais a insatisfação.

A tensão atingiu novo patamar nesta semana depois que um clérigo muçulmano fez comentários anticristãos durante um discurso contra a polêmica demolição de uma mesquita em Islamabad, capital do Paquistão. O vídeo do discurso viralizou nas redes sociais, com o clérigo chamando as igrejas de “montes de imundície”.

Ofensas e esperança no meio da dor

Em resposta, a Conferência Episcopal do Paquistão divulgou uma nota classificando as declarações como “ofensivas” e “profundamente depreciativas” para os cristãos. O episódio aumentou a sensação de desrespeito e abandono entre os fiéis, já traumatizados pelos ataques de 2023.

Apesar de todo o sofrimento, o bispo Rehmat fez questão de ressaltar também sinais positivos. Ele agradeceu à ACN pela ajuda emergencial fornecida às vítimas de Jaranwala, que incluiu cestas de alimentos, itens domésticos e apoio na reconstrução de edifícios. O bispo declarou: “Sou muito grato porque a ACN está sempre disposta a apoiar nosso povo quando há necessidade. O apoio moral, as orações e os sacrifícios de vocês são imensos. A ACN é um grande amparo para nós.”

Por fim, o bispo informou que, no aniversário da atrocidade, em 16 de agosto, presidirá a bênção e rededicará a igreja católica de São João, em Jaranwala, que sofreu graves danos. O presbitério vizinho, entretanto, ainda precisa ser reconstruído, mostrando que a comunidade segue em luta pela fé e pela justiça.

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