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José Si Esono, primeiro catequista mártir da Guiné Equatorial

Publicado em: janeiro 31st, 2024|Categorias: Notícias|Views: 1916|

Em uma visita à sede da ACN, o bispo de Ebibeyín, Miguel Ángel Nguema Bee, fala sobre a impactante história de José Si Esono, o primeiro mártir catequista da Guiné Equatorial cujo processo de beatificação está para ser aberto, bem como sobre o papel que os catequistas desempenham no país.

Localizada na costa oeste da África, a Guiné Equatorial alcançou independência da Espanha em 1968, passando por um período de ditadura comunista de 11 anos. Durante esse tempo a Igreja Católica foi perseguida, o culto público proibido e igrejas transformadas em depósitos de cacau e café. Foi assim que os catequistas assumiram a missão de evangelização nesse período desafiador.

Ao visitar a sede da ACN, Dom Miguel Ángel Nguema Bee recordou esses tempos de perseguição. “Me lembro quando era pequeno, nos anos 70, minha avó e minha mãe nos levavam para trabalhar em uma fazenda aos domingos. Elas nos faziam levar ferramentas, mas logo íamos para a floresta, onde um catequista estava nos esperando para celebrarmos a Palavra de Deus. Fazíamos comunhão espiritual, passávamos duas horas em partilha e depois regressávamos à cidade como se tivéssemos ficado trabalhando”. Foram onze anos de cruel ditadura onde, graças aos catequistas, muitos cristãos conseguiram permanecer com a chama da fé acesa.”

José Si Esono aprendeu a rezar e mudou a vida da comunidade

A importância dos catequistas na Guiné Equatorial remonta à primeira evangelização e inclui figuras como José Si Esono, um jovem catequista nascido na aldeia de Ebansok, martirizado na década de 1930.

José Si Esono nunca tinha ouvido falar de Cristo. Porém, um dia ele foi à cidade costeira de Bata vender seu café, como sempre fazia. “No meio do burburinho do mercado, um missionário claretiano aproximou-se para falar com ele e ensinou-lhe a rezar o Terço. José percebeu que, depois de fazer aquela oração com o sacerdote, tudo o que ele tinha ido fazer na cidade não tinha sido tão difícil como costumava ser”, conta Dom Miguel Ángel.

Ao retornar ao seu povoado, José decidiu que iria ensinar a todos a rezar o Terço. Os habitantes perguntavam: “O que é isso de rezar?” E queriam saber mais sobre esta oração do Terço, algo tão novo para eles. Ele respondeu: “Tem um branco lá em Bata que me ensinou a fazê-lo e vou convidá-lo para vir aqui”. Dito e feito. José voltou a Bata para vender café na próxima vez, procurou o missionário e quando o encontrou, disse-lhe: “Meu povo já reza o Terço; agora quero que você venha e nos explique quem é essa Maria para quem nós rezamos.”

100 anos de evangelização

Foi assim que os Claretianos chegaram a Ebansok. “Não havia estradas!”, explica o bispo, acrescentando que “foi uma viagem perigosa de 125 quilômetros a pé pela floresta”. Entre outras coisas, era perigoso viajar para Bata, pois, naqueles anos, existiam muitas tensões entre vários grupos étnicos locais e para chegar lá era preciso atravessar territórios com populações em conflito.

“Este catequista conseguiu que todo o seu povo abraçasse o Evangelho”, continua Dom Miguel Ángel, “além disso, conseguiu que o seu povo aceitasse os brancos: o ‘branco’ era considerado alguém hostil, o colono que maltratava e oprimia, mas ele conseguiu impedir que o povo atacasse os claretianos, intercedendo por eles. Assim começou a primeira missão da Diocese de Ebibeyín. “Em 2024, completam-se cem anos desde a chegada do Evangelho.”

José Si Esono é lembrado com uma cruz de madeira pendurada no pescoço, que parecia prever o seu futuro martírio. Anos depois do início da missão, Esono começou a explicar que não podiam rezar para amuletos e depois rezar para Jesus. Por isso pediu que trouxessem os amuletos que alguns da cidade ainda usavam, para queimá-los. O chefe do povoado ficou indignado e recusou o pedido. Ele não o via mais como um catequista que os ensinou a rezar, mas como alguém que “queria exterminar o que seus ancestrais lhes haviam deixado como crença”, explica o bispo. Eles o acusaram de bruxaria e o queimaram vivo.

Seu martírio testemunhou uma fé inabalável. O Bispo Miguel Ángel expressa o desejo de iniciar um processo de beatificação para José Si Esono, o reconhecendo como um notável exemplo de fé que possibilitou a penetração da evangelização nessas áreas.

A importância dos catequistas hoje

Os catequistas continuam desempenhando um papel crucial no país. “Os catequistas não são apenas propagadores da fé e preparadores dos fiéis para os sacramentos, mas também líderes nas comunidades. Sem eles, não haveria fé”, destaca o Bispo Miguel Ángel.

“Na minha diocese existem apenas 46 sacerdotes para atender às mais de 347 capelas que temos. Por isso, os catequistas continuam a realizar o trabalho de celebração da Palavra ou de animação da vida de oração na comunidade durante a semana”. E acrescenta: “Na Guiné, o trabalho do catequista é muito valorizado. Eles desempenham este ministério o tempo todo como voluntários: para eles é importante dedicar grande parte da sua vida a Deus”.


A ACN apoia o trabalho pastoral na Guiné Equatorial, sustentando os padres com ajuda de subsistência, apoiando a construção e renovação de igrejas e casas paroquiais, fornecendo veículos para serviços pastorais e promovendo a participação de formadores de seminários em cursos internacionais. É a ajuda dos benfeitores da ACN que faz tudo isso acontecer, tanto na Guiné, no Brasil e em projetos por todo o mundo. Ajude você também! Faça uma doação agora!

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3 Comentários

  1. Clóvis Fernandes Diniz 17 de abril de 2024 at 21:06 - Responder

    Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

  2. Nonato Cruz 21 de março de 2024 at 11:33 - Responder

    Belo testemunho.

  3. Guilherme José de Amarante 10 de março de 2024 at 03:10 - Responder

    Impressionante o relato do martirio do catequista José Si Sono, foram as “crenças ancestrais”, superstições que coexistiam com a fe cristã que provocaram o ódio dos seus concidadãos. Que lição para nós!

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