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Estudo de Caso 2023: O êxodo Cristão

Com a procura de novos passaportes atingindo 8.000 pedidos por dia, a 29 de abril de 2022, as autoridades libanesas deixaram de emitir passaportes. Menos de um ano depois, com pedidos 10 vezes superiores aos dos anos anteriores, a plataforma oficial online para a emissão ou renovação de passaportes foi também fechada.

As explicações das autoridades para os desafios de acompanhar a procura escondiam, no entanto, uma preocupação muito mais profunda: a rapidez com que os profissionais com um bom nível de formação e altamente qualificados deixavam o país. Pelo menos 77.000 libaneses partiram em 2021, quase três quartos dos quais com idades entre 25 e 40 anos.

O Líbano está em queda livre. Em 2019, a classe média representava 57% da população, mas, desde então, a libra libanesa perdeu mais de 97% do seu valor, o preço dos alimentos aumentou 1.700% e 90% da população vive na pobreza. Os cidadãos têm dificuldade em comprar alimentos, os hospitais libaneses estão ficando sem medicamentos e os professores abandonaram em massa o país. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura calcula que 2,26 milhões de pessoas – 1,46 milhão de libaneses e cerca de 800.000 refugiados – se encontram em uma “crise” que requer assistência urgente.

As razões são múltiplas, complexas e se reforçam mutuamente. O Banco Mundial e a ONU acusam os dirigentes políticos e financeiros do Líbano de abusarem da sua posição e de empurrarem a população do país para a pobreza; o partido político xiita pró-iraniano Hezbollah, um dos atores não estatais mais influentes do Líbano, influencia as políticas internas e externas em seu benefício; e as taxas de criminalidade aumentaram, com os grupos mafiosos cometendo assaltos à mão armada e assassinatos, e os ladrões roubando tudo o que seja de valor, desde vedações de ferro para cemitérios a armas.

Os jovens não veem futuro. Um levantamento realizado em 2021 indicava que 75% dos jovens, na sua maioria cristãos, queriam partir. Trata-se de uma comunidade autóctone com uma presença milenar, que representa profissionais como médicos, jornalistas e advogados, desempenhando um papel indispensável na identidade do país, incluindo a sua composição e diversidade políticas.

As perspectivas para o futuro são sombrias. Um êxodo cristão não só afetará gravemente a estabilidade, mas potencialmente a sobrevivência do país, extinguindo um sinal importante no Oriente Médio: uma sociedade democrática onde diferentes comunidades religiosas coexistem em paz.

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