O catequista nigeriano Tobias Yahaya decidiu permanecer em Sokoto mesmo após diversos ataques e uma tentativa de assassinato. Ele continua firme em seu ministério e, além disso, segue dedicado ao serviço à Igreja ao lado de sua família. Essa escolha demonstra coragem e reforça o impacto positivo de sua atuação na comunidade.
Na madrugada de 19 de abril de 2023, por volta das 3h, três homens armados invadiram a casa de Yahaya, perto da Catedral da Sagrada Família, no Noroeste da Nigéria. O catequista acordou assustado ao perceber a invasão e, imediatamente, tentou proteger a família. “Você pensa em muitas coisas naquele momento, porque, se eles entrassem e me encontrassem com minha esposa e quatro filhos, só Deus sabe o que poderia ter acontecido”, relatou à ACN. Ele então tomou a decisão de sair para enfrentar a situação.
Em seguida, Ibrahim, o líder do grupo, pegou uma faca e atingiu Yahaya no peito. “Caí no chão, sangrando”, lembrou o catequista. Os outros dois fugiram achando que o ataque tinha sido concluído, mas Ibrahim permaneceu e tentou golpeá-lo mais uma vez. Yahaya segurou a faca com as mãos, se ferindo gravemente, mas conseguiu impedir o agressor de usar a arma novamente. Enquanto isso, sua esposa começou a gritar, chamando a atenção dos vizinhos. Eles correram até a casa e conseguiram deter Ibrahim.
Primeiro desafio ao catequista nigeriano
Após perder muito sangue, Yahaya desmaiou e só recuperou a consciência cerca de 24 horas depois, já no hospital. Para sua surpresa, Ibrahim estava internado ao seu lado. Mesmo ferido, o catequista decidiu buscar respostas. “Eu perguntei a ele: ‘por que você quer me matar?’”, contou. Ibrahim não conseguiu responder e chorou diante da pergunta.
Com o tempo, Yahaya descobriu que Ibrahim e os outros dois homens, que ainda não foram capturados, temiam sua influência sobre os jovens da região, onde 90% da população é muçulmana. Além disso, não era a primeira vez que o catequista enfrentava desafios por causa de sua missão cristã. Esse cenário reforça a intensidade da violência direcionada a líderes comunitários religiosos.
Na Nigéria, o trabalho de catequista envolve muito mais do que ministrar aulas de catequese. Ele requer longa formação e envio oficial pela Igreja. Yahaya, por exemplo, foi comissionado há nove anos pelo então bispo emérito de Sokoto, Kevin Aje. Ele organiza batismos, distribui a comunhão e conduz celebrações na ausência de sacerdotes. “Na última Páscoa tivemos a comunhão de 100 crianças em nossa paróquia”, contou à ACN, destacando o crescimento da comunidade local.
Perdão do catequista nigeriano surpreende em tribunal
Mesmo após a violência sofrida, Yahaya ofereceu um gesto que marcou profundamente todos os presentes no julgamento de Ibrahim. Quando o juiz anunciou a pena de um ano de prisão, o catequista pediu permissão para abraçar o agressor. “Eu perguntei ao juiz muçulmano: ‘Posso abraçar Ibrahim?’”, relatou. O pedido causou surpresa na sala, mas foi autorizado.
“Eu o abracei, apertei sua mão e disse: ‘Eu te perdoo’”, contou Yahaya. Ele percebeu lágrimas no rosto de Ibrahim e repetiu as palavras: “Eu te perdoo”. Com isso, transmitiu à comunidade uma poderosa lição de misericórdia e reconciliação, ensinando mais com sua atitude do que qualquer discurso poderia expressar.
Após o julgamento, Yahaya voltou para casa com a família, que ainda se perguntava qual seria o próximo passo. Diante desse cenário, ele buscou discernimento espiritual. “O que Deus quer nos comunicar por meio desse tipo de situação? Porque esse não foi o primeiro ataque”, afirmou à ACN. Mesmo assim, ele reforçou o desejo de continuar servindo como catequista, apoiado por sua esposa, sua mãe, seu bispo, sacerdotes e outras pessoas próximas.
A força espiritual que sustenta o catequista nigeriano
Durante esse período de reflexão, sua mãe, que nunca frequentou a escola, disse algo que marcou profundamente Yahaya: “Onde Deus quer que estejamos pode não ser confortável ou do nosso gosto, mas é ali que encontramos a verdadeira felicidade.” Segundo ele, essas palavras o ajudaram a compreender melhor sua missão.
Inspirado também por São Paulo, especialmente a passagem da Segunda Carta aos Coríntios, Yahaya encontrou ainda mais força para seguir adiante: “Somos atribulados por todos os lados, mas não vencidos; postos em apuros, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; feridos, mas não destruídos.” Esse trecho serve como guia espiritual para enfrentar as adversidades e permanecer fiel ao seu chamado.
Em 2025, a ACN dedica sua campanha de Natal aos catequistas, considerados pilares da fé nos lugares mais desafiadores do mundo. A história de Yahaya mostra, acima de tudo, que a esperança continua viva mesmo quando a realidade parece sombria.
Eco do Amor
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