ACN

Ataque impune no Egito

Publicado em: agosto 22nd, 2022|Categorias: Notícias|Views: 542|

No Dia Internacional em Homenagem às vítimas de Atos de Violência Baseados em Religião ou Crença, a ACN compartilha esta história. Um exemplo de como os cristãos são submetidos a perseguição em muitos países e muitas vezes pressionados a não apresentar queixas oficiais. Este é um caso de ataque impune no Egito.

Quando Niveen Sobhy foi buscar remédios para seu filho em uma farmácia próxima no vilarejo na província de Ashmon-Monofyia, 400 quilômetros ao sul do Cairo, ela não poderia imaginar que seria agredida. O motivo: sendo uma cristã copta, ela não estava usando o hijab, véu muçulmano.

Em 27 de abril, enquanto os muçulmanos celebravam o mês do Ramadã, a mãe cristã copta de 30 anos foi confrontada pelo farmacêutico muçulmano Ali Abu Sa’da. Ele gritou com ela por ousar sair de casa durante o Ramadã vestindo uma camiseta de manga curta. Quando a Sra. Sobhy lhe disse que isso não era assunto dele, o farmacêutico lhe deu dois tapas no rosto. Segundo a Sra. Sobhy, ele sabia que ela era cristã.

O ataque foi denunciado

Ainda tremendo de medo e choque, ela entrou em contato com sua família, que a levou a uma delegacia para denunciar o ataque. “O delegado chamou o prefeito de nossa aldeia e o farmacêutico. Ele confessou que me deu um tapa na cara. No entanto, mentiu, alegando que estava apenas brincando comigo”, disse Sobhy à ACN.

“Eles me deixaram esperando das 21h às 2h, enquanto meu filho estava muito doente. Além disso, se recusavam a registrar o ataque e pressionavam meu marido e eu para nos reconciliarmos com o farmacêutico. Quando insisti em fazer uma denúncia, eles ameaçaram me deter”, conta.

De acordo com a Sra. Sobhy, o advogado do agressor manipulou a redação do boletim de ocorrência, alegando que Abu Sa’da é um amigo da família e que ele estava apenas brincando com a Sra. Sobhy. “Ficamos chocados quando lemos o relatório no escritório do promotor. Afinal, na delegacia, nos forçaram a assinar o boletim de ocorrência sem ler”, afirma.

Ataque não é o único

A agressão não é inédita. “Na última Páscoa, este farmacêutico agrediu outra mulher cristã da aldeia. Ele fez isso repetidamente, mas as mulheres têm medo de apresentar denúncias contra ele”, acrescenta Sobhy.

Embora a Sra. Sobhy tenha apelado ao Conselho Nacional para as Mulheres, ao Ministro do Interior e até ao Presidente egípcio para intervir para proteger ela e outras mulheres de tal comportamento extremista, o assunto terminou com pressão para que ela e sua família se reconciliassem com o perpetrador em uma sessão de reconciliação costumeira, que geralmente resulta em impunidade para o agressor.

Uma fotografia da sessão de reconciliação, que se tornou viral nas redes sociais, mostra a Sra. Sobhy em pé entre um grupo de homens de sua família e de sua aldeia, ao lado do agressor e de um padre da igreja local.

Mulheres não podem dizer não

“Foi uma típica reconciliação vergonhosa”, diz Kamal Sedra, ativista de direitos humanos. “Isso é o que geralmente acontece em ataques sectários no Egito. Afinal, as mulheres não têm o direito de dizer não. Ela é uma mulher em uma sociedade que desvaloriza as mulheres, enquanto os coptas são cidadãos de segunda classe.” Sedra acredita que a vítima não tinha poder para recusar a reconciliação. “Mesmo os cristãos que são deslocados à força de suas casas não têm a capacidade de recusar a reconciliação.

Ele cita, então, o caso da senhora Souad Thabet, uma cristã copta de 75 anos que, em maio de 2016, foi arrastada nua pela rua por uma multidão muçulmana em sua aldeia, depois que espalharam falsos rumores de um caso entre seu filho casado e uma mulher muçulmana casada. “A Sra. Thabet teve que deixar sua aldeia e não pode voltar ou exigir a devolução de nenhuma propriedade”, acrescenta Sedra.

“A lei no Egito não é certa, as coisas dependem do humor das autoridades e da vontade política. No final, há manipulação política e um desejo de não enfurecer os islâmicos porque eles representam um importante bloco eleitoral”, disse Sedra à ACN.

A lei nem sempre prevalece

Ele acrescenta: “Em geral, nos países árabes e islâmicos, há um conflito entre os pactos internacionais assinados por esses países e a pressão social impulsionada pela lei islâmica. No Egito, enquanto a constituição estipula que todas as pessoas são iguais, há um artigo que afirma que a lei islâmica Sharia é a principal fonte de legislação.”

Dessa maneira, agressões a mulheres e meninas que não usam o hijab são frequentes no Egito, especialmente durante o mês do Ramadã, quando os radicais islâmicos consideram obrigatório.

Eco do Amor

última edição

Artigos de interesse

Igreja pelo mundo

Deixe um comentário

Ir ao Topo