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Espiritanos etíopes evangelizando culturas locais

Publicado em: setembro 4th, 2025|Categorias: Notícias|Views: 38|

Na antiga nação cristã da Etiópia, existem grupos nômades que nunca ouviram falar do Evangelho. Os Espiritanos trabalham com essas comunidades para anunciar a Boa Nova e evangelizar a cultura, o que envolve diálogo com tradições consideradas controversas.

"Cada comunidade tem a sua própria cultura e, claro, a sua cultura é bela", afirma o padre Kilimpe Garbicha, ao falar sobre o povo nômade Hamar, do Vale do Omo, no sudoeste da Etiópia. Ordenado em 2013, o padre Kilimpe é Superior Provincial em sua terra natal desde 2022.

Durante uma visita recente à sede da ACN, ele destacou o trabalho dos Espiritanos no país, incluindo a missão junto ao povo Hamar.

Espiritanos indo às margens da Etiópia

"Os Espiritanos chegaram à Etiópia pela primeira vez em 1972", conta o padre Kilimpe. "O carisma da congregação é ir onde a Igreja não tem pessoal ou onde ninguém mais está indo."

Por essa razão, os Espiritanos estão presentes em áreas rurais remotas da Etiópia, atendendo nômades que nunca ouviram falar de Jesus. Esse compromisso com os mais afastados é uma das marcas da congregação.

"O povo vive a sua própria cultura. Queremos dialogar com a cultura deles", reforça o padre Kilimpe, ao explicar a missão entre os Hamar.

Tradições que chamam a atenção

Alguns aspectos da cultura local podem parecer peculiares para quem é de fora. Um exemplo é o rito do salto sobre bois. "Esse salto é uma espécie de rito de passagem para os jovens. Eles colocam quatro ou cinco vacas lado a lado, e o rapaz pula sobre elas e caminha por cima, repetindo várias vezes, dependendo da sua força."

Esse ritual, além de marcar a vida dos jovens, também se tornou uma atração turística. Ele gera algum recurso financeiro para essa região extremamente pobre da Etiópia.

No entanto, nem todas as práticas culturais são tão bem vistas. Há ritos que levantam preocupações, especialmente no que se refere ao bem-estar das mulheres.

"Grandes cicatrizes ficam em seus corpos"

Quando o jovem alcança esse marco em sua vida, as mulheres e meninas, parentes e pessoas da aldeia, celebram com ele. Contudo, como parte da festa, "vemos mulheres sendo chicoteadas com galhos pelo jovem", relata o padre Kilimpe.

"Para elas é uma forma de expressão alegre, mas o chicoteamento é muito cruel, ferindo os corpos das mulheres e meninas. Vemos mulheres sangrando e ficando com grandes cicatrizes."

Ele lembra ainda de um episódio marcante: "Vi uma menininha, de nove ou dez anos, que queria ser chicoteada. A mãe disse não, mas o restante da família permitiu. Ela foi chicoteada e sorria. Para mim foi inaceitável. Vi a cicatriz no corpo dela, e isso me marcou profundamente."

Espiritanos e o desafio do diálogo cultural

Diante dessas situações, o padre Kilimpe reflete sobre o papel missionário. "Como missionário, me sinto chamado a fazer algo. Faz parte da evangelização; faz parte desse diálogo com a cultura."

Ele destaca, porém, que é preciso agir com cautela. "Trata-se de pequenas conversas, sem julgamentos. Eles podem manter seus costumes, mas será que podemos fazer isso de uma forma alternativa, mais suave, que não prejudique os corpos das pessoas? É um processo lento que exige muito diálogo."

Essa postura, de respeito aliado à evangelização, é vista pelos Espiritanos como um caminho para transformar realidades sem impor rupturas bruscas.

Uma evangelização holística

A Etiópia possui uma rica e antiga tradição cristã, em sua maioria ortodoxa oriental. Por isso, é raro encontrar um número expressivo de católicos em uma mesma região. Ainda assim, o padre Kilimpe reforça a contribuição da Igreja Católica. "Oferecemos uma abordagem holística da evangelização. Coração, mente e corpo precisam ser alimentados."

Esse método não se limita apenas ao questionamento de ritos como o salto sobre bois, mas também alcança questões práticas do dia a dia. Entre elas estão o acesso à água e o incentivo à educação de meninas.

Além disso, há sempre um esforço para valorizar a identidade cultural. "Não quero que as pessoas vejam sua cultura como algo ruim", acrescenta o missionário.

Espiritanos: respeito e evangelização

Segundo ele, "nós não a desprezamos. Dialogamos e evangelizamos a cultura. Nós, católicos, não criamos divisões. Criamos unidade, respeitamos e nos engajamos com a cultura."

Essa forma de evangelizar passa por aprender a língua local, viver o mesmo modo de vida e encontrar nos costumes aquilo que pode aproximar as pessoas do Evangelho.

Assim, os Espiritanos atuam com humildade, sem impor mudanças abruptas, mas promovendo diálogo e respeito.

Um trabalho que vai além dos Hamar

O trabalho missionário com os nômades do Vale do Omo é apenas uma parte da presença dos Espiritanos na Etiópia. Eles também administram paróquias, escolas e ministérios prisionais.

Além disso, estão envolvidos em iniciativas humanitárias e até mesmo atuam como capelães no escritório da União Africana em Adis Abeba. Essa diversidade de atuação reforça a importância de sua presença no país.

O padre Kilimpe e os Espiritanos são muito gratos à ACN pelo apoio recebido. A instituição já auxiliou a congregação em mais de dez projetos nos últimos cinco anos. Entre eles estão a renovação e construção de igrejas, transporte, provisão de estipêndios de Missa e tradução de textos para línguas locais.

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