Indignação e Coragem

Santo Agostinho diz que a esperança tem duas lindas filhas: a indignação e a coragem. A indignação nos ajuda a não aceitar as coisas como são, e a coragem nos ajuda a mudá-las. Dom Estevam dos Santos recebeu essas preciosas “herdeiras” em seu apostolado antes mesmo de se tornar bispo, enquanto era pároco na região de Caetanos, sertão da Bahia.

Quando o então Padre Estevam chegou na região, ele encontrou grandes desafios, como entrar nas capelas, depois de horas de viagem, e ver que apenas duas pessoas o esperavam para a celebração. Alguns líderes ficariam desmotivados, mas a esperança não desaponta e suas “filhas” logo se manifestaram no coração daquele pastor. A indignação o fez pensar em formas de aproximar Deus daquele povo, tão castigado e sofrido pela seca, miséria e solidão, e a coragem inspirou um desafio surpreendente.

Na cidade vizinha, havia o Grupo de Oração Sagrada Face, onde jovens viviam intensamente o Evangelho. Padre Estevam fez então um convite inesperado para eles: “Quem quer dedicar seis meses da sua vida em missão na cidade de Caetanos?” Aquela proposta encontrou três corações inquietos. Maria Helena, Suse e Lucimária responderam com coragem: “Eis-me aqui”. E as três jovens mudaram-se temporariamente para Caetanos.

Uma semente fecunda

As visitas às casas, movimentos de oração e atividades na igreja semearam no povo o desejo insaciável de estar com Deus. Quando o padre chegava na comunidade, não eram duas, mas agora dezenas de pessoas que o aguardavam. Famílias inteiras paravam tudo para receber o sacramento. Aos poucos, a comunidade cresceu e, como semente fecunda, multiplicou os frutos em cem por um (cf. Mc 4,20). “Os índices de alcoolismo e suicídio eram muito altos por lá. Nós vimos a Palavra de Deus modificar as pessoas e dar esperança de uma vida diferente”, testemunha a hoje Irmã Suse.

Além dos frutos, multiplicou-se também o tempo de missão das três jovens. O que era para durar seis meses, tornou-se uma vida inteira consagrada à obra de Deus. Assim nasceu a Fraternidade das Irmãs Missionárias da Sagrada Face.

Os benfeitores da ACN ajudaram na compra de um automóvel para Dom Estevam – hoje bispo de Ruy Barbosa, também na Bahia – e outro para as Irmãs, favorecendo seus chamados a irrigar com o amor de Deus os corações nessas terras sertanejas que já passaram anos sem chuva. Todos os projetos da ACN são sinais da Providência Divina, mas com Dom Estevam isso ficou ainda mais evidente. A caminho de uma das comunidades, atravessando as estradas castigadas do sertão baiano com um carro popular já bem usado, um pneu furou e Dom Estevam teve o atraso que a difícil troca causou. Mas antes de chegar ao seu destino, as pontiagudas pedras furaram o segundo pneu. Sem estepe, mas não sem esperança, quando perguntava a Deus o que faria naquela situação, seu telefone tocou. Era o diretor de projetos da ACN para informar que o pedido de um carro novo (e apropriado para a região) foi aprovado. “Eu estava ali, olhando para aquele pneu furado, com o telefone no ouvido e mal podia responder, tão maravilhado estava”

Os benfeitores da ACN são assim: chegam com a ajuda nos momentos mais difíceis. Acredite, cada doação sua é um instrumento da Providência Divina que chega na hora certa para que o Evangelho siga seu percurso sem barreiras pelo mundo, semeando amor e transformando os desertos em jardins de esperança.