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Estudo de Caso 2023: Detido, desrespeitado e deportado

O Bispo Rolando José Álvarez Lagos, da Diocese de Matagalpa, entre as ruínas do edifício da Cáritas em Sebaco (2018), na Nicarágua, onde a Igreja Católica é perseguida pelo governo do Presidente Daniel Ortega

Às 3 horas da madrugada do dia 19 de agosto de 2022, a polícia nacional entrou à força nos escritórios da Diocese de Matagalpa e prendeu o Bispo Rolando Álvarez, juntamente com padres, diáconos e seminaristas. Pouco tempo depois, o bispo foi colocado em prisão domiciliar. A sua detenção representou o culminar de um forte aumento da hostilidade governamental, que teve início no dia 4 de agosto com o bloqueio de todos os acessos à cúria para as pessoas consideradas “agentes políticos”.

No dia 10 de fevereiro de 2023, o tribunal retirou a cidadania de Dom Álvarez e o condenou a 26 anos de prisão. A condenação foi proferida um dia depois de o bispo ter se recusado a juntar-se a um grupo de mais de 200 presos políticos, incluindo vários sacerdotes e seminaristas acusados de “conspiração”, que deveriam ser deportados para os Estados Unidos. O juiz declarou o bispo um “traidor da pátria” e o considerou culpado de “conspiração contra a integridade nacional e divulgação de notícias falsas por meio das tecnologias de informação e comunicação, em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense”.

Dom Álvarez tem sido um crítico declarado do governo do presidente Daniel Ortega, denunciando a crise social que assola a Nicarágua desde 2018. A dura condenação do bispo representou uma escalada no conflito do governo contra a Igreja, na sequência da expulsão, em março de 2022, do Núncio Apostólico, o Arcebispo Waldemar Stanislaw Sommertag, e do exílio forçado de religiosos e sacerdotes, incluindo as Missionárias da Caridade, a congregação fundada por Santa Madre Teresa de Calcutá.

No relatório de novembro de 2022, “Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?”, de autoria da pesquisadora Martha Montenegro, foram registrados 396 ataques contra a Igreja Católica entre abril de 2018 e outubro de 2022, incluindo profanações, roubos, ameaças e discursos de ódio. Foram identificados atos de opressão contra membros do clero, bem como a proibição de procissões religiosas, a interrupção de serviços litúrgicos e a intimidação dos fiéis por meio do destacamento de forças policiais nos arredores das igrejas. O Governo nacionalizou também uma universidade católica e fechou a estação de televisão da Conferência Episcopal, bem como pelo menos oito estações de rádio católicas.

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