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Papa visita Congo e Sudão do Sul

Publicado em: janeiro 27th, 2023|Categorias: Notícias|Views: 525|

No dia 31 de janeiro, o Papa Francisco desembarcará em Kinshasa para uma breve visita à República Democrática do Congo (RDC). Ele parte para Juba, no Sudão do Sul, no dia 3 de fevereiro, e volta para Roma no dia 5 de fevereiro. Seria preciso um milagre para que a paz voltasse a essas nações, mas é exatamente isso que o povo espera da visita do Papa.

A ACN organizou uma conferência online na segunda-feira, 16 de janeiro, intitulada "Viagem do Papa Francisco à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul: uma mensagem de unidade e reconciliação em dois países esmagados pela violência e pelo sofrimento". Durante o evento, os palestrantes afirmaram que, durante sua visita à República Democrática do Congo (RDC) e ao Sudão do Sul, o Papa Francisco dará um impulso muito necessário à Igreja local em ambos os países.

Congo é a primeira parada

A primeira parada do Papa será na RDC. Ao contrário do primeiro roteiro de sua viagem em 2022, que teve de ser cancelada devido a um no joelho, o Papa não visitará o leste do país. Neste local se desenrola o pior dos conflitos. A situação de segurança se deteriorou significativamente nos últimos meses. Mas as autoridades congolesas afirmam que o motivo do corte da viagem a Goma se deve ao estado de saúde do Papa.

No entanto, a Igreja congolesa está se esforçando para trazer os deslocados internos e outros que sofreram os efeitos da guerra, para encontrar o Pontífice lá, explicou o padre Godefroid Mombula Alekiabo, missionário congolês radicado em Kinshasa, durante a conferência on-line.

Com cerca de 35 milhões de fiéis, o que representa 50% da população, a Igreja Católica é a maior confissão religiosa da RDC. "É difícil superestimar o impacto da Igreja Católica. Suas escolas educaram mais de 60% dos alunos do ensino fundamental do país e mais de 40% dos alunos do ensino médio. A Igreja possui e administra uma extensa rede de hospitais, escolas e clínicas, além de muitos outros projetos", explicou o P. Godefroid. Ele também é professor e secretário acadêmico da Universidade Saint Augustine, em Kinshasa.

De aliado a crítico

Grande parte da influência da Igreja vem dos tempos coloniais, mas "a inversão do papel da Igreja em relação ao Estado desde a independência foi impressionante. Antes era um aliado confiável, e se tornou cada vez mais o crítico institucional mais severo do Estado", explicou o padre congolês.

"O conflito aberto surgiu pela primeira vez em 1971, quando o Estado, como parte de seus esforços para centralizar e ampliar sua autoridade, nacionalizou as escolas católicas. O conflito se intensificou em 1972 quando, como parte da campanha de autenticidade, todos os cidadãos foram obrigados a abandonar seus nomes cristãos de batismo e adotar os africanos. O cardeal Malula protestou contra a decisão. O regime retaliou obrigando o cardeal a se exilar por três meses e confiscando sua residência", disse o orador à audiência.

"As proibições posteriores de celebrar o Natal como feriado, a nacionalização das escolas e a substituição forçada de imagens do Papa e crucifixos por retratos de Mobutu, tiveram vida curta. "A falta de habilidades e recursos gerenciais do estado tornou sua aquisição do sistema educacional um desastre. Diante dessas realidades, o Presidente pediu às instituições religiosas que retomassem a responsabilidade pelas escolas da igreja. Os cursos de religião foram novamente integrados no currículo", explicou o P. Godefroid. O padre diz que neste momento, "em relação ao Estado, a Igreja é considerada como voz de oposição aos regimes autoritários".

Mensagem de paz para o Congo

O padre congolês espera que o Papa Francisco traga uma mensagem de reconciliação para o povo da RDC. Segundo ele isso é extremamente necessário e diz que isso deve seguir os ensinamentos expostos no Fratelli Tutti e na Laudato Si'. Então ele também espera ouvir o Papa Francisco condenar as multinacionais que exploram a riqueza mineral congolesa e atiçam o fogo da guerra. "Vários grupos rebeldes competem para extrair o máximo de benefícios comerciais e materiais a um custo humano exorbitante de milhões de vidas congolesas. O setor privado desempenha um papel vital na continuação da guerra, facilitando a exploração, transporte e comercialização dos recursos naturais do Congo."

Que todos possam ser um

Na mesma conferência, o padre Samuel Abe, secretário-geral da Arquidiocese de Juba e coordenador da visita papal ao Sudão do Sul, falou sobre o país mais jovem do mundo, que conquistou a independência do Sudão propriamente dito em 2011, após décadas de conflito entre cristãos e muçulmanos.

Num país dilacerado por conflitos tribais internos pelo poder, o lema da visita é: "Rezo para que todos sejam um". O Papa falou muitas vezes sobre a necessidade de paz em várias partes do mundo, mas a atenção dada ao Sudão do Sul tem sido especial. Em abril de 2019, ele convidou líderes políticos, representando diferentes facções e grupos tribais, ao Vaticano para um retiro espiritual. Como o Sudão do Sul não é um país exclusivamente católico (possui um número significativo de protestantes) o arcebispo de Canterbury e o moderador da Igreja da Escócia também estiveram envolvidos. Na verdade, o Papa Francisco creditou ao arcebispo Justin Welby a ideia do retiro.

A grande surpresa, porém, veio no final do retiro, quando o Papa se ajoelhou e beijou os pés dos líderes sudaneses. "Essa é uma expressão de que ele ama o povo do Sudão do Sul e deseja que vivam em paz", disse o padre Samuel, durante a conferência online.

Esperando o milagre da paz

No entanto, a paz escapou ao Sudão do Sul desde que se tornou independente em 2011, admite o P. Samuel. "Temos um problema com o tribalismo. Meu falecido arcebispo Paulino Lukudu Loro costumava dizer que ter uma tribo não é um problema, mas deve ser uma expressão que nos une a outras tribos. Quando éramos um só Sudão, havia um fator unificador, costumávamos nos ver como um só povo. Não permitimos que os problemas nos dividissem. O tribalismo surgiu quando nos tornamos independentes."

Ele acredita que os políticos são os principais culpados. "Como Igreja, podemos dizer que as próprias tribos não são más, mas podemos ver que os políticos são os que incitam as pessoas a odiar os grupos étnicos opostos. Se os políticos pudessem se abster de causar conflitos intertribais nas aldeias, então poderíamos ter paz", disse aos participantes na conferência da ACN.

Então o padre terminou com uma nota esperançosa. "Quando o Papa tocar o solo do Sudão do Sul, muitos milagres podem acontecer. Acreditamos que a mensagem que ele trará será uma continuação daquela que ele deu aos nossos líderes no Vaticano. Esperamos que encoraje nosso povo a viver como irmãos e irmãs. Afinal no momento nosso país está implementando o acordo de paz e há sinais de que as coisas estão mudando para melhor".

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