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Esperança para vencer o mal

Publicado em: julho 19th, 2022|Categorias: Notícias|Views: 415|

Durante uma recente visita à sede da ACN, o Cardeal Désiré Tsarahazana, Arcebispo de Toamasina, Madagascar, insistiu na necessidade de manter a esperança para vencer o mal. Nesta entrevista à ACN, o Cardeal fala de como a corrupção, mas também a falta de educação e civilidade, estão afetando negativamente seu país.

Como você descreveria a situação atual da Igreja em Madagascar?

Há muitos cristãos. A maioria das dioceses está vendo um aumento na fé cristã e as igrejas estão cheias. No entanto, devo dizer, também, que o nosso país é um lugar de grandes contrastes. Temos muitos recursos, mas o país está se deteriorando. E assim, devemos nos perguntar se somos realmente cristãos, se estamos vivendo como Jesus nos ensinou, a serviço dos outros. Esse contraste, essa diferença, me preocupa. Existem cristãos, mas precisamos nos aprofundar na fé. A fé tem que ser realmente vivida, e não apenas praticada externamente. Se vivermos como Jesus ensina, podemos nos desenvolver melhor.

Você diz que a situação no país está se deteriorando. Quais você diria que são as razões para essa deterioração?

Há uma deterioração que está principalmente ligada à corrupção. Muitas pessoas querem entrar na política para enriquecer o mais rápido possível. Há também falta de educação e civilidade. Afinal grande parte da deterioração não é econômica, mas social. Os dois estão conectados. Se há corrupção, há injustiça; onde há injustiça, não há paz.

Como você acha que a corrupção pode ser superada no país?

A esperança para vencer é essencial. Quando alguém cai em desespero, perde a energia para fazer algo para mudar a situação, especialmente quando está sofrendo. Mas se alguém tem esperança de que as coisas possam melhorar um dia, coragem e bravura seguem. Não podemos nos deixar vencer pelo desespero, pelo mal. Devemos confiar no Senhor, ter esperança para vencer o mal. Caso contrário podemos pensar por que fazer o bem, se o resto do mundo está fazendo as coisas mal? Mas devemos trabalhar para fazer o bem, e o Senhor fará o resto.

Quais você acredita que foram os principais frutos da visita do Papa em 2019?

O Papa veio para dar esperança. Muitas pessoas vêm me pedir conselhos sobre o que fazer com suas vidas e com a situação do país. A visita do Papa reforçou o desejo do povo de enfrentar seus desafios diários. No meu caso, isso me ajudou a fortalecer meu compromisso de trabalhar para o bem. Nós nos acostumamos com a fé. É fácil se acostumar ir à missa, por exemplo. Mas é crucial entender o que significa ser verdadeiramente cristão. É preciso estar plenamente convencido da própria fé, descobrir a necessidade de rezar, de entrar em contato com o Senhor, com Deus. Nossa fé tem que ir além do que estamos acostumados. Precisamos descobrir como realmente precisamos da fé. A visita do Papa foi um estímulo para reacender nossa esperança.

A população é geralmente muito pobre. Além disso, o país tem sido abalado por diversos desastres naturais nos últimos anos. Como isso afetou a missão pastoral da Igreja?

Estas catástrofes, os ciclones, as inundações, agravaram definitivamente a pobreza da população. Isso é algo que todos nós temos nos preocupado. No entanto, tentamos trabalhar em equipe. As dioceses que não foram muito afetadas têm apoiado as que mais sofreram com essas catástrofes. Nestas circunstâncias temos vivido a solidariedade e o amor.

Outros países africanos sofreram com a violência cometida em nome da religião. Isso aconteceu em Madagascar também?

Não tivemos nenhuma violência religiosa em nosso país. Houve um aumento na construção de mesquitas em vários lugares, mas a relação entre cristãos e muçulmanos é boa. Não há violência, não há ódio, vivemos juntos. No entanto, não sabemos o que pode acontecer se o número de muçulmanos no país continuar a aumentar. Os extremistas podem vir de outros lugares, como aconteceu em outros países africanos, onde houve casos de violência contra cristãos.

Que tipo de ajuda a ACN tem prestado?

Recebemos muita ajuda, como veículos 4×4 e motocicletas. A maioria das igrejas neste país está muito isolada. Os padres muitas vezes têm que ir a lugares distantes para celebrar a missa e dar aulas de catecismo. Às vezes eles têm que caminhar dois ou três dias para servir algumas comunidades. Eu mesmo fiz isso, caminhando por três dias, embora não possa mais fazer isso. Também recebemos ajuda para estabelecer a rádio que nos ajuda na formação na fé. Isso é algo pelo qual estamos muito gratos. Esperamos que esta ajuda continue, para que possamos ter todas as nossas dioceses cobertas por rádio.

Agradeço de todo o coração à ACN e a todos os benfeitores pela ajuda que nos deram. Através de sua fé, temos sido capazes de sustentar a nossa. Continuamos orando por você todos os dias. Deus te abençoe e te acompanhe, e que o amor de Cristo permaneça conosco.

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