Em 1980, na encíclica Dives in misericordia [Rico em misericórdia], o Papa São João Paulo II já escrevia a respeito de um perigo crescente de autodestruição da humanidade. Ele falava não apenas da ameaça real de uma guerra nuclear, que pode fazer desaparecer nações inteiras, mas da destruição do núcleo mais íntimo do ser humano, quando este perde a sua relação com Deus.
Por isso, o documento do Papa é um apelo urgente à Igreja e a toda a humanidade para encontrar em Deus um “Pai de misericórdia”, banindo o medo existencial diante do futuro. “Deus não permanece apenas em estreita relação com o mundo, como Criador. Deus também é Pai: está unido ao homem, por Ele chamado à existência no mundo visível, mediante um vínculo mais profundo do que o da Criação. O vínculo do amor.” Só esse vínculo nos pode pôr de volta aos trilhos!
Misericórdia e amor paternal
Jesus veio a este mundo para nos revelar o mistério do Pai, que ama o mundo tanto quanto ama o seu Filho, a quem Ele gerou desde toda a eternidade. Em seu discurso de despedida na Última Ceia, Jesus rezou: “[Pai] Eu lhes dei a conhecer o teu nome, e o darei a conhecer, para que o amor com que me amaste esteja neles” (Jo 17,26). Jesus nos leva de volta à intimidade original que a criança tem para com seu pai, que perdemos por causa do pecado original. Embora muitos de nós rezemos diariamente o “Pai Nosso”, só poucos têm uma relação pessoal com o seu “Papai do Céu” e falam com Ele com a mesma confiança de uma criança. Precisamos chegar a essa consciência e a essa intimidade.
No Evangelho, Jesus fala incessantemente do Pai como aquele que permanece fiel ao seu amor eterno pelo homem. É por isso que a parábola do pai misericordioso que mantém seu olhar atento à procura de seu filho pródigo, que corre ao seu encontro, se lança nos seus braços e o beija é chamada de “Evangelho dentro do Evangelho”. Quando refletimos as palavras e as ações de Jesus, reconhecemos a paternidade de Deus por nós e aprendemos sobre o seu amor – motivo de toda a nossa felicidade na eternidade.
Quanto mais difíceis forem os tempos, tanto mais precisaremos reconhecer Deus por pai, cheio de misericórdia. “Meu Pai do céu, como é agradável e salutar para mim, saber: tu és meu Pai e eu sou tua filha. Especialmente quando tudo fica escuro na minha alma e quando minha cruz pesa sobre mim, sinto o quanto é necessário continuar a dizer: Pai, eu acredito no teu amor por mim.” (Madre Eugenia Ravasio).
Pe. Martin M. Barta
Assistente Eclesiástico Internacional
Eco do Amor
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