Após os atentados suicidas ocorridos em julho (com mais de 30 mortos) na cidade de Maroua, os habitantes do norte de Camarões vivem com medo. As Missas de domingo são celebradas sob fortes medidas de segurança. Dom Bruno Ateba tem muita esperança. Ele aposta na oração e no diálogo entre cristãos e muçulmanos.

Para milhões de católicos brasileiros é normal; mas para Dom Bruno Ateba, bispo da diocese camaronesa de Maroua-Mokolo, poder celebrar a Missa dominical numa igreja digna e sem medo de atentados foi um grande passo alcançado pela oração. Numa visita à sede administrativa da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre na Alemanha, este bispo de 50 anos de idade informou que celebra várias Missas dominicais ao ar livre, com um total de 3 mil fiéis, faça chuva ou sol. Em cada ocasião se forma um cordão humano em torno da assembléia, para submeter os que desejam participar a estritos controles de segurança. Apesar do terror, os fiéis de Maroua não perderam a alegria. “Nós gostamos de dançar e cantar durante a Santa Missa”, informa Dom Ateba. “E esta alegria continua presente, pois no Senhor é que temos o nosso refúgio”.

Os atentados suicidas de julho foram devastadores: devido a eles, mais de 30 pessoas perderam a vida em Maroua e centenas ficaram feridos. O horror diante deste massacre é maior devido ao fato de que provavelmente foram praticados por moças jovens que, obrigadas pelo Boko Haram, esconderam as bombas por baixo da burka para cometer os atentados.

Camarões se encontra localizado entre os piores cenários de crise da África de hoje: entre a Nigéria e a República Centro Africana. A Nigéria, onde o grupo terrorista Boko Haram atua com especial crueldade, se encontra a apenas 60 quilômetros da capital da província de Maroua. Dom Ateba assegura que a população da região fronteiriça e de Maroua está traumatizada e cheia de medo de que haja mais atentados. No dia 3 de setembro, o Boko Haram voltou a atacar num movimentado mercado do norte de Camarões. Duas mulheres praticaram um atentado suicida ocasionando um banho de sangue.

Segundo o bispo, já são mais de 100 mil pessoas que fugiram de Camarões por causa dos conflitos. Mais de 52 mil – sobretudo procedentes da Nigéria – foram abrigadas no campo de refugiados da ONU em Minawao (a 40 quilômetros de Maroua). Além dos outros 50 mil camaroneses que vivem deslocados em seu próprio país por medo do Boko Haram. Muitos deles encontraram refúgio na casa de familiares ou em edifícios públicos. O bispo camaronês retirou os missionários estrangeiros da região fronteiriça. “A vida ali é muito perigosa para pessoas de pele branca”, ele explica. O norte dos Camarões vive principalmente do turismo, mas os turistas sumiram depois que o Boko Haram começou a aterrorizar a região. “Tudo parou”, diz Dom Ateba para descrever o sentimento das pessoas que vivem do turismo.

Graças à forte presença do exército e da polícia, atualmente reina uma certa normalidade, que de nenhum modo pode se confundir com a paz. Por isso, Dom Ateba apela para a comunidade internacional: “Ajudem-nos a encontrar a paz. Sem paz não podemos fazer nada. A comunidade internacional dispõe dos recursos necessários para por um fim ao terror do Boko Haram”.

Numa carta aos fiéis de sua diocese, em meados de agosto, o bispo os convida a rezar e a permanecer em alerta. “Para a nossa segurança, é importante que colaboremos com os organismos públicos. Todos os que detectarem pessoas desconhecidas devem ficar em alerta e se elas fizerem alguma coisa fora do normal, comuniquem imediatamente para a polícia”. Dom Ateba assinala que isto é especialmente importante na zona de fronteira, pois em muitos locais não há uma fronteira definida. Com frequênciaas casas dos membros da tribo dos Kanuri estão, uma na Nigéria, outra em Camarões”. Assim, é bem fácil para os terroristas se infiltrarem no país.

Mas como pôr fim ao terror do Boko Haram? Para o bispo é claro: o mais importante é a oração e em segundo lugar está o diálogo entre cristãos e muçulmanos. Em Camarões, cerca de 70% dos 20 milhões de habitantes são católicos e a Igreja Católica goza de boa reputação. Segundo Dom Ateba, muitos muçulmanos frequentam os centros de saúde católicos quando ficam doentes e enviam os seus filhos para estudar nas escolas católicas. O bispo redigiu uma oração pedindo a paz que é rezada em todas as Missas de sua diocese antes da bênção final.

Em 2014 a Ajuda à Igreja que Sofre apoiou o trabalho pastoral em Camarões com 3,85 milhões de reais e o bispo Dom Ateba se mostrou muito agradecido por isto. Há anos a Fundação Pontifícia vem contribuindo para a formação de seminaristas e sacerdotes na diocese de Maroua-Mokolo. Graças aos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre, está sendo construído um salão multiuso junto ao campo de refugiados de Minawao para que os refugiados católicos possam se reunir para rezar e para participar da Santa Missa. Outro projeto importante financiado pela AIS cumpre uma das intenções de oração do bispo, a construção de uma catedral para Maroua. No momento já está colocado o cimento para a base, mas agora falta erguer as paredes.

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