O padre Aurelio Gazzera, missionário na cidade centro-africana de Bozoum e diretor da Cáritas da diocese de Bouar, lamenta a falta de interesse por parte opinião pública mundial pela dramática situação na República Centro-africana, onde uma grave crise política e uma onda de violência urbana se desenvolvem.

“Nas duas últimas semanas, a notícia mais importante sobre a África Central nos meios de comunicação foi a morte de 26 elefantes pelas mãos de caçadores furtivos. No entanto, as numerosas vítimas de assassinatos e feridos, assim como os estupros e os roubos suscitam pouco interesse”, sublinha o carmelita italiano em um recente diálogo com a Associação católica internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). “A República Centro-africana — continua o religioso — corre o risco de ficar abandonada à própria sorte e converter-se em um inferno”.

Segundo Pe. Gazzera, é preocupante a ingerência do Chade e do Sudão no país, pois a maioria dos rebeldes do grupo Seleka são estrangeiros que não falam o Sango, idioma nacional da República, mas somente o árabe. Ele comenta que não há nenhum controle sobre as atividades dos rebeldes: “Recentemente, uns rebeldes me disseram: ‘Isto é uma província do Chade. Estamos em guerra’”. Ademais, é preciso considerar a crescente influência do Islã. Metade do novo governo está composto por muçulmanos, que entre a população são um total de apenas 15 %, enquanto os cristãos chegam a 66 %, segundo relata o missionário. “As vítimas dos roubos são principalmente os não muçulmanos, em especial a Igreja católica — ressalta o padre Gazzera — o que é preocupante para um país onde até o momento havia uma boa convivência”. As tensões étnicas, mas sobretudo as religiosas, estão aumentando.

O carmelita lamenta que a República Centro-Africana tenha sido frequente cenário de golpes de estado; entretanto — acrescenta — neste caso a situação é muito pior: há dois meses continuam os saques, os assassinatos, os tiroteios e a violência. Os funcionários do Estado fugiram, assim como o exército e as forças de segurança. As escolas e as instituições públicas estão fechadas há meses. Literalmente, acrescenta o sacerdote, “tendo em conta uma cota de analfabetismo de 51,4 %, salas de aula com até cem alunos, uma justiça que se dirige contra os fracos, uma política que só procura o próprio benefício e uma saúde pública que só se interessa pelo bolso e pouco pelos doentes, pergunto-me com o salmista: ‘O que pode fazer o justo?’ (Sl 11,3). É evidente a necessidade de um trabalho de educação em todos os níveis. Este é o motivo pelo qual não queremos abandonar o país e pelo qual lançamos este grito!”.

A Igreja, e em particular a “voz de bispos valentes como o Arcebispo de Bangui (a capital da nação)”, são uma das poucas vozes que ainda apelam às consciências, afirma Pe. Aurelio. A República Centro-Africana é um país “pouco conhecido e que tem pouco peso no cenário internacional”, acrescenta o missionário. “Se falarmos, escrevemos e gritarmos, possivelmente nos escutem… e assim, algo seja feito. Queremos continuar falando, queremos trabalhar para que no futuro estas coisas não voltem a acontecer”.

A Ajuda à Igreja que Sofre voltou a conceder à Igreja católica na República Centro-Africana uma ajuda emergencial de 160.000 euros para socorrer os afetados pelos crimes de violência.

Recentemente o líder do grupo rebelde Seleka, Michel Djotodia, se autoproclamou presidente da nação derrubando o então governante Francois Bozizeno dia 24 de Março. Apesar da ascensão do seu líder ao mais alto cargo de poder, os rebeldes do Seleka, responsáveis por centenas de crimes contra a população, não cessam de infundir terror nos cidadãos, além de realizarem impunemente roubos, crimes e assassinatos.

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