Sempre que o ser humano se esqueceu dos verdadeiros valores da vida, a humanidade se empobreceu, afirma o antropólogo Berdiaeff. O psicanalista Caruso chama a isto de tragédia existencial e o Dr. Viktor E. Frankl de enfermidade noológica, que caracteriza a falta de sentido de vida, pela ausência de uma razão de ser.

Falar em casamento e em família do mesmo modo para heterossexuais e homossexuais, embora se anuncie como uma grande conquista de nossos dias, merece sérios questionamentos.

Não se trata de negar a mesma e substancial igualdade de todas as pessoas perante Deus e perante os homens. É dever de todos proteger e defender a dignidade, valor e direitos de cada pessoa, independente da classe, da cor, da etnia, do sexo ou do credo. Entretanto, no exercício da cidadania, devemos reconhecer e defender a diferença entre as pessoas, levando em consideração o respeito dos princípios e dos valores fundamentais da sociedade humana como patrimônio e herança da humanidade e não de uma determinada cultura ou modo retrógrado de pensar.

Nenhuma ideologia, religião e mesmo democracia se justificam em si quando os verdadeiros valores da pessoa humana são questionados. “A democracia precisa da virtude, da ética, da verdade e da defesa dos verdadeiros valores da vida se não quiser ir contra tudo o que pretende defender e estimular” (João Paulo II). Continua o Papa dizendo: “Infelizmente os meios de comunicação se acostumaram a dizer mais o que agrada aos ouvidos humanos do que apresentar a verdade exigente das coisas”. (João Paulo II – Esplendor da Verdade).

O exercício da verdadeira cidadania nos garante a liberdade e o direito de questionar decisões tomadas quando ferem o sentido mais profundo dos conceitos fundamentais da sociedade, tais como os conceitos do casamento, da família e da adoção. Não se pode excluir ninguém. Mas não basta buscar justificativas nas leis de uma constituição nacional para questionar e mudar conceitos existenciais da vida. Estes valores dependem da natureza humana e estão acima das decisões de pessoas e mesmo de uma constituição. Não é lícito mudar o sentido dos conceitos base da sociedade porque muitos agora pensam assim ou para legalizar interesses de classes e de pessoas ou de uma determinada cultura. “A diferença sexual é originária e não mero produto de uma opção cultural” (CNBB 11/05/11).

A mudança de conceitos básicos da vida humana tem consequências sérias na construção da verdadeira cidadania e democracia. O que está em jogo é a própria noção da entidade família e do verdadeiro sentido do amor humano, que estão acima de qualquer lei ou modo de pensar particular, mesmo que se trate de uma lei aprovada por legisladores do Supremo Tribunal Federal. “Equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo à família descaracteriza a sua identidade e ameaça a estabilidade da mesma”. (CNBB.11/05/11).

Não estamos contra nenhuma pessoa ou minorias, pelo contrário, apenas se trata de defender o valor da vida e das instituições base da sociedade humana. A Igreja, apesar de seus limites e erros durante a história, foi e é a instituição que mais defendeu e buscou promover os verdadeiros valores da vida, pondo-se a serviço de todos, particularmente das minorias, dos mais pequeninos e feridos da terra. Ninguém pode negar esta verdade. E mais, a Igreja não interpreta os valores do casamento, da família e da vida apenas pela ótica das chamadas conquistas humanas, das leis civis, dos interesses de grupos ou pelos valores culturais de um tempo, mas também sob a luz da verdade que brota da revelação que nos vem de Deus e dos Evangelhos, dos quais se considera guardiã. Isto faz com que a Igreja tenha uma posição diferente quanto ao casamento, família e adoção, defendendo sempre as justas aspirações e direitos de proteção jurídica de todas as pessoas de uma sociedade.

Numa democracia se respeita e se defende a liberdade de expressão de todos. Como cristãos e cidadãos temos o direito, o dever e a liberdade de expressar nossa discordância no modo de pensar, de ver e de defender o casamento e a família. A independência da Igreja e do Estado é algo salutar e benéfico, mas, tanto a Igreja como o Estado têm a obrigação de defender os valores base de uma sadia sociedade democrática.

A Igreja não declara guerra a ninguém, mas questiona por princípio e por convicção que os conceitos da família, do casamento e da adoção sejam aplicados e entendidos do mesmo modo para héteros e homoafetivos.  Sem a crença dos valores, particularmente sem Deus, tudo se torna justificável e infelizmente possível. “Quando o homem se põe como medida de todas as coisas, converte-se em escravo de si mesmo” (João Paulo II).

Padre Evaristo Debiasi
Assistente Eclesiástico Nacional

Últimas notícias

Deixe um comentário