Carta escrita por uma irmã anônima do Sudão do Sul

Passei alguns meses refletindo sobre o conflito no Sudão do Sul, que se iniciou em Juba, no dia 15 de dezembro do último ano e está atualmente em curso de paz entre o Governo da República do Sudão do Sul e o Movimento de Libertação do Exército, em Adis Abeba. A questão que paira na minha mente é: “Este conflito foi necessário?”

Estou em dívida com tantas pessoas, incluindo a comunidade internacional que têm trabalhado incansavelmente para garantir o retorno da verdadeira paz no Sudão do Sul. Apesar da brecha para a cessação das hostilidades acordada em 09 de maio deste ano, muitos deles ainda estão determinados a percorrer o caminho áspero e duro para a paz, em Adis Abeba. Eu gostaria de agradecer a cada um de vocês envolvidos neste processo de paz e que Deus abençoe seus esforços.

Este desejo inabalável de continuar com o processo de paz provocou em mim pensamentos sobre as palavras de Dag Hammarskjöld, ex-secretário geral da ONU, que morreu em um acidente de avião em setembro de 1961, em seu caminho para negociar um cessar-fogo entre não-combatentes da ONU e os Katanga, tropas de Moise Tshombe no Congo. Dag falou: “A mais longa jornada de qualquer pessoa é a viagem para seu interior”. Cada um de nós pode compreender a citação de forma diferente, mas com as experiências da minha vida, a viagem para explorar o nosso espaço interior é uma das viagens mais difíceis e desafiadoras da vida de qualquer pessoa. É muito mais fácil tomar um avião e voar para Addis Abeba ou para outro destino conhecido – a menos que o avião se acidente, como no caso de Dag.

Hoje Dag desafia cada um de nós a nos envolvermos no processo de paz em Adis Abeba e no processo de paz de todas as jovens nações que assim desejam. “Que tipo de viagem já fiz em mim mesmo, a fim de contribuir para este processo de paz na sinceridade de coração?”. “Que bagagem eu carrego dentro de mim como um indivíduo para o processo de paz?”. Acredito firmemente que a verdadeira paz no Sudão do Sul deve começar com esta viagem interior, uma viagem de transparência em relação a si mesmo e a Deus, enfrentando a verdade sobre mim mesmo, sentimentos e atitudes em relação aos outros. É importante que nós comecemos esta jornada interior, não importa o que é preciso para realizar, não é só através da racionalização ou do culpar as duas partes, afinal, você e eu também somos responsáveis pelo conflito existente, porque temos contribuído para isso em nossas vidas diárias através de discursos de ódio, indiferença e de deixar de agir quando necessário.

Como Dag afirmou, nosso trabalho de paz deve começar dentro do mundo privado de cada um de nós. Para mim, para construir a paz no Sudão do Sul é preciso agir com justiça e sem medo. Como podemos lutar pela liberdade no país se não somos livres em nossas mentes? “O que eu e você podemos fazer para criar um Sudão do Sul sem fronteiras?” Cada um de nós é responsável pela proteção de todos, a segurança e a paz, porque a paz é uma responsabilidade coletiva e não só do presidente Salva Kiir ou do líder rebelde Dr. Riek Machar. Nós só podemos construir uma solução pacífica no Sudão do Sul se estivermos dispostos a sacrificar e verdadeiramente se entregar ao interesse de todos – uma viagem a ser feita a nível individual e social. Eu rezo e espero que possamos perceber a importância do momento atual como uma ponte entre o passado e o futuro do Sudão do Sul se formos capazes de fazer esta viagem juntos.

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