“Temos a oportunidade de trabalhar e obter resultados. Mas temos que começar a trabalhar”. Este é o apelo do padre Aurelio Gazzera, um carmelita italiano que trabalha na República Centro-Africana há mais de vinte anos, colaborando também  – com autorização da Santa Sé – com vários diplomatas europeus.

Antiga colônia francesa, a República Centro-Africana declarou sua independência e tornou-se uma república em 1960. Porém, ao longo desse mais de meio século, sucessivas tomadas do poder trouxeram instabilidade política e inúmeras consequências à sociedade, entre elas, ameaças constantes à liberdade religiosa, miséria e, em razão da luta violenta pelo governo, medo e constantes fugas da população para países vizinhos.

“Acredito que a União Europeia (UE) pode fazer mais do que os países europeus individualmente, cujo trabalho pode ser limitado devido a laços históricos que seu governo tem com a República Centro-Africana. Por outro lado, a UE tem os meios para fazerum grande trabalho”, afirmou o missionário em encontro realizado em Roma, pela Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) que, ao longo dos últimos anos, convidou muitas testemunhas do sofrimento e perseguição da Igreja para falarem com funcionários da UE em Bruxelas e Roma. Padre Aurelio, que também é diretor da Caritas local, salientou que a ajuda da UE deve ser condicionada pelo governo centro-africano com critérios específicos e, especialmente, seu envolvimento na resolução de problemas básicos do país. A exemplo, segundo ele, não foram reinstalados prefeitos em todas as dezesseis prefeituras do país, que as deixaram por razões de segurança. Outro exemplo da fraqueza e ineficiência do governo, citado por Pe. Aurelio, é que, desde que o país se tornou independente da França, em 1960, não foi construída nenhuma única escola, todas elas foram doadas por estrangeiros.

Sobre as tensões, Pe. Aurelio esclareceu que o conflito não é religioso. “Em cada reunião que estive com representantes de ambos os lados, ninguém nunca falou sobre religião. Caso contrário, não teríamos tantos muçulmanos que buscam refúgio em missões católicas e paróquias”, disse Padre Aurelio, salientando o importante trabalho realizado pela Igreja, que muitas vezes tem de substituir a autoridade do Estado em cuidar da população.

Padre Aurelio ainda explicou a situação crítica em relação ao nível de segurança no país: “Dirigindo ao longo da única estrada que liga a África Central a Camarões, que representa o único canal de suprimentos, não é possível encontrar uma única patrulha ao longo de 300 km”. Ele também abordou a notícia de algumas meninas de língua inglesa que estariam entre as raptadas pelo Boko Haram, na Nigéria. “Não posso afirmar se essa notícia é confiável, mas certamente pode ser verdade por causa da total falta de segurança, especialmente ao longo da fronteira”.

Padre Aurelio terminou seu discurso ressaltando a importância da ajuda da União Europeia e da necessidade de mantê-la forte a longo prazo. “Muito trabalho precisa ser feito para acordar e reconstruir o país, especialmente a consciência das pessoas. Temos que trabalhar para transformar esta crise numa oportunidade, porque sabemos que cada cruz leva à Ressurreição”.

Últimas notícias

Deixe um comentário