Ele tinha apenas 13 anos, o nosso pobre Fouad Banna, esta criança a quem nós enterramos esta tarde – nós, a sua irmã Rosy, alguns familiares e eu. Seus pais, também gravemente feridos, não estavam presentes na sua triste despedida, porque eles próprios estão entre a vida e a morte numa UTI. Os três estavam em seu apartamento durante à noite, quando o prédio desabou depois de ser atingido por um dos muitos foguetes disparados pelos rebeldes, no nosso bairro cristão na cidade de Aleppo. De sua família mais próxima, a única pessoa presente no seu funeral foi a Rosy, sua irmã, uma jovem estudante com idade de 17 anos. Quando lhe perguntei se havia alguma coisa que eu poderia fazer para ajudá-la, a única coisa que ela me disse foi, «Padre, pede a Deus para curar meus pais.»

Rosy foi deixada terrivelmente sozinha. Ela está de luto, juntamente com muitos outros cristãos, no momento em que eu escrevo estas palavras. Eles ficaram arrasados depois de mais esta tragédia que se abateu sobre nossas famílias inocentes nesta cidade, devastada pelos bombardeios contínuos e selvagens dos jihadistas que, depois de ter destruído tudo o que temos, agora estão aterrorizando diáriamente a população e fazendo tudo que podem para evitar que nosso povo, inocente e pacífico, possa simplesmente viver em suas próprias casas – chegando mesmo ao ponto de tentar eliminá-los se ficarem no país. Cinco pessoas do bairro foram mortas, juntamente com Fouad naquele dia. Quanto sofrimento e infelicidade que nos têm submetido, por mais de quatro anos, esses agressores brutais e impiedosos! Eles querem governar o mundo e afirmam estar obedecendo a Deus em suas tentativas de impor, pela força e violência, a sua maneira antiquada de vida e as suas leis arcaicas sobre cada ser humano no mundo. “Você ainda está aí?” meus amigos me perguntam: “O que você está esperando para ir embora?”

A razão pela qual estamos enfrentando essa situação, nós, os cristãos, apesar de tudo o que nos acontece, está profundamente enraizada na história da nossa Igreja, na época dos primeiros cristãos. Estamos aqui na Síria desde o retorno de nossos irmãos de Jerusalém, desde os primeiros dias. Eles tinham sido batizados pelos próprios apóstolos, como nos é dito nos Atos dos Apóstolos. Devemos nossas origens aos judeus da diáspora que fizeram regularmente a sua tradicional peregrinação a Jerusalém para a festa de Pentecostes cada ano. Paulo foi batizado, confirmado, ordenado sacerdote e enviado para pregar a boa nova ao mundo por nossos antepassados em Damasco. Os cristãos que estão sofrendo aqui hoje são os descendentes dos cristãos que permaneceram fiéis a Cristo há dois mil anos e que tiveram a coragem de pagar com a vida pela sua fidelidade inabalável à Igreja do Verbo encarnado, que tem sido sempre o alfa e o Omega de sua existência.

Nossa resistência também tem a ver com o fato de pertencermos a Síria, o país que ama e aprecia o fato de que temos vivido aqui há séculos, por tudo o que nos deu no passado e por tudo o que ele ainda pode nos oferecer no futuro. Nós vivemos aqui antes, durante décadas, respeitados, felizes e em paz, e esperamos, depois desta guerra injusta e repgnante, que foi infligida sobre nós, não sei por quais motivos, encontrar aqui um novo renascimento econômico e uma sociedade civil ainda mais aberta à liberdade individual e à diversidade dos seus vários elementos sociais. Nossa resistência é parte da nossa luta em prol de um futuro melhor, de um amanhã onde cada homem será plenamente respeitado em seu direito de escolher sua própria fé e de vivê-la sem impedimentos, seguindo a religião a que, em consciência, ele se sente inclinado a aderir.

Nós, os cristãos da Síria, temos hoje mais necessidade do que nunca dos nossos irmãos do Ocidente. Temos necessidade de suas orações e de seu apoio. Precisamos de sua constante e decisiva defesa junto aos seus representantes políticos e aos seus governos. É o momento para que estes considerem os nossos sofrimentos terríveis e mudem sua atitude em relação a nós. Esperamos que eles entendam, de uma vez por todas, que estamos determinados a permanecer em nosso próprio país. Esta é uma necessidade vital para nós e representa um direito humano óbvio e inalienável; isso significa tanto para nós como nossa própria vida.

Aleppo, 16 de fevereiro de 2016
Metropolita D. Jean-Clément Jeanbart

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