A Páscoa é a festa do amor que supera o ódio e a morte. Mas é difícil amar o inimigo. Comumente se acredita que oferecer amor à pessoa responsável pela eliminação de seus entes queridos ou pela destruição do seu lar é praticamente impossível. Entretanto, mais e mais pessoas estão superando a si mesmas nesse aspecto.

Ele quase foi linchado pela multidão furiosa. O missionário Pe. Aurélio Gazzera rezava o rosário enquanto pedras atingiam o seu carro e pessoas furiosas apontavam armas contra ele. O sacerdote católico atraiu para si o ódio de numerosos muçulmanos por ter apoiado a retirada dos insurgentes islâmicos radicais do movimento Seleka; alguns muçulmanos acham que isto os deixou completamente vulneráveis a ataques de vingança por parte do resto da população. Entretanto, enquanto ele estava sendo atacado pela multidão raivosa, dois muçulmanos se colocaram à sua frente e salvaram sua vida. Um deles era um insurgente notoriamente conhecido por ser um dos homens mais brutais. No passado, ele havia se queixado de que o Pe. Aurelio estava denunciando publicamente os crimes do Seleka. Ele até ameaçou de assassiná-lo pessoalmente. Mas agora ele estava salvando o missionário da morte.

O sacerdote carmelita italiano de 52 anos de idade, levou as palavras do Evangelho ao pé da letra: “Façam o bem àqueles que te odeiam”! Imediatamente depois deste incidente, começou a visitar várias vezes por dia acompanhado de um pequeno grupo de voluntários de sua paróquia os muçulmanos que se entrincheiraram em lugares protegidos para se salvar dos atos de vingança. O padre trazia para eles água potável, arroz e remédios que ele comprava com dinheiro de seu próprio bolso. O missionário explicou que seu principal objetivo era levar para eles algum conforto básico. E acrescentou: “Estas eram as mesmas pessoas que haviam me ameaçado e quebrado os vidros do meu carro atirando pedras contra mim. Agora eles não eram nada mais que crianças, mulheres e homens que estavam em necessidade”.

Conforme o tempo passava, o Pe. Aurelio eventualmente conseguiu também comover os corações dos seus paroquianos. Depois que a maior parte dos muçulmanos foram evacuados por comboios em fevereiro de 2014, sobraram apenas cerca de 200 deles na cidade de Bozoum. A maior parte eram mulheres e crianças. Eles ainda precisam de ajuda atualmente. No início, o padre era muito cauteloso ao pedir para as pessoas trazerem dinheiro e provisões para a igreja a fim de ajudar os muçulmanos. Ele explicou: “No início eu não insisti muito nos pedidos, pois sabia que as feridas ainda estavam abertas. Muitos haviam perdido membros de suas famílias, outros tinham parentes que haviam sido torturados, muitos haviam sido roubados e todos eles tiveram que ficar afastados de suas casas durante semanas, tudo por causa do Seleka e de um certo número de muçulmanos da cidade”.

No final, o Pe. Aurelio ficou muito espantado com a generosidade dos católicos. “Normalmente, os paroquianos contribuem com algumas doações e um pouco de dinheiro, cerca de 15 ou 20 euros, nas coletas que fazemos uma vez por mês. Naquele domingo eu fiquei profundamente tocado pelos meus cristãos. Eles trouxeram uma grande quantidade de comida e foram coletados mais de 70 euros”! Essa é uma soma muito grande neste país extremamente pobre. Ainda muito emocionado, ele acrescentou: “Os paroquianos decidiram fazer mais o bem para o inimigo de ontem, do que fazem normalmente para os seus irmãos e irmãs pobres da paróquia”.

Um modelo importante para o Pe. Aurelio foi o Pe. Werenfried van Straaten, fundador da Ajuda à Igreja que Sofre, figura legendária, que ficou conhecido como o “Padre Toucinho”.  O Pe. Aurelio havia lido o livro “Onde Deus Chora”,  do Pe. Werenfried, quando ainda estava na escola. Depois disso, ele teve a oportunidade de visitar o túmulo do fundador da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) em Konigstein, na Alemanha. Agora, depois de muitos anos, ele releu o livro do Pe. Werenfried e comentou: “Eu descobri muitas coisas interessantes no livro que se aplicam à nossa situação aqui! Depois da Segunda Guerra Mundial, o Pe. Werenfried começou um esforço caritativo extraordinário: ele pediu aos belgas que ajudassem os alemães! Depois da guerra, a Alemanha estava destruída em todos os aspectos. E o ressentimento contra os alemães era muito forte. Apesar disto, o Pe. Werenfried teve a coragem e a ousadia de pedir a estas pessoas que haviam perdido ‘quase tudo‘ por causa dos alemães, que ajudassem os refugiados germânicos que haviam perdido ‘absolutamente tudo‘”! Agora, a história se repete na longínqua República Centro-Africana.

Hoje, após os tempos negros da guerra, o Pe. Aurelio frequentemente pondera sobre a pergunta: “Como sacerdote e missionário, o que eu posso fazer nesta situação? O que a Igreja pode fazer”? E ele chegou à seguinte conclusão: “Há tanta coisa que nós podemos fazer, há muita coisa mesmo! Agora é mais necessário do que nunca reconstruir os corações e a consciência do povo”. Ele, então, explicou sobre as muitas coisas que podem ser feitas: casas foram destruídas, centenas de milhares de pessoas tiveram de fugir, a miséria é inacreditável. Porém, o trabalho mais importante é confortar, inspirar coragem e promover uma conscientização sobre os erros cometidos, o mal e o pecado”. E ele acrescentou: “Esse tipo de crise nos faz um apelo que nos afeta profundamente e que nos encoraja a seguir mais de perto o exemplo dado por Jesus, pelo seu Evangelho e por sua vida.  É Ele que dá força e coragem. Ele abre os caminhos da luz e da esperança. O Pe. Werenfried costumava dizer: As pessoas são melhores do que nós pensamos. Mas, não só as pessoas são melhores, Deus também é melhor do que nós pensamos…”

Na República Centro Africana, a Ajuda à Igreja que Sofre apoia a formação de futuros sacerdotes e religiosos, que serão os pacificadores do futuro. Além disso, a organização de caridade está ajudando a reconstruir e a apoiar a Igreja neste país, que é um dos mais pobres do mundo.

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