O ano de 2016 foi um ano difícil para os cristãos paquistaneses, no qual eles sofreram um dos piores ataques jihadistas no último domingo de Páscoa. Um homem-bomba, terrorista islâmico, atacou o no centro Gulsan Iqbal Park em Lahore, deixaido 78 mortos e mais de 300 feridos. Ao mesmo tempo, tem sido um ano de esperança. O Ano da Misericórdia proclamado pelo Papa Francisco foi vivido com grande intensidade pelos católicos do Paquistão.

Dom Sebastian Francis, arcebispo de Lahore, a maior diocese do Paquistão, franciscano e membro da Ordem dos Frades Menores, que lidera a diocese de mais de 450 mil fiéis católicos na capital na região Punjab do Paquistão, falou a Josué Villarón da ACN (Ajuda à Igreja que Sofre).

ACN: Como está a situação atual de Lahore?

Dom Sebastian Shaw: Aparenta estar um pouco melhor. A segurança tem melhorado nos arredores das nossas celebrações religiosas. As pessoas estão alegres e motivadas. Elas se prepararam espiritualmente para a festa do Natal, e estão muito felizes por poderem celebrar estas festas. Mas ao mesmo tempo, as pessoas estão um pouco temerosas porque, como ocorreu na última Páscoa, sabemos muito bem que poderíamos ser atacados durante o tempo do Natal.

Apesar do medo de possíveis ataques, como as pessoas celebraram o Natal no Paquistão?

A verdade é que as pessoas amam celebrar o Natal. Elas decoram suas casas com estrelas, e no dia 16 de dezembro iniciam a novena do Natal. E, claro, eles também vão às compras, como todos nesse mundo.

Qual é o significado que os cristãos paquistaneses colocam nas estrelas em razão do Natal?

No Paquistão, os cristãos colocam estrelas nas suas casas, nas ruas, nas igrejas e nas escolas para mostrar que Jesus Cristo é a Luz que veio ao mundo, e expressar sua esperança que por essa luz a escuridão desaparecerá. A escuridão que é a guerra, que é a descriminação. Nós precisamos da Luz de Cristo para iluminar nossos caminhos e assim a escuridão pode ser derrotada. Assim, nós usamos as estrelas como um símbolo da nossa fé em Cristo.

Qual é a importância dos cristãos paquistaneses para a Igreja e para o resto do mundo?

O Paquistão é um país esmagadoramente islâmico com uma população de cerca de 190 milhões, da qual os cristãos são apenas 2%. Somos uma minoria muito pequena, e ainda assim somos uma igreja muito viva. A grande maioria dos cristãos é demasiadamente pobre, mas somos riquíssimos pela nossa fé. Eles tÊm intenso interesse na Palavra de Deus e há bastante leigos comprometidos envolvidos no trabalho de catequese. Eles estão ajudando os jovens e os casais casados a viverem sua fé com fervor. Esse ano da Misericórdia foi um tempo especial, por exemplo. Os cristãos do Paquistão são campeões de misericórdia. Eu me recordo de um dia que, depois de celebrar a Santa Missa, fui até um casal para dar-lhe minha benção. Eles disseram que a minha homilia sobre misericórdia e perdão os ajudou grandemente, porque eles tinham perdido um filho no ataque ao Gulsan Iqbal Park no domingo de páscoa e eles tinham perdoado o homem bomba que cometeu o ataque.

Qual a sua avaliação para o ano de 2016 que acaba de terminar?

Nós vivemos momentos muito difíceis, como o ataque terrorista no Gulsan Iqbal Park, mas as pessoas estão se levantando. O Ano da Misericórdia foi uma grande bênção para toda a Igreja e especialmente para a igreja no Paquistão. Nós celebramos muitos encontros de diálogo entre as religiões. Nós agradecemos ao Papa por esse ano jubilar, e pelas orações e ajuda de tantas pessoas que nos lembraram que nós do Paquistão não estamos sozinhos.

Como é a relação com outros grupos religiosos?

Esse é o momento para promover o crescimento do diálogo inter-religioso, em especial com o Islã, que está crescendo grandemente, inclusive na Europa. Tenho muito orgulho da boa relação que temos com as os líderes de outras religiões. Nós celebramos as festas um do outro; eles celebram o Natal conosco e nós também celebramos o fim do Ramadan com eles. Mas, para que haja um diálogo genuíno, é importante que nossos jovens estejam bem instruídos da Palavra de Deus. Também é relevante ter unidade entre os cristãos. É importante ensinar a Bíblia para os jovens, não para que a decorem, mas para colocá-la em prática através do amor à vizinhança.

Quais são as principais necessidades da Igreja no Paquistão?

Educação é muito importante para nós. Nós queremos especialmente tornar possível que os jovens cristãos frequentem a universidade. Mesmo que isso seja muito difícil, porque requer muito dinheiro e as famílias cristãs são muito pobres. Nós também precisamos reconstruir as igrejas e casas de missão. Nós precisamos reformar o seminário. Temos muitas vocações; precisamos, assim, estendê-lo. Atualmente, nós temos 34 jovens no seminário menor, 12 estudando filosofia e 10, teologia.

O que a ajuda da ACN significa para a Igreja no Paquistão?

Nós somos extremamente felizes e agradecidos pela ACN. Vocês têm nos ajudado a levantar a Igreja, não só a construção física, mas o corpo da Igreja, trazendo-nos esperança e fé; especialmente com o treinamento para catequistas ou com material de catequese, como as Bíblias na língua Urdu. Peço a Cristo, aquele que veio ao mundo, para que abençoe todas essas famílias. Rezo por elas e lhes desejo prosperidade e paz.

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Um comentário

  1. Semíramis Soares Barreto 15 de janeiro de 2017 at 15:38 - Responder

    Para receber o informativo tem que ser doador? Eu faço doação por transferência bancária quando posso.

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