Esta é uma Páscoa significativa! Nela nós meditamos sobre as grandes virtudes da misericórdia e da reconciliação.

O Santo Padre em breve vai declarar o Ano da Misericórdia. A Páscoa é a grande esperança. O Evangelho narra os acontecimentos de forma dramática – o túmulo vazio e dois anjos. O mal fez todo o possível para manter Jesus dentro do túmulo. Mas Cristo quebrou as fortificações do mal. Em vez da maldade, o que havia lá eram dois anjos dando a mensagem – Cristo ressuscitou!

Este é o cerne da reflexão de Páscoa para nós no Mianmar e no mundo. O mal não foi embora, meus irmãos e irmãs. Ele continua a perseguir seu objetivo de prender o bem num túmulo.  Pensem no mal que ocorre no Oriente Médio, que mata, fere e crucifica inocentes em nome de uma religião. Pensem no mal que pesa sobre os pobres do mundo. Cerca de 30.000 crianças morrendo de fome e desnutrição por dia. Cerca de dez milhões de crianças foram mortas neste mundo, onde a cada dia o mundo joga fora milhões de toneladas de alimentos por desperdício. O dom da vida foi jogado no túmulo da ganância.

Porém, hoje, em Mianmar há esperança. Vocês ouviram que nesta Semana Santa houve bênçãos. As guerras ferozes que eram travadas em nossas fronteiras cessaram. Os fuzis silenciaram. Esta é uma Páscoa significativa para todos nós. O cessar-fogo foi assinado entre o governo e os grupos de resistência. A mensagem da Páscoa de esperança, após as trevas, foi vivida por nós nesta semana.

A Igreja aceita muito bem que se contextualize a Páscoa. A vida que foi enterrada em túmulos para milhares de pessoas nas zonas de conflito, os impiedosos campos de prisioneiros estão sendo libertados – o anjo da reconciliação e da misericórdia estão nos dizendo “Cristo ressuscitou”. Recebam com alegria os mensageiros da paz neste país.

Mas o mal não desiste facilmente. O acordo de cessar-fogo tem de dar lugar  a uma paz baseada na justiça. A experiência passada que tivemos com cessar-fogo foi muito penosa. Os interlúdios de cessar-fogo tem sido usados por todas as forças armadas – do estado, ou não estatais – para saquear os recursos do povo. A madeira teak, o jade e outros tesouros do povo são saqueados abertamente. Não enterrem nosso povo novamente na pobreza. Não entreguem seus recursos aos saqueadores e seus comparsas. O povo do Mianmar quer justiça e jogo limpo. Protejam o rio Irrawaddy, mãe de todo o povo, da busca desenfreada por ouro. Essa nação foi enterrada no túmulo da opressão e da exploração por seis décadas. Nós pedimos uma nova ressurreição na paz e na prosperidade para todo o povo. Que os anjos da misericórdia e da reconciliação proclamem com certeza que “um novo Mianmar renasceu dos mortos, que haja luz para todos”. Esvaziem todos os túmulos, que os anjos da misericórdia e da reconciliação anunciem uma nova vida para todos!

É dia de Páscoa!

Um novo dia de esperança surge no horizonte. Hoje é Páscoa. Meus votos para todos os homens e mulheres da terra. A ressurreição é uma renovação da vida e da esperança. Rejubilemo-nos no Senhor, rejubilemo-nos com o mundo, rejubilemo-nos uns com os outros.

Neste ano, somos chamados pelo Santo Padre para contemplar o mistério da Misericórdia e da Reconciliação.

No topo do Calvário, duas virtudes do cristianismo foram coroadas: a misericórdia e a reconciliação. Tal como dois olhos que focalizam a mesma visão de Cristo dão testemunho, através de seu supremo sacrifício, da mensagem cristã do amor. A misericórdia e a reconciliação de Deus com o mundo foi obtida na cruz. A Páscoa é o cumprimento do grande amor de Deus. Deus amou tanto o mundo que Ele deu seu único Filho, não para nos condenar, mas para nos redimir (Jo 3,16).  Alegremo-nos!

Por suas palavras e ações, o Papa Francisco tem enviado uma forte mensagem de misericórdia e reconciliação. Quem poderia esquecer dele lavando os pés de prisioneiros, dele abraçando homens com os rostos desfigurados, ou a tocante foto de seu abraço apaixonado a uma criança espasmódica, ou de sua preocupação para com as pessoas sem-teto? Ele se tornou um ícone de misericórdia e reconciliação trazendo harmonia entre Cuba e os Estados Unidos.

A cruz significa misericórdia. Cristo foi a encarnação da misericórdia de Deus. O sofrimento terrível de Jesus reconciliou o mundo com o Pai (2Cor 5,18).

Neste ano nós meditamos este mistério de misericórdia e reconciliação no contexto de Mianmar e do mundo de hoje.

Cristo continua a ser crucificado no sofrimento de nossos irmãos e irmãs. No Oriente Médio, nossos cristãos estão sendo crucificados de verdade, seus filhos e filhas são raptados como escravos: trata-se de uma via sacra cruel para nossos irmãos e irmãs.

Na mensagem da Quaresma, o Santo Padre exortou a Igreja a identificar quem são os Lázaros que vivem entre nós (Lc 16). Eles precisam de nossa misericórdia.

Quem são os Lázaros que vivem entre nós e que precisam de nossa misericórdia?
Mianmar tem muitos Lázaros.

Milhares de pessoas perderam suas terras para os ladrões de terras e seus comparsas. Já os nossos colonizadores fizeram leis injustas para tirar a terra dos nativos. Quando eles foram embora, deixaram estas leis injustas,  que estão em vigor até hoje. Cerca de 83% de nosso povo vive em regiões rurais, mas eles estão se transformando em Lázaros. Suas terras estão sendo tomadas por empresas, sobretudo nas regiões étnicas.  Nosso povo sem terra, tal como Lázaro, tem de pegar as migalhas que caem da mesa dos comparsas ultra-ricos. Nós pedimos misericórdia e justiça. Junto com o profeta Amós, levantamos nossa voz pedindo misericórdia e justiça, “que a justiça escorra como um rio” (Amós 5,24). Nós pedimos misericórdia para as centenas de famílias despejadas pelas minas e plantações. Que o povo sem terra de Mianmar não seja crucificado na cruz da injustiça.

Nosso país precisa de reconciliação entre as comunidades. Uma guerra existe no norte, nas regiões de Kachin e de Shan. Na região de Rakhine há conflito entre comunidades. A misericórdia está em falta. Há alguns meses, duas moças  inocentes, professoras voluntárias foram mutiladas por homens que nunca conheceram a misericórdia. O sangue dos inocentes clama por reconciliação.  Por quanto tempo ainda as comunidades étnicas vão ter de continuar a pedir justiça e reconciliação? Abençoados sejam os que trazem a paz. Que a paz esteja nessa casa (Luc 10,5). As comunidades étnicas são crucificadas neste país. Elas são o povo da Sexta-feira Santa. Que este governo siga os grandes bramavihars do budismo: a misericórdia METTA e a compaixão KARUNA. Não pode haver paz nas regiões onde não haja justiça. O Papa Paulo VI bradou “NÃO PODE HAVER PAZ SEM JUSTIÇA”. A Igreja em Mianmar trabalha para a reconciliação baseada na dignidade humana.

Nossos pensamentos se voltam para os 300.000 refugiados internos de nosso país: só no estado de Kachin há cerca de 120.000 e outros 120.000 em Rakhine. Estas pessoas são os Lázaros de Mianmar. Elas estão esperando pelas migalhas que caem das mesas dos doadores internacionais. Elas estão crucificadas numa cruz de desesperança. A via sacra deles já dura mais de três anos. Eles vivem uma quaresma sem fim. Estes desastres ocasionados pelo homem fazem com que a Páscoa seja um sonho parcial para todos nós. Eles são um povo em êxodo. Cinquenta anos de guerra. Esta é uma cruz que faz sangrar. O povo étnico deste país estão em êxodo. Deus deu a eles uma terra por onde escorre leite e mel (Lev 20,24), ouro e jade. Eles precisam voltar para sua terra prometida com liberdade e dignidade. Uma raça orgulhosa não pode ser reduzida a viver de migalhas internacionais.

A Páscoa traz uma mensagem simples para os governantes deste país. CRISTO RESSUSCITOU (Gal 1,1), ACREDITEM NA IRMANDADE ENTRE OS HOMENS. A paz é a Páscoa dos refugiados.

A reconciliação entre os vários grupos étnicos e o exército é possível e é o que busca a Igreja no Mianmar que vive entre estas vítimas. A mensagem da ressurreição de Cristo foi transmitida por um túmulo vazio. Os governantes de Mianmar precisam se lembrar que o grande povo deste país está aprisionado em túmulos móveis. Durante cinquenta anos a esperança esteve em falta. A opressão e a privação fizeram com que gerações inteiras ficassem aprisionadas em seus corpos. Eles eram como corpos mortos. Que nós tenhamos uma ressurreição depois das épocas negras de opressão e medo.

Recentemente os esforços dos estudantes para sair de seus túmulos, encontrou a violência como resposta. Eles desejam lutar para termos uma nova nação que ofereça esperança e oportunidade.  Nosso sistema educacional durante o período mais negro e grave, enterrou duas gerações de jovens. Uma nova geração luta para sair destes túmulos escuros. Não os enviem de volta aos túmulos. Trabalhem com a misericórdia e não com o medo. A Igreja se coloca firmemente do lado de nosso povo em seu caminho para se libertar de seus túmulos forçados.  A misericórdia e a justiça são os dois anjos no túmulo vazio (Jo 20,12), escutem o que a sua voz nos diz: Cristo ressuscitou! Que haja liberdade para todos e para cada um (Lc 2,4). 

Nós cristãos temos de ajudar nossos jovens enterrados nos túmulos cruéis do vício das drogas e do tráfico de seres humanos. Os demônios que mantém estes tráficos tem de ser extirpados. Os jovens terão de se levantar e fazer com que os seus túmulos fiquem vazios. Que se esvaziem todos os túmulos de nosso país. E que venham anjos de reconciliação e misericórdia para nosso país. Que se levantem todos os que foram enterrados vivos na pobreza, na opressão, no ódio, na espiral de violência, nas drogas, nas guerras! Que se levantem! Pois Cristo é a nossa ressurreição e esperança.

Os cristãos são o povo da Páscoa. Nós nos recusamos a nos submeter aos poderes das trevas. Nós ensinamos duas ou três lições ao demônio.  Aqueles que achavam que a Igreja no Mianmar havia sido enterrada em 1960, foram brutalmente despertados por ocasião das festas do jubileu dos 500 anos da Igreja em nosso país. A nossa Igreja é uma ressuscitada. Nós fomos enterrados, mas nós nos levantamos por causa da fé. E fizemos o papel dos anjos da misericórdia que  atenderam a milhares de pobres, dando-lhes educação, saúde e desenvolvimento humano. Nós víamos Deus em nossas irmãs e irmãos sofredores.

Mas nossa missão não está terminada. Esta é uma nação que está ferida, que sangra. Temos de desenvolver um trabalho proativo pela paz. Injustiça em alguns lugares, significa injustiça em todo lugar, dizia o Dr. Martin Luther King, pois nossos conflitos tem como causa a injustiça.  Aonde quer que estejamos, temos de adorar nosso Deus no espírito e na verdade (Jo 4,23). Devemos lutar pela verdade. O Cristo da Páscoa foi fiel ao nosso trabalho de salvação. Não temos medo de ninguém.  Nós amamos a todos.  Assim, continuaremos a trabalhar pela paz e pela justiça neste país, trazendo misericórdia e promovendo a reconciliação entre as comunidades. Nós somos o povo da Páscoa e temos confiança de ter a Jesus Cristo como parceiro na longa marcha que empreendemos pela misericórdia e a reconciliação.

Mesmo que as montanhas fossem removidas e as colinas se deslocassem, meu amor por vocês não acabaria: nem a minha aliança de paz vacilará, diz o Senhor, que se compadece de você. (Is 54,10).

FELIZ PÁSCOA A TODOS MEUS IRMÃOS E IRMÃS!

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