Entrevista com o Pe. Martín Barta, Assistente Eclesiástico internacional da Ajuda à Igreja que Sofre.

Por convite dos bispos católicos do Cazaquistão, o Pe. Martín Barta, Assistente Eclesiástico da Ajuda à Igreja que Sofre, e Peter Humeniuk, responsável da entidade para projetos no Cazaquistão, visitaram este país da Ásia Central em abril deste ano.

O Cazaquistão é o nono país mais extenso do mundo, embora nele vivam apenas 16 milhões de pessoas. Apenas 10% da população é cristã, e se calcula que exista em torno de 200.000 católicos nascidos no país. Em uma nação na qual cada paróquia abrange vários milhares de quilômetros quadrados, é difícil obter números exatos.

Na sua entrevista, o Pe. Barta fala sobre a situação da Igreja Católica no Cazaquistão, e os desafios enfrentados pelos sacerdotes, seus testemunhos, esperanças e preocupações, e sobre a responsabilidade dos católicos de outros lugares do mundo para com a Igreja da Ásia Central.

1.    Pe. Barta, o que motivou sua viagem?

Padre Barta: “Os bispos do Cazaquistão fizeram um convite para um encontro de sacerdotes em Astana, a capital do país. No Cazaquistão há 100 sacerdotes e 150 religiosas. Ambos se reúnem uma vez por ano. Para nós, o encontro dos sacerdotes foi uma boa ocasião para averiguar mais a respeito da situação dos católicos nas quatro dioceses do país e sobre as esperanças, preocupações e necessidades dos cristãos nesta região da Ásia Central. Antes do encontro visitamos também a Diocese do Almaty, no sul do país”.

2.    Você mesmo viveu no Cazaquistão…

Padre Barta: “Sim, de 2007 a 2009 trabalhei em uma paróquia do leste do país, em Ust-Kamenogorsk, a capital da região, que conta com pouco mais de 300.000 habitantes. Na atualidade, esta cidade se chama Öskemen. Grande parte da população fala russo, mas o Governo fomenta o cazaque com a intenção de fortalecer a nação. Por esta razão também tenta-se promover o retorno de cazaques que vivem nos países vizinhos”.

3.    Que impressões traz de sua última viagem?

Padre Barta: “O Cazaquistão é muito variado, pois ali convivem pacificamente cinquenta povos e etnias diferentes, todos eles muito hospitaleiros. Também os católicos são um bom exemplo de variedade e unidade, talvez, pela história que compartilham: em tempos soviéticos, o Cazaquistão foi um enorme campo de trabalho, e centenas de milhares de prisioneiros foram transladados às vastas estepes da região”.

4.    Que papel desempenha hoje a religião no Cazaquistão?

Padre Barta: “Tradicionalmente, o Cazaquistão está marcado pelo Islã, mas hoje a religião se entende melhor como uma forma de tradição familiar praticada em festas destacadas. Por esta razão, para os cazaques é difícil converter-se a outra religião, pois isso implicaria romper com a tradição familiar. Por outro lado, os muçulmanos não marcam distâncias com os demais”.

5.    O que significa isto para a Igreja Católica?

Padre Barta: “Os Cazaques mantêm uma atitude aberta, também em relação ao testemunho dos cristãos, e isto representa uma grande oportunidade para a Igreja. Aqui é enormemente importante a fidelidade dos sacerdotes, religiosas e fiéis, sua perseverança e vontade de dar testemunho da Fé inclusive em situações difíceis. Não se trata de obter êxito, mas de dar exemplo. No Cazaquistão, as paróquias são gigantescas: algumas têm uma extensão de vários milhares de quilômetros quadrados. Nos últimos anos, os cristãos como, por exemplo, os de origem alemã, abandonaram o país, e em alguns lugares restam muito poucos católicos, por isso poderia supor-se que a Igreja não tem futuro no Cazaquistão. Não obstante, Deus tem planos para este país. Trata-se de um apostolado ad gentes, e também de um testemunho frente aos muçulmanos, que são ali mais abertos que na região árabe”.

6.    Quais são as necessidades mais urgentes da Igreja Católica Cazaque?

Padre Barta: “Devemos apoiar os sacerdotes e religiosas, que se dedicam em corpo e alma às suas paróquias e comunidades, e que necessitam uma base para sobreviver, pois carecem de ganhos fixos. Mas o material não é o mais importante: quem realmente está profundamente unido a Deus subsistirá no Cazaquistão. Ali é importante a construção de capelas, igrejas e centros pastorais para que a Igreja estivesse presente no espaço público. Além disso, estes lugares visíveis onde os fiéis se reúnem reforçam a identidade. No passado e durante décadas, a pastoral só era possível em casas particulares. Hoje tudo é diferente: a Igreja Católica está reconhecida oficialmente porque os católicos pertencem a uma comunidade mundial de 1,2 bilhões de fieis, algo do qual os Cazaques tomaram consciência com a visita do Papa João Paulo II em setembro de 2001”.

7.    O que lhe contaram os sacerdotes e quais são suas preocupações?

Padre Barta: “No Cazaquistão trabalham sacerdotes e religiosas de diferentes nacionalidades e congregações, mas esta variedade não impede a unidade eclesiástica, o que é alentador. Tampouco os primeiros sacerdotes nativos – que já são oito – acreditam ser melhores do que os outros. Todos trabalham em um país que, não só desde o ponto de vista geográfico, representa vastidão e solidão. Os oitenta anos na União Soviética marcaram profundamente os Cazaques, para os quais, ainda hoje, é difícil fazer-se responsáveis por seu próprio país. Isto também afeta a Fé: depois do primeiro entusiasmo, muitos deixaram de ir às igrejas, e muitos católicos não conhecem bem sua fé. Por esta razão, é muito importante a transmissão da Fé na pastoral”.

8.    O que a Ajuda à Igreja Que Sofre pode fazer?

Padre Barta: “Precisamos fortalecer a pastoral, apoiar os sacerdotes e religiosas e oferecer-lhes compreensão, pois primeiro devemos reconstruir interiormente o Reino de Deus com sua fidelidade e fé vivas. Depois precisamos ajudar as comunidades a erigir umas estruturas simples – pequenas capelas, espaços para a pastoral juvenil e lugares de encontro – para que a Igreja possa ser visível para muitos”.

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