Olá, meu nome é Hanna. Em 2011 eu tinha 42 anos, meu marido 55, e nossos três filhos Nidal, Majeed e Pierre, 24, 22, e 15, respectivamente. Nós vivíamos em Koussayer (Síria) num apartamento de um prédio de 5 andares, propriedade da família do meu marido. Cada um dos seus 4 irmãos viviam nos outros andares do prédio com sua família, e todos tinham filhos.

Assim foi como as coisas aconteceram:

Até 2011 não havia nenhuma presença do DAESH ou Al Nusra. Vivíamos em completa harmonia com nossos vizinhos, muçulmanos sunitas. Nós visitávamos suas casas e eles vinham à nossa. Celebrávamos as mesmas festas.

No dia 1º de outubro de 2011, e em toda sexta-feira a partir de então, as orações e sermões dos imãs eram transmitidas em alto-falantes para fora da mesquita. Eles deram ordens para saírem em busca dos cristãos e convencê-los a participar de eventos muçulmanos que aconteciam às 16h logo após às orações de sexta-feira. Os cristãos entenderam a ameaça. Quem não aderiu passou a se esconder, sobretudo os homens. Meu marido e filho estavam entre os 15 homens que moravam no prédio e passaram a se esconder no porão de um vizinho.

No dia 15 de outubro de 2011, homens mascarados e armados com pistolas forçaram a entrada no segundo andar do prédio. Suspensos por cordas, eles obviamente conheciam a casa em que estavam entrando. “Queremos os homens da casa”, eles disseram. Mas não acharam nenhum. Eu reconheci meus próprios vizinhos sunitas pelas vozes. Ainda me pergunto como isso é possível!

No dia 15 de dezembro de 2011, todos os cristãos foram proibidos de sair de suas casas depois das 17h. E então, decidimos deixar nossa casa no início de janeiro de 2012. Deixamos a cidade a pé com nossos 3 filhos, andamos por meia hora e depois pegamos um taxi até Rablé, que faz fronteira com o Líbano. Cruzamos a fronteira sem complicações, e um segundo taxi nos levou a Zahle, num endereço específico onde pudemos alugar um cômodo de alguns libaneses que conhecíamos. Não levamos nada além das roupas que estavamos vestindo e nossas poucas joias de ouro, com as quais conseguimos chegar até Zahle, vendendo uma a uma.

Pouco tempo depois, dois dos meus cunhados, Nidal e Taraf, foram nos encontrar junto com suas famílias. Vivíamos todos no mesmo cômodo – eram 16 pessoas – por 3 meses. Durante esse período comíamos apenas pão e cebola.

Estamos agora vivendo num lugar com 2 quartos; uma propriedade que alugamos da arquidiocese. Meu marido conseguiu retomar seu trabalho de pintor, junto a um de nossos filhos, Majjed. Nidal conseguiu trabalho como motorista, casou com uma jovem libanesa em setembro de 2014 e se adaptou sem grandes problemas. Pierre, de aprendiz, tornou-se cabelereiro. Já eu, depois de dois anos sem emprego, comecei a trabalhar como babá de 2012 a 2014 para uma família estrangeira. Hoje, colaboro com o serviço social da arquidiocese. Os irmãos do meu marido encontraram alojamentos, aonde foram com seus filhos. Teraf se tornou pintor. Nidal morreu por doença, e sua jovem esposa voltou com os 4 filhos para sua família na Síria.

Nós escolhemos vir para Zahle porque somos cristãos católicos greco-melquitas. Meu marido trabalhou em Zahle como pintor no ramo de construção civil, de 1995 a 2005. Ele conhecia muitas pessoas dos prédios e também trabalhou para a arquidiocese. Agora pensamos em permanecer no Líbano. Como poderiámoos voltar agora? Parece impossível, já que nosso apartamento lá foi totalmente destruído! Eu quero manter nosso tradicional modo de vida no Líbano e não precisar ir para o ocidente.

Foi em 2012 que a arquidiocese católica greco-melquita começou a ajudar os refugiados, distribuindo necessidades básicas, em especial, alimentos. A arquidiocese tem ajudado também de outras maneiras: auxílio para aluguel, combustível, produtos básicos de higiene, suporte médico, educação, além de uma ativa vida pastoral – movimentos jovens, escoteiros, acampamentos de verão para jovens, organizados com a ajuda dos voluntários sírios e libaneses. Sou bem ativa nesses trabalhos. Desde junho de 2015, a arquidiocese tem provido um serviço de refeições quentes “A Mesa da Misericórdia”, cujo organizador é um diácono bem carismático. Está localizado no centro da cidade e fornece 650 refeições, 5 dias por semana, para aqueles mais precisam. Esse local se tornou um ponto de encontro entre libaneses, sírios e iraquianos. Assim como para a minha família, a ajuda provida pela arquidiocese é essencial para a sobrevivência dos refugiados. Obrigada Senhor, não estejamos ricos, mas estamos felizes!

Zahle esteve e está entre os projetos prioritários de emergência da Ajuda à Igreja que Sofre (ANC). O arcebispo Issam Darwish diz: “A Ajuda à Igreja que Sofre foi a primeira a nos oferecer auxílio. Sem ela, estamos a sós, com a miséria.”

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