Dia 8 de novembro de 2013. Faltam vinte minutos para as cinco da manhã quando o tufão Haiyan começa a açoitar severamente a região de Guiuan, no sudoeste do país, nas ilhas Samar. Não há registro de algo assim. Mesmo nas Filipinas, país sacrificado pelas inclemências da natureza, ninguém tinha visto uma ventania tão forte. O super-tufão destrói tudo por onde passa. São ventos de mais de 340 quilômetros por hora. Nada resiste à sua passagem. Nada.

O tufão reduziu vilas e aldeias a pó. Calcula-se que mais de 16 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelo tufão Haiyan. Não há ninguém, nas regiões atingidas pelo tufão, que não esteja de luto por algúem e os que sobreviveram reaprenderam o valor da vida.

Junto à Igreja de San Joaquín, existe agora um imenso e improvisado cemitério. Cruzes de madeira assinalam os lugares onde centenas de pessoas foram enterradas, numa urgência contra o tempo por causa das epidemias. Quatro meses depois, quase tudo ainda precisa ser reconstruído.

O Bispo de Palo, Dom John Forrosuelo Du, comparou a passagem do Haiyan à “explosão de uma bomba atômica”. Num encontro com crianças, numa paróquia, acompanhado pela Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), o Bispo perguntou àqueles meninos o que o tufão lhes tinha levado. Alguns falaram em celulares, outros em brinquedos, casas… Uma menina aproximou-se dele e pediu-lhe a mãe de volta. Esta criança nunca mais irá se esquecer do dia 8 de novembro. O tufão entrou terra adentro por três vezes, sempre mais furioso, sempre arrastando ventos mais fortes, ondas mais violentas e mais altas. Foi numa dessas ondas que esta menina viu a sua mãe desaparecer. O que se pode dizer a esta criança?

Ao saber das primeiras notícias da tragédia, a comunidade internacional reagiu de imediato. Organizações não governamentais visitaram logo a região, tal como as Nações Unidas e muitos países da região. O mundo se comoveu com este desastre. Agora, porém, já é diferente. Habituados a sobreviver com pouco, os filipinos não estranham, hoje, que muitas dessas organizações já tenham partido, apesar de quase tudo ainda estar destruído. A Igreja tem sido o porto de abrigo neste tempo de desastre. Falar em desastre é pouco para quem perdeu tudo.

A AIS ajuda a Igreja nas Filipinas já há muito tempo. Desde a construção de simples poços para que um seminário possa ter água potável, como aconteceu em Barrio Tabe, na província de Malolos, à construção de escolas, igrejas, centros catequéticos, formação de seminaristas, distribuição de literatura religiosa… Desde 1984 é assim. Mas, agora, a urgência é total. Ciclicamente a inclemência do tempo destrói tudo, menos a paciência dos filipinos. Na paróquia do Santo Rosário, a diocese construiu 127 casas para outras tantas famílias que perderam tudo com as inundações há 3 anos. Agora, depois do tufão, o Bispo celebra a missa debaixo de uma mangueira. Falta tudo menos os sorrisos e a palavra “obrigado”, inúmeras vezes.

Parece estranho, mas tem sido assim nas Filipinas. Após o tremendo terremoto e do devastador tufão, os filipinos continuam sorrindo e agradecendo a Deus. A razão é simples: depois destas provações, a vida ganhou novo significado. Cada dia que nasce é uma bênção. Perderam quase tudo nessas horas de angústia, mas ganharam a vida de novo. E isso não tem preço. Por isso, sorriem e oferecem-nos, nesses sorrisos, a esperança de um tempo novo.

Há milhares de pessoas que continuam a não ter casa onde se abrigarem, continuam sem meios de subsistência pois perderam as ferramentas agrícolas, perderam os barcos de pesca, perderam os animais que eram a sua fonte de rendimento, perderam as fábricas onde trabalhavam, perderam os tratores, os carros, as bicicletas. Perderam familiares e amigos, mas não perderam a fé nem a esperança. E continuam sorrindo e agradecendo a Deus o dom da vida.

E nós, que não conseguimos sequer imaginar uma tragédia assim, não vamos fazer nada? Será possível não ajudar?

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