“Atrás da imagem do paraíso turístico que o Egito possui, se esconde uma realidade de imensa miséria e discriminação”, me dizia uma missionária espanhola que trabalha lá. Poucas pessoas conseguem ver além do que os pacotes turísticos oferecem.

É surpreendente contemplar as misteriosas pirâmides e ver o luxo dos cruzeiros marítimos que cortam o rio Nilo, toda essa “maquiagem” turística dificulta haver uma ótica global.

Dos cerca de 80 milhões de habitantes do país, a Igreja Copta, considerada a herdeira direta dos antigos egípcios, se divide em copto-ortodoxa, que são aproximadamente uns 12% e a copto-católica, que são uns 2% da população. Outras minorias cristãs católicas como os caldeus, maronítas, greco-católicos somam apenas 1% da população.

Na constituição de 1971 é proclamada a liberdade religiosa dentro de um estado islâmico, onde a Charia (conjunto de leis islâmicas) é a principal fonte de julgamento. Na prática esta liberdade religiosa não funciona como deveria. Não há reconhecimento das conversões de muçulmanos ao cristianismo e a outras religiões. Podemos dizer que o cristão no Egito é um cidadão de segunda classe, sofrendo gravíssimas discriminações desde criança na escola, quando jovem na universidade e quando adulto, no difícil acesso a certos cargos profissionais. Não existe liberdade de imprensa. Para conseguir licenças de construir ou reparar edifícios católicos, os padres, freiras ou leigos podem se preparar para uma burocracia sem fim, onde no final é quase que certo não obter a tão esperada licença.

Todas estas discriminações sofridas pelos cristãos junto com o extremismo islâmico radical formam o terreno ideal para a produção de episódios de violência que, mesmo esporádicas, não deixam de ser constantes nos últimos anos. Dessa maneira, no ano de 2008 foi registrado, por famílias cristãs, um total de 35 ocorrências de sequestro ou desaparecimento de suas filhas, também houve vários assassinatos e assaltos a coptas tanto neste ano como em 2009. Como medidor desta estreita convivência, o relacionamento entre um jovem cristão e uma jovem muçulmana resultou em mais de cinquenta lojas da comunidade copta saqueadas nas cidades de Farshoot e Kon Ahmar.

Em meio a toda esta situação lamentamos o recente e terrível atentado da noite de 06 de janeiro, quando as comunidades coptas celebravam a Natividade do Senhor e foram atacadas por extremistas na saída da missa. Sete coptas morreram e 10 ficaram feridos. Este atentado veio precedido de ameaças e desejos de vingança pelo suposto estupro a uma jovem muçulmana por um cristão. Várias dúvidas se levantam neste caso, pois se fosse verdade, o caso seria julgado e seria dada a punição legal, mas não foi o que aconteceu.

Apesar do sangue inocente, eu ainda acredito na paz, porque acredito no amor de Deus e acredito também no desafio que a Igreja Católica tem pela frente no Egito, que em vez de ódio e desprezo responde com uma linguagem silenciosa, mas eficaz. Neste cenário completamente adverso seguimos mantendo e criando novas escolas administradas por freiras, que atendem também como clinicas medicas, centro de formação profissional, centro para deficientes físicos e mentais e uma infinidade de obras educativas e assistenciais, cujos principais beneficiados são os próprios muçulmanos.

Só peço a esse Deus de amor em que acredito, que quebre as barreiras da intolerância daqueles que exibem um modelo desvirtuado da fé. Que assim como no Egito e em tantos outros países, onde instituições como a Ajuda à Igreja que Sofre auxilia os cristãos perseguidos, possa chegar o dia em que se possa viver e conviver em paz, com respeito e liberdade.

Últimas notícias

Um comentário

  1. schayana de souza cardoso 27 de janeiro de 2010 at 13:41 - Responder

    olha eu acho muito bom pela carta que eu resebo

Deixe um comentário