Raed está na casa dos 40 anos, mas quando está contando sua história parece muito mais velho. Semanas de medo e incerteza deixaram marcas entre os católicos de Mossul. “Estamos fugindo do Estado Islâmico há um mês”, diz ele. “Eu deixei minha casa em Mossul em 18 de julho. Talvez para sempre. Quem pode saber?”.

Antes disso, os jihadistas tinham confrontado os cristãos de Mossul com um ultimato notório: converter-se ao islamismo, pagar o imposto exigido dos cristãos ou encarar a morte. Mas o ultimato do autoproclamado Califa Ibrahim permitiu que os cristãos deixassem o distrito com antecedência. O preço foi deixar para trás tudo o que tinham. “Minha casa foi marcada para mostrar que ali viviam cristãos e que agora é posse do Estado Islâmico. Por isso que, um dia antes de expirar o ultimato, fugimos. Quando chegamos aos locais de inspeção do Estado Islâmico levaram tudo – laptop, câmera e todo o dinheiro que possuíamos. Essa foi a taxa imposta por sermos cristãos, disseram. Meu filho de seis anos tem dificuldade de audição e eles ainda roubaram as pilhas do seu aparelho auditivo. Você pode imaginar que, quando protestei, os homens de barba me ameaçaram com metralhadoras pesadas? E não é difícil imaginar o que aconteceria em seguida”, diz ele.

Escapou, assim, somente com a sua vida e a de sua família – esposa e três filhos pequenos – que encontraram refúgio em Erbil, capital da região autônoma curda, no norte do Iraque. Cidade situada há pouco mais de duas horas de carro de Mossul. “Nós tivemos que dormir ao relento; havia muitos refugiados… A Igreja supriu nossas necessidades mais básicas, como arroz e outros alimentos. Porém, quando Erbil também ficou sob a ameaça do Estado Islâmico, eu só queria sair do Iraque”. Raed teve de fazer um empréstimo para financiar a viagem de sua família para fora do país. O destino era o país vizinho:Jordânia. Somente dia 18 de agosto é que chegaram a Amã, capital do país. “Eu sou muito grato ao Rei da Jordânia por nos aceitar. Aqui, pela primeira vez, nos sentimos seguros”.

Assim como a família de Raed, o padre Khalil Jaar abriga cerca de 100 refugiados iraquianos em sua comunidade, em Amã, desde meados de agosto. Colchões e malas dos recém-chegados são empilhados no salão paroquial. Todos vieram de Mossul ou de seus arredores.

Não é a primeira vez que refugiados batem à sua porta. O padre católico dá abrigo aos cristãos oprimidos no Oriente Médio há anos. “Primeiro vieram os iraquianos após 2003; em seguida, os sírios que tentam fugir da guerra de sua terra natal; agora uma nova onda de cristãos iraquianos está chegando aqui. Nosso rei aceitou provisoriamente cerca de 500 famílias cristãs do Iraque. Se tudo correr bem, cerca de 1.500 novas famílias também irão conseguir”, diz o religioso. “Essas pessoas estão totalmente exaustas. Os idosos só querem dormir. As mulheres e as crianças choram muito. Suas experiências foram dramáticas e estão completamente traumatizados. Uma jovem me disse em lágrimas o que ela teve que assistir enquanto um homem do Estado Islâmico arrancou o brinco de ouro da orelha de uma menina de dois anos de idade, gritando: ‘Isso pertence ao Estado islâmico.’ Naturalmente as pessoas estão marcadas por isto. As crianças choram quando ouvem os aviões do aeroporto próximo da paróquia. Eles pensam que são bombardeiros”.

A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) apoia o padre Khalil e seu trabalho há muitos anos. Também hoje a AIS não o deixará sozinho em sua tarefa. “Eu tento apoiar o povo, não só em termos de suas necessidades materiais. Estou interessado em dar-lhes força psicológica. Tentamos dar distrações às crianças, levando-as a uma piscina ao ar livre, por exemplo. Mas acima de tudo eu gostaria de fortalecê-los em sua fé. Esta é a hora de mostrar que somos pastores que cuidam do rebanho de Cristo”. Padre Khalil exorta também aos fiéis de sua paróquia para serem generosos com os recém-chegados. “Em cada Missa, prego que estes são nossos irmãos. As pessoas devem voltar a considerar se eles realmente precisam de todas as coisas que eles têm e se eles poderiam compartilhá-las com os refugiados. E o povo ajuda”, diz o padre com gratidão. “E sempre se pode dar um sorriso”.

Padre Khalil, porém, está pensando além da primeira ajuda de emergência. Os refugiados, provavelmente, terão de ficar na Jordânia por um longo tempo antes que possam retornar ao Iraque, ou – como a maioria quer – migrar para o Ocidente. “As pessoas precisam de cuidados de saúde e as crianças devem ir à escola. Como Igreja, temos de confiar em nossos próprios recursos. Não é fácil gerenciar todas essas coisas. Mas a Providência virá em nosso auxílio, como já aconteceu no passado”.

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Um comentário

  1. Eduardo 12 de setembro de 2014 at 23:01 - Responder

    Nem mesmo na Jordânia haverá segurança, caso os criminosos e assassinos do ISIL não forem exterminados.
    O avanço e as atrocidades praticadas por esses bandidos so tem paralelo na história das barbáries. Os EUA e seus aliados Ocidentais tiveram grande responsabilidade por deixa-los ir muito longe. É importante deixar claro, que todos os atos terroristas praticados no Oriente Médio e fora dele, tem as mãos sujas da KGB, a polícia secreta comunista, que contando com seus aliados ideológicos infernais do Ocidente, financiam e promovem a destruição da Civilização Ocidental e a cultura Greco-Romana-Judaico-Cristã.

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