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Colômbia: uma história de perdão sem limites

16 de agosto de 2018

Pastora Mira García se tornou uma das mulheres de fé mais conhecidas da Colômbia, graças a seu exemplo de amor cristão e perdão mesmo diante do ódio e da violência; em uma nação que ainda luta contra as consequências de décadas de violência implacável.

Nos últimos 60 anos, a Colômbia tem sofrido com lutas armadas entre guerrilheiros marxistas, tropas governamentais e milícias de extrema direita. Em 2016, porém, se estabeleceu um questionado acordo de paz com o principal grupo de guerrilha do país; desde então, estima-se que houve 900 mil assassinatos e que 7 milhões de colombianos se refugiaram em razão dos conflitos. A violência e a inimizade ainda estão presentes em muitos corações.

Em setembro de 2017, quando o Papa Francisco visitou a Colômbia, Pastora foi escolhida para dar seu testemunho de comprometimento com o mandamento de Jesus “Amai-vos uns aos outros”. Ela conta sua história para a Fundação Pontifícia ACN; uma organização que desde a sua origem promove a reconciliação e o perdão:

História marcada pela dor

“No dia 4 de abril de 1960, meu pai, Francisco Mira, foi morto por adversários políticos. Eu tinha apenas 9 anos, quando eu e meus 8 irmãos fomos obrigados a presenciar seu assassinato. Eles empurraram minha mãe para o lado e então atiraram nele; em seguida o decapitaram na nossa frente”.

“Em 1999, enquanto militantes de uma das facções do conflito derrubavam a porta dos vizinhos, minha mãe teve um ataque cardíaco e morreu”.

“Em 2001, minha filha Paola com minha neta de 5 anos estavam a caminho de uma escola rural quando foram raptadas por um grupo armado. Dois dias depois, devolveram a menina. Toda a família, então, entrou como em uma noite escura, se perguntando onde estaria minha filha Paola. Somente 7 anos depois, conseguimos encontrar seu corpo. Durante todo esse tempo, vasculhávamos os campos, subíamos e descíamos montanhas. Insisti, inclusive, que trouxessem equipes para detectar minas, de modo que conseguíssemos realizar a busca em segurança”.

“Meu irmão mais novo também foi sequestrado em uma rodovia. Tanto ele como as pessoas que o acompanhavam na viajem não foram encontradas”.

“Em maio de 2005, um grupo armado ilegal sequestrou meu filho de 18 anos durante 15 dias. Em seguida, o mataram e atiram seu corpo pela rua. Nesse momento, então, eu disse: ‘Senhor, eu o devolvo a ti”. Embora nem todos consigam ter ensino superior, todos nós cursamos a ‘Universidade da Vida’ “.

Troca da vingança pelo perdão

“Antes da morte na minha mãe, eu trabalhava em um bairro onde escutei o nome do assassino do meu pai. Eu então perguntei à minha mãe se esse era mesmo o homem que havia matado o papai, e ela me respondeu: ‘Sim, minha filha, mas nós não temos o direito de fazer mal a ele’. Levei bastante tempo investigando. Quando, por fim, cheguei na casa dele, em um local muito distante, não encontrei um homem, mas um resto de gente, um ser humano desfigurado”.

“Teria sido muito fácil, dadas as circunstâncias em que ele vivia, lhe dar um pedaço de pão envenenado ou usar outro mecanismo para acabar com a sua vida; pela graça de Deus, porém, minha mãe tinha dito aquilo para mim. Me derramei em lágrimas no caminho de volta e me decidi a visitá-lo com frequência, junto a algumas pessoas que já realizavam visitas a doentes, para ajudar na sua recuperação, levando comida e roupas. Fizemos isso durante muito tempo”.

“Eu aprendi uma lição muito importante. A mãe do assassino do meu pai perguntou a ele um certo dia: ‘Sabe quem é essa moça que tem cuidado de você? Ela é uma das muitas crianças que você tornou órfãs. Ela é a filha de Pacho Mira”. Nunca pude olhar de novo nos seus olhos. Entendi, então, que a culpa é pior que a dor”.

Diante de mais uma grande dor

“No dia 19 de maio de 2005, diante da sepultura no meu filho, senti vontade de olhar para cima e vi uma escultura que representava a ‘Pietá’ de Michelangelo. Disse, assim, para a imagem: ‘Mãezinha, me perdoa por chorar por meu filho, enquanto eu deveria manter a calma por ter tido a graça de ser mãe’ “.

“Três dias depois, no caminho para casa, vi um jovem que fazia parte de um dos grupos armados ilegais. Ele estava ferido e chorava de dor; o levamos, então, para casa. Ele estava faminto; lhe dei algo para comer e café, uma bermuda e uma camisa que havia sido do meu filho. Além disso, veio uma amiga que era enfermeira e limpamos a ferida do menino”.

“O jovem deitou na cama do meu filho e, ao ver as fotografias dele na parede, perguntou: ‘Por que estas fotos desse cara que matamos faz poucos dias?’. Todas nós, minhas filhas e eu, ficamos atônitas, enquanto o jovem chorava e falava. Supliquei assim ao meu querido Deus que eu não tivesse sentimentos de uma mãe e nem o ouvisse com ouvidos de mãe; pedi que Ele me ajudasse”.

Outro grande gesto de perdão

“Finalmente, disse ao garoto: ‘Esta é sua cama e este é seu quarto’. Ele chorava e falava, como se tivéssemos o espancado. Dei então o telefone para ele e disse: ‘Tem uma mãe preocupada contigo em algum lugar, por favor, ligue para ela”.

“Em seguida, fui falar com as minhas filhas, que me disseram: ‘Mãe, ele é um assassino! Não pode sair vivo daqui!’ Eu respondi, ‘Digam o que querem que eu faça, a única coisa que peço em troca é que me garantam que, depois que eu for uma assassina como ele, meu filho estará sentado aqui com a gente de volta”. Elas então entenderam que não poderia ser ‘olho por olho, dente por dente’ “.

“Eu voltei para onde estava o jovem e lhe disse: ‘Olha, você não pode mais ficar aqui, é melhor que procure um hospital’. Ele assim se foi e no mesmo ano voltou, desarmado e desprotegido. Quando ele vinha me ver, costumava me chamar de ‘mamãe’. No último dezembro ele morreu em um incidente relacionado às drogas”.

“Sua mãe veio buscar o corpo e eu pude ajudá-la a levá-lo para o seu município. Há um mandamento fundamental: ‘Amai-vos uns aos outros’. Senhor, perdoa a quem que tenha me ferido; cura-me de modo que, por meio do seu perdão, eu possa olhá-lo nos olhos como um ser humano com direito a cometer erros, e saber que nos seus erros foi ele mesmo que caiu”.

Semeando a reconciliação na Colômbia

Hoje em dia, Pastora está dedicada a CARE, que significa “Centro de Proximidade para a Reconciliação”. Ela o fundou faz 13 anos para descobrir diferentes formas de promover a reconciliação entre vítimas e assassinos. De fato, Pastora está convencida de que a melhor forma de se chegar à reintegração social é buscando que todos os colombianos saibam o que tenha acontecido com os seus; isso é fundamental para uma cura emocional e espiritual genuína.

Apoio da ACN

A ACN apoia projetos de reconciliação em vários locais do mundo. Desse modo, acaba de ser aprovado um projeto na Colômbia para a reconstrução de uma igreja em Aquitania; uma aldeia rural onde tanto a igreja quanto a casa paroquial foram destruídos pela guerrilha.

Por conta da localização da Igreja, e a existência de bosques nos arredores, casos de violência extrema aconteceram por lá. Além disso, muitas pessoas morreram em razão de enfrentamentos entre os grupos de guerrilha ou mesmo por minas deixadas no solo. Por fim, as pessoas foram abandonando o lugar. À medida que as minas foram retiradas da região e o governo foi retomando o controle, aos poucos os moradores retornaram. Entretanto, a população encontrou somente ruínas; a igreja, inclusive, estava em péssimo estado.

Para que Aquitania volte a ter vida, o pároco local pediu o apoio da ACN para reformar o templo dedicado à Nossa Senhora de Fátima. Certa da contribuição de seus benfeitores, a Fundação Pontifícia prontamente se comprometeu a ajudar.

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Pastora Mira García se tornou uma das mulheres de fé mais conhecidas da Colômbia, graças a seu exemplo de amor cristão e perdão mesmo diante do ódio e da violência; em uma nação que ainda luta contra as consequências de décadas de violência implacável.

Nos últimos 60 anos, a Colômbia tem sofrido com lutas armadas entre guerrilheiros marxistas, tropas governamentais e milícias de extrema direita. Em 2016, porém, se estabeleceu um questionado acordo de paz com o principal grupo de guerrilha do país; desde então, estima-se que houve 900 mil assassinatos e que 7 milhões de colombianos se refugiaram em razão dos conflitos. A violência e a inimizade ainda estão presentes em muitos corações.

Em setembro de 2017, quando o Papa Francisco visitou a Colômbia, Pastora foi escolhida para dar seu testemunho de comprometimento com o mandamento de Jesus “Amai-vos uns aos outros”. Ela conta sua história para a Fundação Pontifícia ACN; uma organização que desde a sua origem promove a reconciliação e o perdão:

História marcada pela dor

“No dia 4 de abril de 1960, meu pai, Francisco Mira, foi morto por adversários políticos. Eu tinha apenas 9 anos, quando eu e meus 8 irmãos fomos obrigados a presenciar seu assassinato. Eles empurraram minha mãe para o lado e então atiraram nele; em seguida o decapitaram na nossa frente”.

“Em 1999, enquanto militantes de uma das facções do conflito derrubavam a porta dos vizinhos, minha mãe teve um ataque cardíaco e morreu”.

“Em 2001, minha filha Paola com minha neta de 5 anos estavam a caminho de uma escola rural quando foram raptadas por um grupo armado. Dois dias depois, devolveram a menina. Toda a família, então, entrou como em uma noite escura, se perguntando onde estaria minha filha Paola. Somente 7 anos depois, conseguimos encontrar seu corpo. Durante todo esse tempo, vasculhávamos os campos, subíamos e descíamos montanhas. Insisti, inclusive, que trouxessem equipes para detectar minas, de modo que conseguíssemos realizar a busca em segurança”.

“Meu irmão mais novo também foi sequestrado em uma rodovia. Tanto ele como as pessoas que o acompanhavam na viajem não foram encontradas”.

“Em maio de 2005, um grupo armado ilegal sequestrou meu filho de 18 anos durante 15 dias. Em seguida, o mataram e atiram seu corpo pela rua. Nesse momento, então, eu disse: ‘Senhor, eu o devolvo a ti”. Embora nem todos consigam ter ensino superior, todos nós cursamos a ‘Universidade da Vida’ “.

Troca da vingança pelo perdão

“Antes da morte na minha mãe, eu trabalhava em um bairro onde escutei o nome do assassino do meu pai. Eu então perguntei à minha mãe se esse era mesmo o homem que havia matado o papai, e ela me respondeu: ‘Sim, minha filha, mas nós não temos o direito de fazer mal a ele’. Levei bastante tempo investigando. Quando, por fim, cheguei na casa dele, em um local muito distante, não encontrei um homem, mas um resto de gente, um ser humano desfigurado”.

“Teria sido muito fácil, dadas as circunstâncias em que ele vivia, lhe dar um pedaço de pão envenenado ou usar outro mecanismo para acabar com a sua vida; pela graça de Deus, porém, minha mãe tinha dito aquilo para mim. Me derramei em lágrimas no caminho de volta e me decidi a visitá-lo com frequência, junto a algumas pessoas que já realizavam visitas a doentes, para ajudar na sua recuperação, levando comida e roupas. Fizemos isso durante muito tempo”.

“Eu aprendi uma lição muito importante. A mãe do assassino do meu pai perguntou a ele um certo dia: ‘Sabe quem é essa moça que tem cuidado de você? Ela é uma das muitas crianças que você tornou órfãs. Ela é a filha de Pacho Mira”. Nunca pude olhar de novo nos seus olhos. Entendi, então, que a culpa é pior que a dor”.

Diante de mais uma grande dor

“No dia 19 de maio de 2005, diante da sepultura no meu filho, senti vontade de olhar para cima e vi uma escultura que representava a ‘Pietá’ de Michelangelo. Disse, assim, para a imagem: ‘Mãezinha, me perdoa por chorar por meu filho, enquanto eu deveria manter a calma por ter tido a graça de ser mãe’ “.

“Três dias depois, no caminho para casa, vi um jovem que fazia parte de um dos grupos armados ilegais. Ele estava ferido e chorava de dor; o levamos, então, para casa. Ele estava faminto; lhe dei algo para comer e café, uma bermuda e uma camisa que havia sido do meu filho. Além disso, veio uma amiga que era enfermeira e limpamos a ferida do menino”.

“O jovem deitou na cama do meu filho e, ao ver as fotografias dele na parede, perguntou: ‘Por que estas fotos desse cara que matamos faz poucos dias?’. Todas nós, minhas filhas e eu, ficamos atônitas, enquanto o jovem chorava e falava. Supliquei assim ao meu querido Deus que eu não tivesse sentimentos de uma mãe e nem o ouvisse com ouvidos de mãe; pedi que Ele me ajudasse”.

Outro grande gesto de perdão

“Finalmente, disse ao garoto: ‘Esta é sua cama e este é seu quarto’. Ele chorava e falava, como se tivéssemos o espancado. Dei então o telefone para ele e disse: ‘Tem uma mãe preocupada contigo em algum lugar, por favor, ligue para ela”.

“Em seguida, fui falar com as minhas filhas, que me disseram: ‘Mãe, ele é um assassino! Não pode sair vivo daqui!’ Eu respondi, ‘Digam o que querem que eu faça, a única coisa que peço em troca é que me garantam que, depois que eu for uma assassina como ele, meu filho estará sentado aqui com a gente de volta”. Elas então entenderam que não poderia ser ‘olho por olho, dente por dente’ “.

“Eu voltei para onde estava o jovem e lhe disse: ‘Olha, você não pode mais ficar aqui, é melhor que procure um hospital’. Ele assim se foi e no mesmo ano voltou, desarmado e desprotegido. Quando ele vinha me ver, costumava me chamar de ‘mamãe’. No último dezembro ele morreu em um incidente relacionado às drogas”.

“Sua mãe veio buscar o corpo e eu pude ajudá-la a levá-lo para o seu município. Há um mandamento fundamental: ‘Amai-vos uns aos outros’. Senhor, perdoa a quem que tenha me ferido; cura-me de modo que, por meio do seu perdão, eu possa olhá-lo nos olhos como um ser humano com direito a cometer erros, e saber que nos seus erros foi ele mesmo que caiu”.

Semeando a reconciliação na Colômbia

Hoje em dia, Pastora está dedicada a CARE, que significa “Centro de Proximidade para a Reconciliação”. Ela o fundou faz 13 anos para descobrir diferentes formas de promover a reconciliação entre vítimas e assassinos. De fato, Pastora está convencida de que a melhor forma de se chegar à reintegração social é buscando que todos os colombianos saibam o que tenha acontecido com os seus; isso é fundamental para uma cura emocional e espiritual genuína.

Apoio da ACN

A ACN apoia projetos de reconciliação em vários locais do mundo. Desse modo, acaba de ser aprovado um projeto na Colômbia para a reconstrução de uma igreja em Aquitania; uma aldeia rural onde tanto a igreja quanto a casa paroquial foram destruídos pela guerrilha.

Por conta da localização da Igreja, e a existência de bosques nos arredores, casos de violência extrema aconteceram por lá. Além disso, muitas pessoas morreram em razão de enfrentamentos entre os grupos de guerrilha ou mesmo por minas deixadas no solo. Por fim, as pessoas foram abandonando o lugar. À medida que as minas foram retiradas da região e o governo foi retomando o controle, aos poucos os moradores retornaram. Entretanto, a população encontrou somente ruínas; a igreja, inclusive, estava em péssimo estado.

Para que Aquitania volte a ter vida, o pároco local pediu o apoio da ACN para reformar o templo dedicado à Nossa Senhora de Fátima. Certa da contribuição de seus benfeitores, a Fundação Pontifícia prontamente se comprometeu a ajudar.

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