Dom Kaigama, Arcebispo de Jos, na Nigéria, fala à Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) sobre a necessidade de colaboração da comunidade internacional contra o Boko Haram.

 

“É preciso que a comunidade internacional pare de pedir apoio e comece a prestar ajuda utilitária à luta contra a violência extremista na Nigéria”, afirma Dom Ignatius Kaigama, um dos mais fortes líderes da Igreja no país e cuja cidade foi abalada com o assassinato de mais de 100 pessoas em ocasião dos ataques de 20 de maio. Crítico das manchetes quem mostram a solidariedade e as declarações de apoio das Nações Unidas e outros, disse que o governo nigeriano necessita urgentemente de mais ajuda externa para neutralizar o Boko Haram.

O Boko Haram, movimento islâmico extremista, é forte suspeito da realização das explosões em um terminal de ônibus e em um mercado próximo, em Jos, na Nigéria, na semana passada, onde pelo menos 118 pessoas foram mortas e 56 ficaram feridas.

Em entrevista à AIS, o Arcebispo de Jos contou seu papel vital na coleta de informações sobre a venda ilegal de armas, contribuindo para a intensificação de controle fronteiriço e outras iniciativas cruciais para cortar as linhas de abastecimento do Boko Haram. “A venda de armas é de grande preocupação, mas a comunidade internacional pode ajudar em vários aspectos importantes. Em suma, o governo precisa de ajuda para cortar os suprimentos e outras formas de abastecimento do Boko Haram”, destaca Dom Kaigama, que também é presidente da Conferência Episcopal da Nigéria.

Referindo-se às muitas manifestações internacionais de solidariedade, especialmente na sequência do rapto de mais de 300 meninas, Dom Kaigama afirma que “toda essa hiperatividade da ONU e de diferentes nações equivale a despejar água em uma cesta. Nós apreciamos a solidariedade de tantos conosco. É realmente ótimo que o mundo inteiro esteja falando sobre isso, mas o que temos de fazer é trabalhar em conjunto para encontrar soluções e colocar a economia e outros interesses de lado”.

Embora crítico dos esforços do governo para combater o Boko Haram, disse queo problema-chave do presidente Goodluck Jonathan foi ter feito “muito pouco, muito tarde” e que agora “não tem capacidade” para lidar com a crise. “O problema é que o governo pensou que não seria necessário aplicar toda sua força para derrotá-los. Todo o dinheiro gasto pelos militares não foi usado corretamente; boa parte do orçamento foi para segurança, mas não vemos os frutos”.

Ao relatar que o ataque do dia 20 é tido como o primeiro grande incidente desse tipo, em Jos, em mais de dois anos, Dom Kaigama comenta que “as pessoas estavam começando a se mover livremente, e sem medo, de um extremo ao outro da cidade. Pensávamos que havia mudado (a violência), e se deparar com isso é muito desmoralizante. É muito trágico e inesperado”.

O arcebispo ainda destacou os objetivos religiosos do Boko Haram. “Mesmo recentemente, as explosões ocorreram em lugares onde os cristãos são maioria. Muitas das meninas sequestradas são cristãs, os ataques em Kano, cidade mais ao norte do país, ocorreram em uma área predominantemente cristã e, em certa medida, isso também aconteceu em Jos. Mesmo agora, (o Boko Haram) é fiel à sua meta de eliminar e destruir o cristianismo no país. A única diferença é que não estamos apenas vendo os cristãos morrendo e sendo sequestrados, estamos vendo ataques também contra os muçulmanos que (o Boko Haram) considera não muçulmanos o suficiente”, conclui.

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