As boas notícias com frequência se perdem na correnteza das histórias chocantes e horrorosas. Apesar disso, as sementes da paz e da reconciliação brotam em muitas partes do mundo. O Padre Werenfried van Straaten, fundador da obra de caridade internacional ACN – Ajuda à Igreja que Sofre, dedicou toda sua vida a serviço da reconciliação. Ele faleceu no dia 31 de janeiro de 2013.

Muitas vezes tudo começa com um gesto de ajuda. O Padre Werenfried, fundador da ACN, seguia o seguinte princípio: “Alguém tem de começar: que sejamos nós”. Quando o Papa João Paulo II pediu a ele em 1991, depois de sua longa experiência como um criador de pontes, para iniciar um diálogo com a Igreja Ortodoxa Russa, ele não se fez esperar para iniciar os trabalhos. Afinal, esta Igreja teve que recomeçar praticamente do zero após décadas de perseguição. Os números falam por si: dos cerca de 60.000 lugares de culto em que a liturgia havia sido celebrada antes da revolução comunista na Rússia, apenas umas 100 estavam abertas vinte anos depois. Nos primeiros dois anos após a Revolução de outubro de 1917, cerca de 15.000 sacerdotes ortodoxos foram executados, ou morreram nas prisões. Quando o Pe. Werenfried já estava com quase 80 anos de idade, ele disse que era preciso apoiar a Igreja Ortodoxa, nossa irmã, depois do colapso do regime comunista, mas não só com belas palavras. Mais tarde ele comentou que esta foi “a última e a maior alegria” de sua vida.

“O ecumenismo dos mártires”, a confissão comum da fé cristã pelos católicos, ortodoxos e protestantes nos campos de concentração e nas prisões da União Soviética, depois da reviravolta política, se transformou num “ecumenismo de solidariedade”. Começou a ser dada ajuda para a formação de sacerdotes e para os barcos-capela – igrejas flutuantes que visitavam vilas sem igrejas nas margens dos rios Volga e Don. Também foram ajudadas iniciativas de mídia para quebrar preconceitos e para informar os fiéis sobre suas respectivas Igrejas. Foram ainda apoiadas obras para o cuidado pastoral dos prisioneiros, os viciados em drogas, bem como o primeiro hospital para crianças em fase terminal. Tudo isso rendeu ricos frutos espirituais.

Numerosas amizades e novas obras se originaram destas iniciativas. A ajuda oferecida não era unilateral, pois na Rússia, os católicos são uma pequena minoria. Os sacerdotes ortodoxos com a mente aberta podem ser uma valiosa ajuda para as comunidades católicas. Sucessivos Papas expressaram o desejo de que esta ajuda seja continuada. Com frequência a desconfiança de uns com os outros se baseia na ignorância e em preconceitos. Assim, é importante conhecer melhor uns aos outros para ser capaz de se aproximar uns dos outros.

O ecumenismo é obra do Espírito Santo. Ele não tem mãos nem pés. Assim, os cristãos precisam ser as mãos e pés do Espírito Santo no mundo”. Com estas palavras o jovem pastor protestante da Bielorrússia, Vladimir Tatarnikov, resumiu o que mais e mais católicos, protestantes e ortodoxos sentem: que a reconciliação não pode ficar só na teoria, mas deve se tornar em algo concreto. Que ela consista em palavras pronunciadas de modo consciente, de feitos que criem fatos, que sejam dados passos para que as pessoas se aproximem umas das outras. Isto, no fundo, é um dom de Deus.

Em muitos países existem hoje grandes iniciativas ecumênicas. Por exemplo, em Lutsk, no noroeste da Ucrânia, um evento beneficente é organizado todo ano. Para esta celebração conjunta, católicos, protestantes e ortodoxos preparam um programa com cânticos de Natal, dança e teatro. A arrecadação é doada a órfãos. O evento é transmitido pela tv estatal. O fato das Igrejas se juntarem para ajudar crianças pobres dá um bom exemplo para as pessoas que nada têm a ver com a fé cristã.

“Não é uma escolha, mas um dever”, é como o Cardeal Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade Cristã, descreve o compromisso com o ecumenismo. Em muitos países a colaboração entre as diferentes denominações religiosas é também uma amarga necessidade, pois onde o ódio domina ela pode salvar vidas se os religiosos se juntarem para advogar a reconciliação e a paz. Na espiral de violência em que a República Centro Africana mergulhou durante 2013/2014, foram as vozes conjuntas dos líderes religiosos católicos, protestantes e muçulmanos que se fizeram ouvir se opondo aos atos de vingança e apoiando a reconciliação e a racionalidade. Foi graças à intercessão conjunta dos representantes das Igrejas e religiões que foi possível evitar massacres em muitos lugares. Um exemplo ocorreu na cidade de Bozoum, onde o Pe. Aurelio Gozzera, carmelita italiano, se juntou com um pastor protestante e um imã muçulmano em janeiro de 2014, para conduzir intensas negociações de paz que, com sucesso, conseguiram a retirada dos rebeldes Seleka, quando era iminente um massacre que faria centenas de vítimas.

Em vista da crescente perseguição aos cristãos, a colaboração está se tornando mais necessária do que nunca. O Papa Francisco disse em dezembro de 2013, numa entrevista ao jornal italiano La Stampa, que em face da perseguição aos cristãos, o ecumenismo era para ele “um assunto prioritário”, pois em vários países “os cristãos estão sendo mortos por usar um crucifixo, ou por possuir uma Bíblia. Antes de serem mortos não se pergunta a eles se são anglicanos, católicos, luteranos ou ortodoxos. O sangue deles se mistura”.

Era desejo de Jesus que todos fossem um. O Pe. Werenfried, fundador da ACN, sempre teve confiança no poder de Deus que abre os corações das pessoas. O desejo de construir pontes e trazer a reconciliação foi a grande missão de sua vida. Dar o primeiro passo nessa direção foi sempre a principal característica da Ajuda à Igreja que Sofre desde sua fundação.

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