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12 milhões de vítimas da guerra por recursos naturais

10 de julho de 2018

Padre Apollinaire Cibaka Cikongo: “O seu país pode ser o inferno, mas ainda é o seu país. Não é fácil ser um padre na República democrática do Congo. Nossa força vem de Deus e da fé”.

Uma nação constituída por vítimas da guerra por recursos naturais, exausta, devastada e destruída. República Democrática do Congo (RDC) é um país enorme, por onde passam vários países para ter acesso a depósitos de minério da forma mais barata possível. É assim que eles justificam as guerras”. Nestes termos explícitos, o Padre Apollinaire Cibaka Cikongo descreve a situação no segundo maior país da África, numa entrevista à Fundação Pontifícia ACN.

Há muitas razões pelas quais o antigo Congo Belga não consegue se recuperar: conflitos étnicos, a pobreza generalizada, guerras sem fim, uma incessante onda de refugiados e um governo que não quer convocar novas eleições; apesar do último mandato ter terminado há mais de um ano. Em todo o mundo, a República Democrática do Congo é um dos países com o maior número de populações refugiadas. De acordo com a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), mais de 4,5 milhões de pessoas deslocadas vivem na RDC e 735 mil refugiaram-se em países vizinhos.

Mas por que não se fala mais sobre isto? Esta é a pergunta que o Padre Apollinaire não para de fazer a si mesmo, enquanto chama a atenção para as mais de 12 milhões de vítimas da guerra – um número maior de vítimas do que em qualquer outra guerra terrível que atualmente se desenrola em outros países. “Aqui é 500 vezes pior do que na Síria”, diz ele – antes de afirmar que “o silêncio encobre a oferta de interesses concretos. O interesse econômico nos depósitos de minério é mais forte do que tudo”.

Silêncio Mundial

“Agora que surgiu um surto de Ebola, a RDC é novamente notícia. No entanto, porque ninguém fala das vítimas da guerra?
É claro que todas as perdas são terríveis, mas de 40 a 50 pessoas podem morrer durante o surto do Ebola. Além disso, as guerras geopolíticas custaram as vidas de mais de 12 milhões de pessoas no meu país. “Centenas de crianças estão morrendo de fome”, continua ele – “Deus está chorando no meu país. Aqui é onde você tem que vir para enxugar Suas lágrimas”.

A República Democrática do Congo é um país pobre, no entanto, possui ricas reservas de minério e esta riqueza tem sido sua maior maldição. “A guerra que se iniciou em Ruanda e se espalhou pela RDC em 1994, é totalmente atribuída aos depósitos de minério. Porque, em termos geológicos, o Congo é um verdadeiro tesouro: a maioria dos minérios necessários aos países de todo o mundo, podem ser encontrados aqui. Se nossa liderança política tivesse sido boa, nós viveríamos muito bem”, lamenta o padre congolês durante a entrevista.

Na contramão deste inferno terrestre, a Igreja Católica é uma das poucas que quebra o silêncio, pois denunciou a situação política e atuou de modo a auxiliar os mais necessitados de assistência. Não somente bispos e padres congoleses, mas também leigos, têm ajudado, mesmo que normalmente à custa de represálias. O padre fala sobre os mais recentes protestos que aconteceram no início deste ano. Como resposta, a polícia fechou igrejas. “Pessoas morreram, mas quase ninguém fala sobre isto. É necessário chamar a atenção para as tragédias que acontecem na RDC” diz Padre Apollinaire.

Ninguém desiste de sua vocação

Padre Apollinaire admite que constantemente teme por sua vida. Outro incidente aconteceu em fevereiro de 2017, quando rebeldes destruíram o seminário e 77 padres que estavam em treinamento tiveram que fugir. Só sobreviveram porque encontraram refúgio em outro lugar. O exército ocupou o prédio por 4 meses. No entanto, ele também se lembra das coisas boas como, por exemplo, quando o seminário pôde ser reaberto meses depois do ataque graças à ajuda nacional e internacional da ACN e de outras organizações. “Nenhum dos seminaristas desistiu de sua vocação. Na verdade, outros onze candidatos chegaram; então são 88 vivendo lá agora”, diz ele.

“Nossa força vem de Deus, da fé. Mesmo assim, apesar de tudo, nós não perdemos nossa fé na humanidade – apesar das atrocidades de que ela é capaz. Seu país pode ser um inferno, mas ainda é o seu país”, conclui.

Apoio incondicional

Padre Apollinaire Cibaka Cikongo estudou filosofia e teologia na Espanha. Menciona encontros com muitas pessoas generosas; muitas ajudam a manter a RDC financeiramente. De acordo com o clérigo, implorar ajuda é parte de seu trabalho – “Não podemos parar, simplesmente nos sentar e fazer nada, porque as pessoas morrerão sem ajuda. Nós pedimos incessantemente a Deus e às pessoas que ajudem nosso povo”.

Ele admite que, assim como em muitos outros lugares, a vida de um padre na RDC não é fácil. O padre vive sob as mesmas circunstâncias que a população. “Há muitas dificuldades: fome, sede, perigos. Como padre e pastor você não pode pensar em si mesmo. Tem que pensar nos outros”. Então, se “alguém escolhe entrar no seminário, ao invés de ir para a universidade e levar uma vida melhor, nós o aceitamos. E o admiramos por causa das coisas de que irá abrir mão. Rezamos para que eles se tornem padres santos, testemunhas do amor de Cristo nas vidas dos outros”.

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Padre Apollinaire Cibaka Cikongo: “O seu país pode ser o inferno, mas ainda é o seu país. Não é fácil ser um padre na República democrática do Congo. Nossa força vem de Deus e da fé”.

Uma nação constituída por vítimas da guerra por recursos naturais, exausta, devastada e destruída. República Democrática do Congo (RDC) é um país enorme, por onde passam vários países para ter acesso a depósitos de minério da forma mais barata possível. É assim que eles justificam as guerras”. Nestes termos explícitos, o Padre Apollinaire Cibaka Cikongo descreve a situação no segundo maior país da África, numa entrevista à Fundação Pontifícia ACN.

Há muitas razões pelas quais o antigo Congo Belga não consegue se recuperar: conflitos étnicos, a pobreza generalizada, guerras sem fim, uma incessante onda de refugiados e um governo que não quer convocar novas eleições; apesar do último mandato ter terminado há mais de um ano. Em todo o mundo, a República Democrática do Congo é um dos países com o maior número de populações refugiadas. De acordo com a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), mais de 4,5 milhões de pessoas deslocadas vivem na RDC e 735 mil refugiaram-se em países vizinhos.

Mas por que não se fala mais sobre isto? Esta é a pergunta que o Padre Apollinaire não para de fazer a si mesmo, enquanto chama a atenção para as mais de 12 milhões de vítimas da guerra – um número maior de vítimas do que em qualquer outra guerra terrível que atualmente se desenrola em outros países. “Aqui é 500 vezes pior do que na Síria”, diz ele – antes de afirmar que “o silêncio encobre a oferta de interesses concretos. O interesse econômico nos depósitos de minério é mais forte do que tudo”.

Silêncio Mundial

“Agora que surgiu um surto de Ebola, a RDC é novamente notícia. No entanto, porque ninguém fala das vítimas da guerra?
É claro que todas as perdas são terríveis, mas de 40 a 50 pessoas podem morrer durante o surto do Ebola. Além disso, as guerras geopolíticas custaram as vidas de mais de 12 milhões de pessoas no meu país. “Centenas de crianças estão morrendo de fome”, continua ele – “Deus está chorando no meu país. Aqui é onde você tem que vir para enxugar Suas lágrimas”.

A República Democrática do Congo é um país pobre, no entanto, possui ricas reservas de minério e esta riqueza tem sido sua maior maldição. “A guerra que se iniciou em Ruanda e se espalhou pela RDC em 1994, é totalmente atribuída aos depósitos de minério. Porque, em termos geológicos, o Congo é um verdadeiro tesouro: a maioria dos minérios necessários aos países de todo o mundo, podem ser encontrados aqui. Se nossa liderança política tivesse sido boa, nós viveríamos muito bem”, lamenta o padre congolês durante a entrevista.

Na contramão deste inferno terrestre, a Igreja Católica é uma das poucas que quebra o silêncio, pois denunciou a situação política e atuou de modo a auxiliar os mais necessitados de assistência. Não somente bispos e padres congoleses, mas também leigos, têm ajudado, mesmo que normalmente à custa de represálias. O padre fala sobre os mais recentes protestos que aconteceram no início deste ano. Como resposta, a polícia fechou igrejas. “Pessoas morreram, mas quase ninguém fala sobre isto. É necessário chamar a atenção para as tragédias que acontecem na RDC” diz Padre Apollinaire.

Ninguém desiste de sua vocação

Padre Apollinaire admite que constantemente teme por sua vida. Outro incidente aconteceu em fevereiro de 2017, quando rebeldes destruíram o seminário e 77 padres que estavam em treinamento tiveram que fugir. Só sobreviveram porque encontraram refúgio em outro lugar. O exército ocupou o prédio por 4 meses. No entanto, ele também se lembra das coisas boas como, por exemplo, quando o seminário pôde ser reaberto meses depois do ataque graças à ajuda nacional e internacional da ACN e de outras organizações. “Nenhum dos seminaristas desistiu de sua vocação. Na verdade, outros onze candidatos chegaram; então são 88 vivendo lá agora”, diz ele.

“Nossa força vem de Deus, da fé. Mesmo assim, apesar de tudo, nós não perdemos nossa fé na humanidade – apesar das atrocidades de que ela é capaz. Seu país pode ser um inferno, mas ainda é o seu país”, conclui.

Apoio incondicional

Padre Apollinaire Cibaka Cikongo estudou filosofia e teologia na Espanha. Menciona encontros com muitas pessoas generosas; muitas ajudam a manter a RDC financeiramente. De acordo com o clérigo, implorar ajuda é parte de seu trabalho – “Não podemos parar, simplesmente nos sentar e fazer nada, porque as pessoas morrerão sem ajuda. Nós pedimos incessantemente a Deus e às pessoas que ajudem nosso povo”.

Ele admite que, assim como em muitos outros lugares, a vida de um padre na RDC não é fácil. O padre vive sob as mesmas circunstâncias que a população. “Há muitas dificuldades: fome, sede, perigos. Como padre e pastor você não pode pensar em si mesmo. Tem que pensar nos outros”. Então, se “alguém escolhe entrar no seminário, ao invés de ir para a universidade e levar uma vida melhor, nós o aceitamos. E o admiramos por causa das coisas de que irá abrir mão. Rezamos para que eles se tornem padres santos, testemunhas do amor de Cristo nas vidas dos outros”.

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