Desde o final de 2017, os leigos na Igreja na República Democrática do Congo protestam contra a situação no país. Obtiveram apoio de muitos setores, tanto dentro quanto fora do país. Dentro do Congo, a Conferência dos Bispos Católicos os apoiou. Mais recentemente, eles também foram encorajados pelo Santo Padre. O pontífice também clamou pelo bem comum de todo o povo congolês. Apesar das novas vítimas da violência do Estado, há um clima de apoio. Outros cristãos e pessoas de outras religiões estão apoiando a causa dos leigos.

Em 25 de fevereiro deste ano, na capital Kinshasa e em outras cidades da República Democrática do Congo, as marchas de protesto pacíficas foram mais uma vez reprimidas.

De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos, houve 149 marchas pacíficas separadas. 66 delas foram reprimidas enquanto ainda estavam dentro dos pátios; 67 foram cessadas com balas e gás lacrimogêneo; e apenas 16 terminaram sem incidentes. O saldo final foi de duas pessoas mortas a tiros; 32 feridos (13 delas com ferimentos de bala); e 76 pessoas presas. A polícia, no entanto, alegou que apenas uma pessoa havia sido morta por uma bala de borracha e cinco feridos.

Esta terceira marcha pacífica em protesto – organizada como as duas anteriores pelo Comitê de Leigos Católicos (Comité laic de Coordination) – pedia que o acordo político de 31 de dezembro de 2016 fosse honrado. No centro do protesto estava a rejeição da violência em todas as formas e da ditadura perpetuadora do regime. Reivindicavam também eleições livres, transparentes e garantias de paz. Além disso,  advertiam que o adiamento das eleições poderia provocar uma grave crise. Isso porque ignorou o cronograma publicado pelo Comitê Eleitoral Nacional Independente. O acordo de Ano Novo de 2016 foi negociado graças à mediação da Conferência Nacional de Bispos do Congo. O acordo foi um marco para a organização de eleições democráticas; já que o mandato constitucional do Presidente em exercício, Joseph Kabila, havia terminado e ele não poderia de candidatar legalmente.

O porquê do papel tão ativo dos leigos na Igreja

O Comitê de Coordenação dos Leigos inspirou-se na mensagem dos bispos congoleses em sua Assembléia Extraordinária de 22 a 24 de novembro de 2017, que declarou: “Permanece firme, povo do Congo; o país está em apuros”.

A declaração dos bispos foi um apelo a todos os cristãos para que “permanecessem firmes e sem medo”. Rapidamente, se tornou o princípio orientador dos leigos em sua decisão de formarem um “comitê coordenador” para a defesa dos ideais democráticos assegurados pelo acordo, como também para a organização de eleições na República Democrática do Congo. A comissão foi fundada com a aprovação do Arcebispo de Kinshasa. A organização é reforçada igualmente pelo documento do Vaticano II, “Lumen Gentium”, sobre o papel dos leigos no mundo moderno.

O comitê trabalha em coordenação do clero em Kinshasa por meio das comissões paroquiais de Justiça e Paz. Além disso, se esforçam para aumentar a conscientização sobre essa responsabilidade dos leigos na Igreja. Seu objetivo também é superar a crise de confiança nos políticos. Pois são muito acusados ​​de inação, fechar negócios, conspirar a portas fechadas, compromissos escusos e corrupção flagrante.

O impacto da oração do Papa pelo país

O apelo do Papa Francisco para um Dia de Oração pela Paz em 23 de fevereiro de 2018, especificamente para o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo, com base em que a paz é essencial para o desenvolvimento, foi calorosamente recebido na imprensa local como “iniciativa vinda de uma grande figura moral”. No entanto, fontes próximas ao presidente Kabila questionaram por que Francisco descreveu a situação na RDC como “grave”. Um porta-voz da oposição saudou, todavia, o desejo de paz expressado pelo papa por sua preocupação com o país. Anteriormente, disse o pontífice: “a oração é capaz de transformar os maus desejos que habitam o coração humano”. Por isso, o Comitê de Coordenação dos Leigos foi justificado em tomar medidas práticas para chamar o estabelecimento do estado de direito na República Democrática do Congo.

Além disso, a oração do papa pela paz foi “uma declaração política importante; promoveu a causa da paz e o fim da violência e do derramamento de sangue”. Violência esta que se espalha como gangrena no país, ou como um vírus no corpo humano.

A nível nacional, a conferência episcopal convocou os fiéis a orarem. Recomendou especificamente a adoração diante do Santíssimo Sacramento; o Rosário – especialmente os Mistérios Dolorosos; jejum e caridade.

Assim, o apoio das conferências episcopais do Níger, Burkina Faso e Madagascar também atesta a força da oração e da crença na paz entre os bispos africanos. Inclusive, desde 23 de fevereiro tem havido uma notável atividade diplomática em Kinshasa, com visitas de presidentes de vários países da África Central e Austral.

Reações de outras religiões

Houve uma notável mudança de atitude, inclusive entre muitas pessoas de outras religiões. O sentimento de intimidação está então começando a desaparecer; mais e mais pessoas estão assim começando a defender seus direitos constitucionais.

Os muçulmanos e os cristãos de outras denominações ficaram de fora da primeira marcha de 31 de dezembro de 2017. Não houve envolvimento, nem declaração da parte deles. No entanto, às vésperas da marcha de 21 de janeiro de 2018, muitos protestantes expressaram seu apoio a essa ação; ao mesmo tempo que muitos cristãos de comunidades evangélicas protestaram ao lado dos católicos, unindo-se à passeata individualmente. Alguns muçulmanos também expressaram apoio, um tanto timidamente, e foram vistos aqui e ali, vestidos com suas túnicas. Estes, inclusive, condenaram a violência contra as marchas anteriores de 31 de dezembro de 2017.

Durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, um pastor protestante convocou seus seguidores a apoiarem a iniciativa do Comitê de Coordenação dos Leigos, dizendo que ele queria ver “paz e respeito do Estado pelos direitos do cidadão”. Ele também se juntou à marcha. Em 21 de janeiro de 2018, o pastor exigiu que o governo respeitasse o acordo de Ano Novo assinado. Apelo semelhante foi lançado em um comunicado do Imam representante da comunidade muçulmana na República Democrática do Congo.

Comunidades se unindo em uma causa comum

As várias comunidades de fé e grupos religiosos se aproximaram recentemente, conscientes de que enfrentam as mesmas realidades em suas cidades e subúrbios.

Muitos estão começando a perceber que a luta pelo respeito da constituição diz respeito a todos. O alto custo de vida, a inflação econômica e a escassez de itens essenciais básicos são coisas que afetam a todos, independentemente da fé religiosa ou da orientação política partidária.

Essa cooperação foi vista, por exemplo, no dia anterior à marcha, dia 25 de fevereiro. A televisão estatal transmitiu uma mensagem, supostamente de um grupo de muçulmanos próximos ao presidente Kabila, pedindo uma contra-marcha contra os leigos católicos. Solicitavam que se reunissem nas avenidas e praças em frente às igrejas mais visíveis. No entanto, o próprio Imam respondeu a um canal de rádio privado negando o relatório e dizendo: “Os muçulmanos não estão organizando nenhuma marcha” e que, pelo contrário, a comunidade muçulmana estava apoiando a iniciativa dos leigos na Igreja Católica.

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